Sob um céu escuro, sem poluição luminosa, a aldeia do xisto de Fajão, no concelho de Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra, é um dos destinos mais recentes em Portugal para observar as estrelas.
Neste concelho é, pois, possível ir ao céu sem tirar os pés da terra, através de propostas como sessões de observação, workshops, passeios de canoa sob as estrelas, experiências autónomas de imersão no território, entre outras actividades. Inaugurado em Junho deste ano, o Geoscope – Observatório Astronómico fez da aldeia certificada como Destino Turístico Starlight, um ponto único no País para a observação nocturna.
O projecto salta à vista, quando se olha para o topo da aldeia, a mais de 700 metros de altura, com a sua Dome semiesférica, em aço, com 7,5 metros de altura e 15 metros de diâmetro.
O Geoscope é assumido pelos promotores (a ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto e a câmara da Pampilhosa da Serra), como uma iniciativa multidisciplinar, que une turismo, ciência, pedagogia e desenvolvimento territorial. Promove a imersão na jornada do conhecimento e, assumem os promotores, desafia a reflectir sobre o nosso lugar no cosmos e no planeta. Dar ênfase ao turismo astronómico, integrar a comunidade pedagógica e científica, preservar o céu nocturno, a natureza e o lugar, além de situar o ser humano numa perspectiva ecológica e sustentável são os principais propósitos do Geoscope.
Por se tratar de um território de Baixa Densidade, a somar à sua própria geografia, aqui consegue-se ter um céu escuro e limpo e pretende-se que seja um pólo de observação do céu escuro, promovendo o turismo e a economia no interior do País. Rui Simão, vereador da Câmara da Pampilhosa da Serra para as áreas do Turismo e Inovação Territorial, explica ao “Campeão das Províncias” que o Geoscope é “uma ideia muito antiga”, fruto da descoberta da ciência nacional, em particular do Instituto de Telecomunicações que, em 2008, escolheu este território para instalar o primeiro radiotelescópio para monitorizar lixo orbital e mapear a Via Láctea, visto “encontrarem nesta região as melhores condições em termos de poluição luminosa”.
“Começámos a perceber que tínhamos um potencial e formas de valorizar este activo. Ao longo dos anos, e no quadro das relações da autarquia e das Aldeias do Xisto, sempre houve vontade de encontrar soluções que pudessem ajudar o concelho a afirmar-se como o epicentro de uma estratégia de desenvolvimento turístico”, salienta. O edil refere que o valor global e inicial do projecto ronda os 300 mil euros e engloba o desenvolvimento do conceito, do design e da qualificação de infraestruturas e equipamentos.
“Aproveitar o activo”
Em termos físicos, o Geoscope é composto por três elementos essenciais: a própria aldeia e os serviços, o Quiosque (o chamado welcome center) com equipamentos de observação, de realidade virtual, conforto (cadeiras, mantas) e equipamentos didácticos e pedagógicos. O terceiro elemento é a própria Dome, instalada no topo da aldeia, e que indica o local ideal para observar a paisagem diurna mas também o céu nocturno em torno da aldeia de Fajão.
Rui Simão afirma que o objectivo “é fazer crescer o projecto, quer em termos de infra-estruturas e equipamentos disponíveis, quer de eventos, e que junte empresas de animação turística, restauração, etc.”.
O Quiosque está aberto de quarta-feira a domingo e é de acesso livre. Há igualmente actividades programadas, dependendo sempre das condições meteorológicas. Quanto a números, dá o exemplo da época de Verão, em que, nos meses de Julho, Agosto e Setembro, este ano, e em seis acções contaram com mais de 600 inscritos, fora todos aqueles que foram individualmente em visitas próprias. “Ao nível dos programas vendidos pela agência de animação turística que actua no território, em 2022, foram vendidos 200 pacotes de viagens à luz das estrelas, em 2023 superou os 2000, e em 2024, até ao Verão, já tinha ultrapassado os valores do ano anterior”, revela Rui Simão.
O vereador da Câmara da Pampilhosa da Serra realça que, com a inauguração do Geoscope, “houve um grande projecção e um boom de procura, com muitos curiosos, portugueses e estrangeiros, a visitar o território”. E não tem dúvidas: “isto está alinhado com as macrotendências do turismo do Interior, há uma procura maior por novas emoções e experiências. E tudo isto impulsiona a hotelaria e a restauração. E é nesta oferta integrada que queremos continuar a apostar”. Rui Simão considera que o município “quer aproveitar este activo do território e esta vantagem competitiva para transformar aparentes debilidades de um lugar do Interior em oportunidades”.
Destino turístico ‘Starlight’
As excelentes condições de visibilidade, transparência e escuridão do céu e ainda a prontidão e a qualidade dos serviços turísticos valeram às Aldeias do Xisto a Certificação Destino Turístico Starlight, atribuída pela Fundação Starlight em 2019 e já renovada em 2024.
Recorde-se que o Geoscope é um projecto liderado pela ADXTUR, em co-promoção com o município da Pampilhosa da Serra, e constitui uma âncora da estratégia Aldeias do Xisto – Destino Turístico Starlight, desenvolvida em parceria com 20 municípios do Pinhal Interior, as Comunidades Intermunicipais da Região de Coimbra, da Região de Leiria, da Beira Baixa e das Beiras e Serra da Estrela, o Ministério da Defesa Nacional, o Instituto de Telecomunicações, a Universidade de Coimbra e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Oportunidades para a Pampilhosa
Sobre as oportunidades que se abrem para o concelho, Rui Simão reconhece que a Pampilhosa da Serra, sendo um concelho do Interior, que sofre do problema transversal a muitas outras localidades portuguesas de reter jovens e talento, “tem outras vantagens”. Lembra, por isso, que “à medida que se vão transformando as tendências globais, seja no turismo ou noutras áreas, há oportunidades que se abrem”. “Temos conseguido transmitir um posicionamento de inovação e dinamismo. Olhamos para o que temos e encontramos formas de atractividade”, diz, elencando algumas delas como a natureza e a floresta, o turismo, economia social e a inovação tecnológica. “Há bases sólidas que têm sido construídas e geram oportunidades. A periferização, o despovoamento e as acessibilidades são constrangimentos, contudo, é inovando que conseguimos potenciar o nosso território, sobretudo, nos activos de que dispomos”, conclui Rui Simão.
O limite é o Céu
O Geoscope – Observatório Astronómico de Fajão é uma estrutura para observação do céu escuro e de ensino e pedagogia sobre astronomia. A estrutura é constituída por um Dome, um lugar de observação e de conhecimento sensorial no alto do Fajão (a cerca de um quilómetro a pé e 3 quilómetros de carro) e por um Quiosque situado no centro da aldeia.
O Dome é uma estrutura de observação de entrada e acesso livre, mas caso de não ter agendado visita organizada, convém levar o seu equipamento de observação ou então deslumbrar-se com o céu escuro do Fajão.
O Quiosque é um espaço de recepção e acolhimento que integra conteúdos teóricos e práticos, com modelos e realidade virtual e actividades lúdico-pedagógicas. No Quiosque pode ainda consultar o calendário de eventos e observações do céu escuro, com sessões de observação ‘Viagem à Luz das Estrelas’, astrofotografia e visitas guiadas, sempre sob reserva e inscrição prévia junto de operadores turísticos certificados. Há já programas de observação que pode agendar na plataforma de reservas BookinXisto e incluem canoagem e passeios nocturnos à luz das estrelas e viagem à luz das estrelas (observação) no Geoscope.
Texto: Ana Clara (Jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024