Coimbra  18 de Março de 2025 | Director: Lino Vinhal

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“Champions” volta a projectar a Figueira da Foz para o mundo

1 de Fevereiro 2025 Jornal Campeão: “Champions” volta a projectar a Figueira da Foz para o mundo

A 15 e 16 de Fevereiro, a 3.ª edição da Figueira Champions / Casino Figueira (FC/CF) estará na estrada, pronta para voltar a mostrar ao mundo inteiro não apenas alguns dos melhores ciclistas da actualidade em acção, mas também a inebriante beleza do concelho figueirense.

A pouco mais de 15 dias do arranque dos dois dias de animação sobre rodas (o primeiro é um Granfondo, um evento aberto a ciclistas amadores), o Campeão das Províncias falou com Rui Ramos Lopes, director da organização e mentor, desde a primeira hora, da prova que voltou a colocar a Figueira da Foz no mapa dos grandes eventos desportivos mundiais.

Campeão das Províncias [CP]: Quando é que pensou na prova pela primeira vez?

Rui Ramos Lopes [RRL]: Foi há muitos anos, quando o Dr. Santana Lopes era presidente da Câmara de Lisboa, e lhe sugeri que aquela autarquia apoiasse uma equipa de ciclismo. Porque o maior evento desportivo mundial anual, com maior audiência, é o Tour de France. Jogos Olímpicos, Europeu ou Mundial de Futebol não são anuais. Na altura a ideia não avançou mas, quando vim com o Dr. Santana Lopes para a Figueira, queríamos um evento que a projectasse para o mundo e voltei à carga, até porque entretanto a minha vida profissional tinha passado pelo Algarve, estive lá a viver e a trabalhar na área hoteleira, e tinha visto o impacto da Volta ao Algarve. Só tínhamos uma hipótese para conseguir, junto da UCI (Union Cycliste Internationale), que a prova integrasse o calendário mundial: era conseguir uma data anterior à Volta ao Algarve e apresentar um projcto sólido. E foi o que fizemos. Entrámos com uma pontuação 1.1 e no segundo ano, portanto em 2024, subimos logo ao escalão UCI ProSeries, sendo que o escalão máximo é o World Tour.

[CP]: Viu logo o potencial da Figueira para o evento?

[RRL]: A Figueira tem um potencial enorme para a prática de vários desportos. E há outros grandes eventos, como o Rali de Portugal, mas que, lá está, é Rali de Portugal e passa na Figueira, enquanto esta prova é na Figueira da Foz e tem outras vantagens: é um desporto amigo do ambiente, passa por todas as freguesias, promovendo a coesão territorial, e fá-lo a baixa velocidade, logo veem-se as paisagens e promove-se o envolvimento das pessoas e das instituições, seja dos presidentes das juntas, que são uma peça fundamental e têm sido excepcionais, seja, por exemplo, das escolas de samba ou ranchos folclóricos. Há uma grande vontade de todos em mostrar ao mundo o que de melhor temos, as paisagens deslumbrantes, as tradições, a alegria.

[CP]: E além da FC/CF, propriamente dita, há outros eventos pensados para ‘atletas’ não profissionais…

[RRL]: Sim, desde logo o Granfondo, que nas edições anteriores contou com cerca de 1.300 participantes, mas este ano poderá atingir os 1.500 e que permite a amadores fazer parte do percurso que, no dia seguinte, vai ser percorrido por alguns dos melhores ciclistas profissionais do mundo, como os portugueses João Almeida, António Morgado e Nelson Oliveira, que correm na World Tour, ou o francês Julian Alaphilippe, os belgas Ilan Van Wilder e Dylan Teuns e ainda o dinamarquês Kasper Asgreen, qualquer um deles forte candidato a vencer a prova. O Granfondo tem 129 km e há ainda uma prova de médio fundo, de 77 km. As inscrições fecham a 5 de Fevereiro, por isso sugiro aos interessados que não percam tempo. Há uma prova para os mais pequeninos, gratuita e com direito a um kit de participação, que visa estimular o desporto desde tenra idade e – por que não? – a paixão pelo ciclismo. E temos a prova Heróis da Estrada, que são as velhas glórias do ciclismo que entram em cena depois do arranque dos atletas principais. No ano passado foram cerca de 100, veteranos como o Venceslau Fernandes, que já não correm profissionalmente e vêm participar com as suas camisolas antigas e lembrar, num percurso mais curto, os seus dias de glória.

