Coimbra  15 de Março de 2025 | Director: Lino Vinhal

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Com a saída de Mário Esteves a Associação Figueira Sabor a Mar pode ficar à deriva

1 de Fevereiro 2025 Jornal Campeão: Com a saída de Mário Esteves a Associação Figueira Sabor a Mar pode ficar à deriva

Na intervenção de Mário Esteves, presidente da Figueira com Sabor a Mar, na Gala de encerramento dos festivais que decorreram em 2024, ficou a mensagem de que vai sair e a Associação pode ficar à deriva.

A Gala decorreu no Casino Figueira, com o jantar do 13.º aniversário da Associação, os agradecimentos, a entregas de certificados aos patrocinadores e, ainda, aos 18 restaurantes aderentes do 33.º Festival Gastronómico. Os Prémios Gourmet 2024 foram entregues à Aliança Vinhos de Portugal SA (representada por Nuno Braga) e ao Coliseu Figueirense, na pessoa do seu administrador, Miguel Amaral.

Nesta noite a Figueira com Sabor a Mar prestou um tributo de gratidão e reconhecimento ao Hotel Wellington, na pessoa do seu director Jorge Simões que, há mais de uma década também é o presidente da Assembleia-Geral da Associação.

A fadista Adelaide Sofia assinou momentos de animação musical, acompanhada por Pedro Amendoeira e Pedro Pinhal.

O empresário e armador de pesca figueirense António Miguel Lé subiu a palco para destacar “o trabalho árduo que promove o nosso porto” por parte da Associação aniversariante, no sentido de assegurar “tradições antigas e culturas nobres”.

“A Figueira tem gente de muita qualidade (…), não recebemos conselhos, mas damos o exemplo”, disse António Miguel Lé deixando um apelo: “vamos divulgar o que é nosso, vamos promover o nosso comércio tradicional, vamos muscular o tecido empresarial do concelho”.

A Associação Figueira Com Sabor a Mar elege uma nova Direcção em Março próximo, oportunidade neste jantar de aniversário para Mário Esteves declarar o seu afastamento das funções directivas e deixar alguns “alertas à navegação”.

O presidente da Associação salientou os 60 dias dedicados à gastronomia figueirense, promovendo peixes e mariscos da costa, produtos endógenos como o arroz carolino do Baixo Mondego, o sal marinho e a salicórnia, mas também na doçaria as Brisas da Figueira da Foz, “contribuindo assim para o desenvolvimento económico local e regional, posicionando a Figueira da Foz nas rotas gastronómicas”.

Reconhecendo “o esforço que a associação gastronómica Figueira com Sabor Mar tem feito ao longo destes 13 anos”, Mário Esteves considerou que “não nos sentimos totalmente realizados”.

“Este ano contabilizámos cerca de 25 mil refeições servidas, no entanto a nossa percepção é que estes números ficam aquém da realidade”, considerando que os números devem rondar os 80 mil visitantes.

Neste sentido, o responsável lamentou o conhecido problema da falta de mão-de-obra especializada neste sector de actividade, “contribuindo para uma prestação de servido de baixa qualidade”. E, neste campo, invocou “relatos de deficientes serviços, se não mesmo maus”, dando como exemplos “redução de horários e fecho fora do normal funcionamento” o que, disse, “coloca em causa o turismo de qualidade que pretendemos atrair”.

Nesta que foi provavelmente o último discurso enquanto dirigente, Mário Esteves lamentou o afastamento e falta de interesse de alguns dos empresários da restauração, adiantando que “a publicidade dos três últimos eventos foi suportada por alguns dos nossos patrocinadores. Os três últimos almoços de apresentação dos festivais gastronómicos foram suspensos devido à falta de vontade de alguns colegas de os realizarem”, lembrando que parte dos produtos a confeccionar, vinhos e sobremesas, eram oferecidos pelos patrocinadores, além de que associação ainda contribuía com 200 euros.

