No final do ano passado, o Leo Clube de Coimbra II (LCC) entregou 183 presentes a crianças carenciadas da cidade. Os resultados da iniciativa “Carta ao Pai Natal” foram, recentemente, divulgados pelo projecto, e dão conta de que, entre os pedidos mais comuns, estão prendas relacionadas com a tecnologia.
“Drones, GoPro e jogos para a PlayStation, por exemplo”, conta Inês Carraca, presidente do LCC. Além destes, os mais pequenos têm pedido cada vez mais livros, havendo ainda espaço para os tradicionais brinquedos. No entanto, a responsável salienta que também recebem solicitações mais simbólicas e afectivas. “Este Natal, uma menina pediu uma carta onde lhe dissessem que tinham muito orgulho nela”, adianta.
Todos estes presentes chegam, anualmente, a centenas de crianças pelas mãos de Pais Natais voluntários, que se escrevem na iniciativa “Carta ao Pai Natal”, com o objectivo de levar algum conforto aos mais novos durante a época natalícia. “Em 2024, tivemos 217 Pais Natais voluntários e, em 2023, cerca de 140”, revela Inês Carraca.
Os números revelam uma procura crescente por este tipo de apoio, chegando mesmo a exceder as expectativas. “Tivemos mais inscrições do que necessitávamos (…) A adesão, a procura e o interesse têm aumentado muito, o que nos deixa muito felizes e agradecidos porque, de facto, sem os voluntários não era possível fazer o projecto”, acrescenta.
Devolver a magia do Natal
A “Carta ao Pai Natal” já é desenvolvida pelo LCC há alguns anos. A iniciativa surgiu como uma forma de dar resposta às necessidades de várias casas de acolhimento de crianças e jovens da cidade. “Fomos percebendo que, na época do Natal, as crianças institucionalizadas e vulneráveis sentiam alguma diferença com os seus pares nas escolas”, recorda Inês Carraca. Nesse sentido, “fomos percebendo que podíamos ter um papel activo na diminuição desta discriminação e no aumento da felicidade destas crianças”.
A ideia de dar a oportunidade aos mais pequenos de escrever uma “Carta ao Pai Natal” nasceu com a ajuda de alguns parceiros, nomeadamente, a Associação Académica de Coimbra (AAC). “As instituições foram mostrando disponibilidade para nos auxiliar na divulgação deste projecto (…) e esta actividade foi crescendo”, afirma a responsável. O propósito é simples: devolver a magia do Natal a centenas de crianças. E se, no início, a iniciativa chegou a apenas duas casas de acolhimento, em 2024, foram 9 as que usufruíram destes Pais Natais solidários.
O processo para aceder à “Carta ao Pai Natal” não é complexo. Em primeiro lugar, é necessário identificar parcerias. De seguida, o LCC lança um formulário de inscrição para candidaturas a Pais Natais voluntários. Estas inscrições podem ser realizadas a título individual ou em grupos. Enquanto isto acontece, “nós estamos a recolher as cartas junto das instituições e das casas de acolhimento, que fazem o trabalho de dar as cartas às crianças para preenchimento” descreve a presidente.
O emparelhamento das cartas com os voluntários é, posteriormente, feita pelo LCC. É, assim, distribuída uma carta por Pai Natal. Posto isto, existem pontos de recolha dos presentes, já que a entrega é feita exclusivamente pelo Leo Clube. Em causa estão questões de privacidade e de confidencialidade em relação às crianças. Cada Pai Natal solidário recebe, posteriormente, o feedback do projecto. “Tentamos ao máximo transmitir a mensagem que ficou no ar e mostrar-lhes que tiveram um papel fundamental”, sublinha Inês Carraca.
Comunidade cada vez mais solidária
A “Carta ao Pai Natal” possibilita aos mais pequenos três opções de desejos. “A ideia é que cada uma tenha um nível monetário diferente. Isto é, uma coisa mais barata, outra mais ou menos acessível e, por fim, uma coisa que pode ser um bocadinho mais cara. Depois, depende muito da disponibilidade do voluntário”, salienta a responsável.
A entrega dos presentes é sempre dinamizada pelo LCC, que procura desenvolver várias dinâmicas e momentos de lazer. “Tentamos sempre criar um ambiente que seja mais do que apenas a entrega. Portanto, conseguimos perceber, no imediato, qual é a reacção das crianças. Para além disso, a instituição também nos diz o que achou da actividade”, afirma.
Nos últimos anos, o projecto tem assistido a um aumento da procura por parte da comunidade. Segundo Inês Carraca, “o facto de nós mostrarmos, dentro do que nos é possível, o impacto que a iniciativa tem faz com que as pessoas estejam mais dispostas a colaborar”. Uma colaboração que se estende a outro tipo de actividades, como a recolha de bens.
Iniciado o ano de 2025, o LCC tem já diversas iniciativas em mãos. “Nós temos um plano aberto, ou seja, acontece muito sermos abordados por outras instituições e pessoas com pedidos de ajuda”, refere a presidente. Actualmente, o projecto está a apoiar uma criança com paralisia cerebral que precisa de adquirir um kit de transporte adaptado para a carrinha dos pais.
Por outro lado, o LCC mantém as suas acções de recolhas de bens alimentares para ajudar as famílias conimbricenses. Entre as diversas actividades a serem levadas a cabo estão ainda: a dinamização de momentos festivos e o programa “Cultura para Todos”, em que o intuito é trazer a Cultura a públicos que não têm acesso a ela de uma forma tão directa. Ainda este mês, o projecto vai também fazer uma recolha de sangue, numa parceria com a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC).
Este ano, o LCC vai começar a trabalhar com idosos, prometendo alargar a sua acção para diferentes tipos de público. “O nosso objectivo final é sempre servir a comunidade, seja através de actividades com as crianças, idosos, adultos, pessoas com ou sem deficiência, sem-abrigo, animais ou actividades ambientais. Tentamos ao máximo fazer tudo o que está ao nosso alcance”, conclui Inês Carraca.
Cátia Barbosa
(Jornalista do “Campeão” no Porto)