Coimbra  20 de Março de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Sport Clube Conimbricense: 115 anos de história, conquistas e um futuro risonho pela frente

2 de Fevereiro 2025 Jornal Campeão: Sport Clube Conimbricense: 115 anos de história, conquistas e um futuro risonho pela frente

Na cidade de Coimbra há histórias que transcendem o tempo, unindo gerações em torno de um património comum. Uma dessas histórias é a do Sport Clube Conimbricense (SCC), que celebra, a 3 de Fevereiro, o seu 115.º aniversário. Fundado em 1910, o clube é um marco desportivo e cultural da Baixa da cidade. Para compreender melhor a trajectória desta instituição, o Campeão das Províncias conversou com Zita Alexandre, presidente do clube, e José da Costa, sócio mais antigo e guardião da sua memória.

 

Das origens às conquistas: um percurso exemplar

O SCC nasceu em 1910, numa Coimbra que respirava inovação e dinamismo. José da Costa recorda as primeiras décadas com um brilho no olhar: “O clube começou junto ao caminho-de-ferro, ao pé da ponte. Naquela altura, tinha futebol, basquetebol e até luta livre. Foi pioneiro em tantas modalidades que era impossível não nos apaixonarmos”.

A história desportiva do clube foi marcada por momentos gloriosos, como a conquista do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão de Basquetebol, um feito que José da Costa relembra com orgulho. “Este foi um marco não só para o clube, mas também para o desporto nacional. Mostrámos que o Conimbricense era uma força a ter em conta”.

Mas a evolução não foi isenta de desafios. “O campo de futebol do Arnado deu lugar ao espaço da Palmeira graças ao empenho de sócios como Arlindo Mariano. Ali, nasceu um ringue que se transformou num pavilhão multifuncional. Hoje, continua a ser o coração das nossas actividades”, conta José da Costa.

 

Uma ligação emocional com Coimbra

A relação entre o SCC e a cidade é intrínseca. José da Costa, que entrou para o clube ainda jovem, partilhou como essa ligação se formou: “Na Baixa, onde cresci e trabalhei, respirava-se o espírito do Conimbricense. Os meus patrões eram sócios e campeões e era inevitável envolver-me. Fiz-me sócio por acaso, mas fiquei por paixão”.

Essa paixão reflecte-se na vida quotidiana do clube. “O nosso pavilhão é um espaço de vida e de comunidade. Das 9h00 até à noite, há sempre actividades. Temos um ginásio acessível a todos os sócios, por valores simbólicos, e continuamos a promover o desporto como um veículo de inclusão e bem-estar”, explica Zita Alexandre.

A envolvência com o clube estendia-se para além do desporto. “Os bailes que organizávamos eram verdadeiros acontecimentos. Realizavam-se na Almedina ou no pavilhão e reuniam a fina flor de Coimbra. Eram momentos de convívio e de reforço dos laços comunitários, com música, dança e muita alegria”, acrescenta José da Costa, recordando com carinho os eventos sociais que marcaram uma época.

Mas o Sport era, acima de tudo, um espaço onde o esforço colectivo transformava sonhos em realidade. “O primeiro pavilhão de Coimbra foi construído com o nosso suor. Não havia subsídios europeus, nem grandes apoios financeiros. Cada tijolo representava o trabalho e a dedicação de todos nós”, enfatiza José da Costa.

Zita Alexandre, presidente desde Março, reforça a importância do associativismo para manter o clube vivo. “As lideranças de hoje enfrentam vários desafios, mas tudo vale a pena quando vemos o impacto positivo na comunidade. O nosso objectivo é preservar a história do clube e garantir que continue a ser um espaço de inclusão e celebração”.

A sala museu, recentemente inaugurada, é um testemunho deste esforço. “Foi um trabalho árduo, mas conseguimos resgatar objectos e documentos históricos que estavam esquecidos em caixas ou a caminho do lixo. Hoje, esse espaço conta um pouco da história do Sport e da cidade”, explica Zita Alexendre, agradecendo a todos os que contribuíram para este projecto.

José da Costa também destacou a homenagem a Jorge Manuel Mendes, figura emblemática do clube. “Foi mais do que merecida. Dedicaram-lhe a sala de troféus, um reconhecimento justo pelo impacto que teve no Sport. É importante lembrar aqueles que ajudaram a construir esta história”.

Zita Alexandre destaca a relevância do clube no contexto actual. “Reabrimos o Bar 1910, um espaço pequeno, mas simbólico. É mais um ponto de encontro para os associados e uma forma de manter viva a chama do Sport. Não é apenas sobre o passado, mas também sobre construir um futuro onde o clube continue a ser uma referência”.

José da Costa reflecte sobre a essência do associativismo. “O clube fica, mesmo quando as pessoas passam. Por isso, nunca deixei de ser sócio de nada. São estas instituições que carregam as memórias de uma cidade e moldam a sua identidade”.

