Coimbra  24 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

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Escola da Noite de Coimbra em digressão pelo Porto e Galiza

4 de Janeiro 2025 Jornal Campeão: Escola da Noite de Coimbra em digressão pelo Porto e Galiza

O espectáculo “Frágua de Amor”, de Gil Vicente, uma co-produção A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra e O Bando de Surunyo, retoma a sua digressão ibérica nesta primeira quinzena de Janeiro, com apresentações no Salón Teatro, em Santiago de Compostela (Galiza) e no Teatro Carlos Alberto, no Porto.

Estreado no passado dia 14 de Novembro, em Coimbra, “Frágua de Amor” conta com a encenação de António Augusto Barros, a direcção musical de Hugo Sanches e um elenco de 16 intérpretes.

O projecto nasceu de um convite lançado há mais de dois anos pelo Teatro Académico de Gil Vicente às duas estruturas de criação artística e é realizado em co-produção também com a produtora Artway, o Centro Dramático de Évora e o Teatro Nacional São João e o Centro Dramático Galego, que agora acolhem o espectáculo nas suas salas.

Em Santiago de Compostela haverá uma sessão única, a 10 de Janeiro, sexta-feira, pelas 20h00 locais. No Porto, o espectáculo cumpre uma temporada de seis sessões, três das quais para o público escolar, entre 15 e 18 de Janeiro. As sessões para o público em geral têm lugar nos dias 16, 17 e 18 de Janeiro, quinta, sexta e sábado, sempre às 19h00.

Frágua de Amor

Escrita em 1524, a “Tragicomédia da Frágua de Amor” é uma festa sobre amor e mudança. Peregrinos e romeiros ouvem falar da fama dos reis e de como o amor os juntou. Cupido fugira da mãe Vénus para ajudar D. João III a conquistar o castelo maravilhoso, metáfora de Catarina. Vénus, deusa da música, com lágrimas transformadas em canções, procura o filho. Este inventou uma forja especial (a tal frágua) que prepara Portugal para um novo tempo. É uma máquina movida com a música dos planetas e dos gozos de amor, que transforma quem quiser em algo melhor. Vários se apresentam para a refundição: escravos negros, parvos, pagens, frades. Até a justiça – “corcovada, torta, muito mal feita” – quer ser reformada na frágua. A espectacularidade para a festa imaginada pelo autor (visível na cenografia e nas músicas que propõe) não amacia os olhos críticos de sempre: a igreja, através da prática clerical afastada dos princípios espirituais; a fidalguia improdutiva aspirando a regalias; a justiça corrupta, que tem de ser reformada “para o resto não se perder”. A frágua serve afinal para “fazermos refundição / nesta portuguesa gente”, a propósito da anunciada chegada de “rainha tão excelente”.
A Escola da Noite e O Bando de Surunyo

Fundada em 1992, A Escola da Noite apresenta agora o décimo quinto espectáculo vicentino do seu percurso, confirmando uma vocação de que se orgulha.

A companhia assume a dimensão deste novo desafio – pela complexidade da transposição cénica do mecanismo transformador; pela distância temporal e sócio-política entre o Portugal do século XVI e os dias de hoje; pela dimensão do elenco (à equipa permanente da companhia, constituída por Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash, juntam-se Maria Quintelas, Nuno Meireles e a actriz galega Mónica Camaño); pela integração no espectáculo de uma componente musical ao vivo sem precedentes na história do grupo, que inclui a participação de nove cantores/as e instrumentistas.

O Bando de Surunyo é um ensemble especializado na interpretação de música dos séculos XVI e XVII. O grupo, cujo nome é retirado de um vilancico seiscentista português, é uma frente interpretativa e laboratorial do projecto de investigação “Mundos e Fundos” da Universidade de Coimbra, projecto multidisciplinar de estudo e divulgação de música ibérica dos séculos XVI e XVII.

Assume como objectivo proporcionar ao público, através da música e da poesia, o contacto com a pluralidade, eclectismo e riqueza do pensamento e imaginário do renascimento e barroco europeus. Para este espectáculo em concreto, o grupo reuniu um naipe de intérpretes que inclui vozes – Eunice Abranches d’Aguiar (soprano), Irene Brigitte (soprano), Patrícia Silveira (alto), Carlos Meireles (tenor) e Sérgio Ramos (baixo) –, alaúde (Hugo Sanches), viola da gamba (Xurxo Varela) e flautas (Carlos Sánchez e Rita Rógar).

A equipa artística inclui ainda a cenografia de João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano, os figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção e o desenho de luz de Danilo Pinto. A versão do texto utilizada apresenta a tradução dos versos em castelhano feita por José Bento, publicada em 2008 pela Assírio & Alvim.

IMAGEM: Fragua de Amor © João Duarte