 [CP]: Com tudo isto pretende-se dilatar o impacto da prova na economia local, imagino…

[RRL]: Claro que sim. Repare, vamos ter uma prova onde vão estar 10 das 18 equipas World Tour, quando o máximo permitido seriam 13. Cada equipa tem sete atletas, fora o staff, que em alguns casos inclui massagistas, mecânicos, médicos e até cozinheiros, atingindo facilmente 15 a 20 pessoas por equipa. A Região Centro é das que tem maior tradição e mais amantes do ciclismo, e é muito mais fácil e barato vir à Figueira ver a FC/CF e/ou participar no Granfondo, do que ir ao Algarve para uma prova que dura cinco dias, não é uma prova clássica de um dia, como a nossa. Segundo um estudo da Cision, no ano passado, o investimento da autarquia, que rondou os 230.000 euros, teve um retorno estimado 1,6 milhões de euros, e muito desse dinheiro fica logo na economia local, porque é a organização que paga os hotéis, a alimentação das equipas e até a taxa turística, já que nem isenção pedimos. A taxa de ocupação hoteleira em 2024 andou pelos 80%, e agora, se quiser reservar um quarto duplo para as datas da prova, num hotel da Figueira, já vai ter dificuldade em encontrar algo abaixo dos 100 euros/noite, o que é muito bom. Até porque as pessoas não pagam para ver o evento, logo têm mais para gastar no comércio, na restauração ou na hotelaria.

[CP]: Isto sem falar na projecção mediática…

[RRL]: Tem ideia quanto nos custaria mais de duas horas de transmissão em directo, em canal aberto, na Eurosport, mais duas horas de transmissão em diferido e mais uma hora de highlights (destaques)? Há transmissão na Sport TV, em Portugal, mas vamos ter a Figueira a ser vista em mais de 60 países europeus, falada em mais de 17 idiomas, ah, e vamos ter o speaker oficial da Tour de France como narrador da FC/CF, o reputado Marc Chavet, o que vai conferir ainda mais prestígio à prova.

[CP]: Como tem sido a adesão dos figueirenses? E o que é que se deve ou não deve fazer quando se está a assistir ‘in loco’ à prova?

[RRL]: A adesão é fantástica, só estando lá para sentir a emoção que se vive. E já vamos com mais de 2.400 voluntários nestas três edições, pessoas de todas as idades, é maravilhoso. O que é que se deve fazer? Seguir sempre as indicações dos voluntários e, claro, dos agentes de autoridade, e vão ser muitos, não apenas da Figueira, PSP e GNR, mas também do resto do país. Aliás, é também aí que a organização gasta muito dinheiro, na segurança, porque, para além dos riscos para a integridade física de atletas e assistência, qualquer coisa que corra mal pode colocar em risco tudo o que fizemos até aqui, pois há penalizações para a prova, e estamos a falar de uma prova que começou no 146.º lugar do ranking das provas internacionais e, na sua segunda edição, saltou logo para o 72.º lugar, não podemos cometer erros. Por isso, nunca, mas nunca, tocar nos ciclistas, e ter o cuidado de manter restringidos, durante a prova, animais, como cães. Ter muito cuidado com as crianças, obviamente, e por favor entender que estes dois dias são importantes para a Figueira da Foz, e que por isso vão existir restrições à circulação e ao estacionamento, para as quais pedimos a melhor colaboração de todos, garantindo que vai valer a pena fazer uns metros a pé para ver a nossa Figueira da Foz filmada, de todos os ângulos, linda, a ser transmitida ao mundo, graças – e isto muitos não sabem – a um complexo sistema que envolve, para além de moto-câmeras, drones e uma grua, um avião e um helicóptero, que transmitem o sinal a um satélite, tudo para assegurar a maior qualidade possível.

[CP]: Até ao dia da prova, onde é que é possível acompanhar as novidades da FC/CF?

 [RRL]: Nas nossas páginas do Facebook, Instagram e LinkedIn, ou no site, em www.figueirachampionsclassic.com, onde podem conhecer as equipas e também os patrocinadores, sem os quais nada disto seria possível. Temos também as tertúlias FCC/CF, que iniciámos no Casino Figueira, que é o nosso name sponsor, mas que entretanto, a pedido das Juntas de Freguesia, já descentralizámos, para prolongar o evento ao longo do ano. A última tertúlia deste ciclo vai ser no Casino, a 4 de Fevereiro, às 22h00, e vai dar palco àquelas pessoas que, no Município, mais têm trabalhado no terreno para tornar o sucesso desta prova possível, o Eng.º Valter Rainho, o Emanuel José e o Dr. Nuno Rola, e como moderadora a comentadora da CMTV, Filipa de Castro, e vai ser transmitida, como as anteriores, pela LocalTv, que também vai transmitir o Granfondo. Estão todos convidados.

[CP]: Uma última questão: para quando mulheres no Figueira Champions?

[RRL]: É um objectivo da UCI, e também nosso, é um caminho que está a ser feito. No Granfondo já temos muitas mulheres, felizmente, e estou certo de que, mais ano menos ano, teremos mulheres a competir ao mais alto nível na Figueira da Foz, não há nenhuma razão para isso não acontecer.

ENTREVISTA: Andreia Gouveia

Publicada na edição em papel do Campeão das Províncias de 30 de Janeiro de 2025