 

Comemorar com fado e surpresas 

As celebrações do 115.º aniversário prometem ser memoráveis. No dia 8 de Fevereiro, o clube organiza um jantar comemorativo na sede da Palmeira, um espaço carregado de simbolismo. “Além de apagarmos as velas, vamos recuperar tradições como o fado de Coimbra, que era uma marca do Conimbricense, e ainda temos uma surpresa especial preparada”, confidencia Zita, sem revelar detalhes.

O evento contará com um menu variado, incluindo creme de cenoura, carne à portuguesa e bacalhau com natas, acompanhado de sobremesas e um bolo de aniversário. Para além disso, haverá momentos culturais com fado de Coimbra e outras surpresas. “Queremos que todos se sintam acolhidos, que venham celebrar connosco e que ninguém saia de lá com fome ou insatisfeito”, sublinhou Zita Alexandre, uma das principais responsáveis pela organização do evento.

A presidente reforça a ideia de que esta festa é para todos: “Queremos ver famílias inteiras a celebrar connosco. Sócios pagam apenas 15 euros, e para não sócios o custo é de 20 euros. É um valor simbólico, pois o que importa é estarmos juntos”.

Trabalho social e desportivo: o coração do Sport Clube

Mais do que um clube desportivo, o Sport Clube Conimbricense tem sido uma âncora para muitas crianças e famílias da cidade. A escolinha de futsal é um exemplo inspirador deste trabalho, recebendo dezenas de crianças, muitas delas oriundas de famílias vulneráveis. Cerca de 75% dos jovens não pagam qualquer mensalidade, uma decisão consciente da Direcção para garantir que todos tenham acesso ao desporto e aos seus benefícios.

“Temos crianças que aguardam ansiosamente pelo dia do treino, não só para praticar desporto, mas também para receber carinho, atenção e, muitas vezes, uma refeição”, partilhou Zita Alexandre. Durante os treinos, às terças e sextas-feiras, e nos jogos aos sábados, as crianças têm acesso a um ambiente acolhedor, onde são acompanhadas em todas as dimensões: desportiva, social e escolar. “Quando percebemos que algo não está bem, ligamos aos pais para entender o que se passa. Queremos garantir que todas têm o apoio necessário para prosperar”, acrescentou.

Desporto adaptado e inclusão

Outra área de destaque é o desporto adaptado, que reflecte a visão inclusiva do clube. Com uma equipa diversa e multicultural, composta por atletas de várias nacionalidades, o Sport Clube Conimbricense promove um ambiente de união e partilha. Além disso, o clube mantém uma preocupação constante em melhorar as condições de treino e as infra-estruturas, mesmo enfrentando dificuldades financeiras.

“Recentemente comprámos três novas máquinas para o ginásio, mas tivemos de parcelar o pagamento, porque não temos liquidez suficiente”, explicou a presidente, reconhecendo os desafios de manter uma instituição como o Sport, mas enaltecendo o esforço colectivo e o apoio da comunidade, como o da União de Freguesias de Coimbra, que tem sido fundamental.

Desafios e apelos à comunidade

A preservação do histórico edifício na Baixa de Coimbra é outro ponto sensível. Com um orçamento de 15 mil euros necessário para a recuperação do chão, o clube apela à colaboração de empresas e cidadãos que possam contribuir. “Qualquer ajuda, por menor que seja, é valiosa. Juntos, conseguimos alcançar muito mais”, destacou a presidente.

Os sócios também podem usufruir de várias vantagens em parcerias com estabelecimentos locais, como restaurantes e ópticas, fortalecendo a ligação entre o clube e o comércio tradicional da Baixa.

Com uma história rica e um papel fundamental na vida de muitos conimbricenses, o SCC é mais do que uma instituição desportiva; é uma segunda casa para quem lá entra. “Um dos jovens disse-me recentemente que sou como uma mãe para ele. Isso toca o coração e reforça a nossa missão”, partilhou Zita Alexandre.

A celebração do aniversário será um momento especial para honrar este legado e reforçar os laços com a comunidade. Todos são bem-vindos, seja para participar no jantar, assistir às actuações culturais ou simplesmente apoiar esta histórica instituição.

Olhar para o futuro com confiança

Com uma história tão rica, o SCC Conimbricense encara o futuro com responsabilidade e ambição. “O nosso desafio é manter a relevância e continuar a formar atletas e cidadãos. Queremos ser uma referência, tanto no desporto como no impacto social”, afirma Zita Alexandre.

José da Costa partilha este optimismo: “O que me orgulha não são apenas os troféus, mas a persistência do clube em manter-se fiel às suas raízes. Tenho a certeza de que o Conimbricense continuará a ser um pilar de Coimbra por muitos anos”.

A celebração dos 115 anos do SC Conimbricense não é apenas um momento de festa, mas um testemunho vivo de dedicação, paixão e legado. Parabéns ao clube que, geração após geração, continua a escrever uma história que honra Coimbra.

Lino Vinhal/Joana Alvim