Um estudo realizado nos últimos dez anos identificou 248 casos de infecções associadas a cuidados de saúde pediátricos. A investigação incluiu todas as crianças e jovens até aos 18 anos admitidos no Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos (SCIP) do hospital pediátrico da Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra, entre 1 de Janeiro de 2014 e 31 de Dezembro de 2023, com diagnóstico de Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS).
“Registaram-se 3.913 internamentos, tendo sido identificados 248 casos de infecções adquiridas no serviço, correspondendo a uma prevalência de 6,3%”, dá conta o estudo. Esta percentagem vai ao encontro dos números relatados por outros SCIP internacionais e é inferior “ao descrito pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (12,7%) para serviços de cuidados intensivos de adultos”.
Na altura da entrada nos SCIP, 55,2% dos doentes tinham menos de um ano de idade, estando a média situada nos 6,3 meses. Em termos de antecedentes pessoais e patológicos, a análise destaca “a doença cardíaca, prematuridade e patologia gastrointestinal com necessidade de cirurgia”.
“Os resultados destacaram a susceptibilidade aumentada à infecção em crianças com antecedentes médicos específicos, como patologia cardíaca e perinatal, enfatizando a importância da vigilância e prevenção dessas populações vulneráveis”, sublinha o estudo.
Infecções frequentes
A investigação revela também que, entre as infecções mais frequentes, estão a pneumonia (45,2%) e a bacteriemia (14,5%). A média da duração de internamento foi de 21 dias, “superior ao descrito em outros serviços e países (três a nove dias), e a mediana do tempo decorrido desde a admissão até à identificação de uma IACS foi de 10 dias”, avança ainda. Das 29 mortes registadas, 10 estavam relacionadas com a infecção adquirida em contexto hospitalar.
Além disso, foi ainda verificado um aumento global da resistência aos antibióticos nos últimos cinco anos. Nesse sentido, a análise alerta para a importância de “implementar estratégias eficazes para prevenir e controlar o avanço das bactérias resistentes de forma a garantir a eficácia das terapêuticas actuais e a segurança dos doentes e prevenir uma grande ameaça à saúde pública global”.
Os doentes internados nos IACS apresentam, actualmente, “uma probabilidade duas vezes superior de contrair uma infecção nosocomial relativamente aos doentes internados noutras enfermarias”. Em causa está o facto de os dispositivos médicos utilizados serem mais invasivos e “amplamente utilizados em serviços de cuidados intensivos, que acarretam um importante risco de colonização por bactérias e fungos”, assume a investigação.
A análise conclui ainda que há falta de investigações epidemiológicas em Portugal, destacando a urgência de mais investigação para “compreender melhor a situação no contexto nacional”.