Mário Esteves lamentou, ainda, a falta de apoios na promoção e divulgação dos vários certames gastronómicos que a associação desenvolve ao longo do ano, muito em concreto por parte da autarquia figueirense.

“Terminamos este mandato com o orgulho de tudo ter tentado para dignificar a restauração e o Turismo da Figueira da Foz. Saímos de consciência tranquila” – referiu, lamentando ainda que nestes 13 anos a “promessa” de uma sede nunca se tenha concretizado e que “os apoios foram a edição de publicidade”, mas que “neste momento é zero”. “Tudo isto, conjugado com as festas ou festivais que se realizam com o apoio camarário, festa da sardinha, feira das freguesias”, acrescentou, garantindo que “compreende a desmotivação dos associados, pois como diz o ditado popular, uns são filhos, outros são enteados”.

Para Mário Esteves, “por este país fora, mais concretamente na Região Centro, vêem-se municípios a promover a restauração dos seus territórios, coisa que em nosso entender, não vimos no nosso concelho (…). Há dois anos a esta parte o Município cortou-nos a publicidade, nomeadamente flyers e cartazes e a utilização de 4 raquetes espalhadas pela cidade onde anunciávamos os nossos festivais”.

“Saio com o dever cumprido, que desde a primeira hora foi a promoção da gastromania e o turismo figueirense. Se não fossem os nossos patrocinadores, que desde a primeira hora acreditaram em nós, nunca teríamos chegado tão longe”.

Manuel Domingues, em representação da Câmara Municipal da Figueira da Foz e em jeito de resposta a Mário Esteves, recordou o apoio que a autarquia presta à hotelaria, restauração e comércio, nomeadamente na organização de grandes eventos que trazem à cidade milhares de pessoas. Entre eles, o “Figueira Champions / Casino Figueira”, o recente campeonato nacional de estrada/Corrida dos Reis, ou mesmo o Carnaval e que, considerou, “têm permitido à restauração trabalhar”.

“Quanto aos apoios, por vezes o indirecto é mais importante que o directo e isso temos feito e não é descurar aquilo que temos trazido para a Figueira da Foz”, salientou o vereador.

“Há uma promessa para a sede desde a formação da Associação, mas só estamos cá há 3 anos. Quem esteve, esteve, e estamos cá para resolver os problemas e eu farei chegar ao executivo municipal essa referência”, garantiu o autarca.

“Sei o que o trabalho que os restaurantes fazem não é fácil, mas têm estado a divulgar os produtos endógenos. É importante a bem da restauração darmos primazia e divulgar o que é nosso” – referiu Manuel Domingues.

A noite contou ainda com um agradecimento, pela voz de Carlos Sousa, a todo o trabalho desenvolvido na restauração em geral e na Associação em particular, por parte de Mário Esteves.

Na sua opinião e de alguns empresários do sector, o Prémio Goumert deveria, por justo mérito, ser entregue a Mário Esteves, até “na ausência de reconhecimento por parte das entidades públicas, incluindo a nossa autarquia, para com a nossa Associação”, recordando que “são 60 dias de festivais ao longo de vários anos a promover o que de melhor se faz na Figueira da Foz. São décadas a promover a gastronomia da Figueira da Foz. Até parece que a Figueira Com Sabor a Mar não faz falta. Mas o dia em que a Associação parar a Figueira da Foz fica mais pobre e vai-se notar. Juntos seríamos mais fortes e se tivéssemos o acolhimento por parte da Câmara, muito mais teríamos feito. O que vemos à nossa volta são os municípios a chamar os restaurantes para promover o seu território e nós nunca fomos ‘adoptados’ pelo Município. Nunca pedimos subsídios, mas sim incentivos”.

A noite terminou com uma salva de palmas dedicada a Mário Esteves e o tradicional “Parabéns a Você” e corte de bolo de aniversário.