O Orçamento Municipal e as Grandes Opções do Plano (GOP) da Câmara Municipal de Coimbra foram votados na Assembleia Municipal. Contudo, o debate tem sido dominado por uma narrativa preocupante do Executivo: a ideia de que rejeitar o orçamento equivale a bloquear o desenvolvimento da cidade.
Confundir “rejeição” com “bloqueio” ignora o papel central da Assembleia Municipal: representar os munícipes e assegurar que o orçamento e as GOP reflitam o interesse coletivo. A rejeição de um orçamento não impede o desenvolvimento; antes exige que o Executivo repense e ajuste as suas propostas. Longe de ser um entrave, é uma oportunidade para tornar as soluções mais inclusivas e alinhadas com as reais necessidades da cidade.
Mas o que entende o Executivo por “desenvolvimento”? Parece ser sinónimo de “mais”: mais empresas, mais economia, mais mediatismo. Em teoria, nada há de errado em querer dinamizar o concelho. O problema está na forma de concretizar essa visão. Promete-se instalar mais empresas, mas ignora-se a qualidade das condições de trabalho. Reivindica-se mérito por novos investimentos, sem reconhecer o esforço dos empresários. Constrói-se mais habitação pública, mas em bairros periféricos, sem equipamentos e serviços de proximidade, perpetuando desigualdades e afastando famílias do centro.
A verdadeira ameaça ao desenvolvimento de Coimbra não está numa votação negativa, mas na falta de diálogo entre o Executivo e as forças políticas. Uma Câmara democrática deveria promover a inclusão e o debate construtivo. Contudo, o orçamento e as GOP raramente são discutidos fora do contexto formal da votação, revelando a incapacidade de fomentar colaboração e entendimento.
Coimbra precisa de pontes, não de trincheiras.
O desenvolvimento exige diálogo, não imposições.
O que votação do Orçamento e das GOP devia ser, acima de tudo, era uma oportunidade para desbloquear o diálogo político construtivo e reforçar a prática democrática na nossa cidade.
Vamos desbloquear a democracia em Coimbra ou continuar a fechar portas ao diálogo?
(*) Arquitecto e Professor Associado da Universidade de Coimbra
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024