Coimbra  19 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Joana Gil

As pontes que nos unem

10 de Janeiro 2025

Quando um ano acaba e outro começa, todos somos tentados a espreitar o calendário do novo ano com o olho nos feriados – e, eventualmente, nas pontes que eles proporcionam.

Nos últimos dias de Dezembro os jornais portugueses oferecem-nos uma perspectiva (boa ou má, depende dos anos, mas o assunto é sempre saboroso) sobre os dias de descanso que hão-de acrescer às férias. Aos portugueses a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa nunca surpreendem quanto ao dia da semana, está claro, mas os demais feriados são justificado motivo de curiosidade.

Na Bélgica as coisas não são muito diferentes. Também aqui a imprensa dá sugestões sobre como conseguir duas semanas sem trabalhar gastando apenas 8 dias de férias e conselhos similares. Ora, se muito é o que separa Portugal e Bélgica, há também muito que os une, em especial os feriados religiosos. Mas enquanto em Portugal se assinala a Sexta-Feira Santa, na Bélgica o feriado é a Segunda-Feira de Páscoa (ou Pascoela, como chamam em Portugal). Tanto num país como noutro se festeja o incontornável Natal (festa comum a todos os países europeus), mas também a Nossa Senhora da Assunção, a 15 de Agosto, e Todos-os-Santos, a 1 de Novembro.

Em Portugal estão reconhecidos como dias festivos católicos, à luz da Concordata de 2004 entre a Santa Sé e o Estado Português, ainda o Corpo de Deus (60 dias depois da Páscoa; em 2025, será dia 19 de Junho), a Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e (surpreendam-se os mais distraídos) o Dia de Ano Novo. Se na Bélgica o Ano Novo é assinalado, o mesmo não se diga dos outros dois. Em contrapartida, os belgas observam o Dia da Ascensão, na sexta quinta-feira após a Páscoa, e também o Dia de Pentecostes, este sem descanso adicional, pois tem lugar por definição no sétimo domingo após o domingo de Páscoa. Assim, em 2025, os belgas celebrarão a 29 de Maio e a 8 de Junho, enquanto os portugueses trabalham.

Acrescem a estes os feriados civis. O Primeiro de Maio é feriado nos dois países, o que se compreende atenta a sua origem de matriz internacional. Já os dias nacionais são a 10 de Junho, no caso de Portugal, data que se associa à morte de Camões em 1580, e, na Bélgica, o 21 de Julho, por ter sido o dia de 1831 em que o primeiro rei belga prestou juramento. Em Portugal celebramos o incontornável 25 de Abril, para comemorar o fim da ditadura, mas há espaço ainda para assinalar a Implantação da República, a 5 de Outubro, e a Restauração da Independência, a 1 de Dezembro.

A Bélgica, mais fragmentada, tem menos feriados nacionais mas deixa margem para feriados que comemoram as comunidades linguísticas. Assim, em Bruxelas encerram as escolas ou outros estabelecimentos culturais de matriz neerlandófona a 11 de Julho e encerram as de matriz francesa a 27 de Setembro. A comunidade germanófona tem para si o 15 de Novembro. Uma abordagem que não é muito funcional, mas que homenageia as diferenças culturais dentro deste pequeno país.

Portanto em 2025 celebremos, pois, a nossa história e a nossa cultura. Com ou sem ponte, mas sem deixar de prestar homenagem ao passado comum que nos une muitas vezes mais do que pensamos.