Coimbra  24 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Hernâni Caniço

Coimbra mudou ou vai mudar em 2025?

26 de Dezembro 2024

Há quem diga que Coimbra mudou, nos últimos 3 anos. Tornou-se moda no panorama nacional e internacional, influenciando o jet set e as revistas de cara pouco lavada a procurar ganhar cultura na urbe coimbrã. Tornou-se cosmopolita, quais cidadãos de mundo inteiro viajando em périplos de descoberta (ou achamento). Trouxe paletes de empresas e postos de trabalho qualificadíssimos que fixou quem quis regressar às suas origens, para aplicar habilitações. Criou uma movida cultural sem moscas, por vezes às moscas, baseada em festas, festinhas e festarolas. Promoveu dois concertos musicais (esquecendo U2, Rolling Stones, George Michael, Madonna e Andrea Bocelli, com idênticos benefícios para a cidade, mas cujas empresas promotoras não receberam 440.000 euros). Inauguraram-se milhentas obras (do Executivo precedente) e obrinhas (com retoques de pormenor e malvadez). As redes sociais mobilizaram-se para vitoriar El-Rei D. Sebastião, que desceu à plebe destilando fel e vinagre e tornando-se imbatível na demagogia. O Natal já não é (só) em Dezembro (luzes no Outono), é quando um homem quiser (até o Fim de Ano tem 4 dias…).

Coimbra não mudou

Há quem diga que Coimbra não mudou. Os estudantes continuaram a estudar, a divertir-se e a ter problemas de habitação acessível e frágeis regalias sociais para quem precisa. Os sem-abrigo aumentaram na cidade, sem tecto e sem casa, com vida e vista para a desgraça. A higiene, salubridade e limpeza afinal deterioraram-se e já cheira mal em qualquer bairro, classificado como gueto ou nobre. As obras continuam sem fim à vista, com promessas falsas de aurora em abril (então começará o pior calvário no centro da cidade…). Prometeram às freguesias mais 10% do orçamento (onde vais, rio que eu canto?). Os transportes públicos continuam a avariar sistematicamente, a não ter horários compatíveis com visitas aos hospitais e acesso às escolas, e a não ter linhas adaptadas para o sul e inexistentes para o noroeste (sem norte). O associativismo juvenil, solidário ou perdulário continua, à míngua de apoios (agora retardados), aos protocolos que não satisfazem as necessidades, aos contratos consensuais senão não levas nada.

É hora de balanço e perspetivas, o que não é o mesmo que pintar de laranja a realidade que não se mudou, ou desfiar a noite da má língua da falta de competência que deveria ter existido, tal como não é fazer promessas balofas e incumpríveis do que se quer mudar, ou traçar um quadro negro de catástrofe do que outros não conseguiram mudar.

Coimbra vai mudar em 2025?

Acreditamos que Coimbra vai mudar em 2025, pois p´ra pior já basta assim, dando aos socialistas, democratas e progressistas a oportunidade de afastar os conservadores travestidos de renovadores. Estes, de novo só trouxeram métodos de propaganda e controlo das redes sociais, a pesporrência de que tudo julgam saber, a ilusão da superioridade académica e desprezo pelos contributos dos não seguidores, a promoção da bajulação e o prémio aos acríticos, o discurso e a acção que manipulou as paixões e os sentimentos do eleitorado para conquista fácil de poder político.

O primeiro objectivo dos socialistas, democratas e progressistas durante uma pugna eleitoral, é difundir a sua mensagem de humanidade e esperança, em que a construção de uma sociedade mais justa motiva os eleitores, onde todas e todos possam participar e ter correspondência nas suas necessidades e expectativas de vida e qualidade de vida.

O segundo objectivo é vencer as eleições, de forma a proporcionar aos cidadãos, através do cumprimento do seu programa eleitoral (que não são promessas vãs), as oportunidades e a situação de vida que os vai creditar para serem reconhecidos como os mais capacitados para atingir um mundo melhor, pela via dos objetivos da sociedade socialista, democrática e progressista.

A expressão política corrente “são todos iguais” carece de veracidade, pois na política (tal como na vida) há quem tenha razões individuais, quiçá interesses, para nela fluir, e há quem tenha razões para defesa e promoção dos direitos humanos, para nela lutar.

Quando existe longevidade nos decisores, adensam-se as suspeições e o uso de expressões como “não sabe fazer mais nada” (equiparado ao ofensivo “dedica-te à pesca”).

Tal expressão também não corresponde a (toda a) realidade, pois na perenidade em política, há quem tenha por objectivo fazer carreira (não académica nem profissional…). E há quem tenha por objectivo e práxis a coerência, a perseverança e a firmeza dos princípios que defende, na luta pelo bem comum.

De facto, em política, no presente e futuro, está ultrapassado qualquer panfleto ou arenga irrealista de tudo prometer para encantar, tal como a atitude persecutória de reinar dinasticamente para impor, ou a técnica do bota-abaixo por conluios de conveniência expectantes de prebendas, lugares de ocasião ou revanchismo vingativo.

Coimbra vai ser uma lição.

(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra