Coimbra  25 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Adelino Gonçalves

Vamos (des)bloquear a democracia em Coimbra?

21 de Dezembro 2024

O Orçamento Municipal e as Grandes Opções do Plano (GOP) da Câmara Municipal de Coimbra foram votados na Assembleia Municipal. Contudo, o debate tem sido dominado por uma narrativa preocupante do Executivo: a ideia de que rejeitar o orçamento equivale a bloquear o desenvolvimento da cidade.

Confundir “rejeição” com “bloqueio” ignora o papel central da Assembleia Municipal: representar os munícipes e assegurar que o orçamento e as GOP reflitam o interesse coletivo. A rejeição de um orçamento não impede o desenvolvimento; antes exige que o Executivo repense e ajuste as suas propostas. Longe de ser um entrave, é uma oportunidade para tornar as soluções mais inclusivas e alinhadas com as reais necessidades da cidade.

Mas o que entende o Executivo por “desenvolvimento”? Parece ser sinónimo de “mais”: mais empresas, mais economia, mais mediatismo. Em teoria, nada há de errado em querer dinamizar o concelho. O problema está na forma de concretizar essa visão. Promete-se instalar mais empresas, mas ignora-se a qualidade das condições de trabalho. Reivindica-se mérito por novos investimentos, sem reconhecer o esforço dos empresários. Constrói-se mais habitação pública, mas em bairros periféricos, sem equipamentos e serviços de proximidade, perpetuando desigualdades e afastando famílias do centro.

A verdadeira ameaça ao desenvolvimento de Coimbra não está numa votação negativa, mas na falta de diálogo entre o Executivo e as forças políticas. Uma Câmara democrática deveria promover a inclusão e o debate construtivo. Contudo, o orçamento e as GOP raramente são discutidos fora do contexto formal da votação, revelando a incapacidade de fomentar colaboração e entendimento.

Coimbra precisa de pontes, não de trincheiras.

O desenvolvimento exige diálogo, não imposições.

O que votação do Orçamento e das GOP devia ser, acima de tudo, era uma oportunidade para desbloquear o diálogo político construtivo e reforçar a prática democrática na nossa cidade.

Vamos desbloquear a democracia em Coimbra ou continuar a fechar portas ao diálogo?

(*) Arquitecto e Professor Associado da Universidade de Coimbra

Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024