Quando assumi a liderança da Federação de Coimbra, o PS apenas detinha quatro presidências de Câmara e quando saí eramos maioritários, detínhamos a presidência de nove Câmaras e de dez Assembleias Municipais.
Foi a maior subida eleitoral de sempre em termos autárquicos. Para o sucesso contribuiu muito o facto de previamente ter proposto à Comissão Política Distrital a avocação de todo o processo eleitoral no distrito de Coimbra, sem distinção de concelhos ou pessoas, que aprovou com dois terços de votos, conforme na altura exigia os estatutos do partido.
Um facto curioso, relevante, todas as escolhas foram preparadas conjuntamente com as Comissões Políticas concelhias, em muitos dos casos recorrendo a sondagens, votadas nas Comissões Políticas Concelhias e ratificadas pela Comissão Política Distrital, apenas num concelho a situação foi mais complexa, a envolver a passagem de um Presidente da Câmara, na altura do PSD, para uma candidatura pelo PS.
Poderia recorrer ao silêncio para aproveitar a máxima “quanto pior melhor”, mas os anos que levo de PS e o conhecimento das dificuldades eleitorais, aconselham a que se evitem de novo erros como nesse tempo inoportunamente e julgo por amizade alguns foram cometidos.
No PS existem órgãos e as competências foram bem definidas, as Comissões Políticas Concelhias são quem tem a competência na escolha para as candidaturas autárquicas ao nível de Câmaras e Assembleias Municipais. Não conheço nenhuma avocação prévia da Comissão Política Distrital, antes da escolha das CPC, relativamente a qualquer concelho, em Condeixa a avocação foi posterior à escolha da CPC.
Coimbra julgo ser eleitoralmente um concelho ao alcance de uma vitória eleitoral do PS, desde que se encontre o candidato certo. Um concelho em que se exigiria a realização de sondagens para o efeito. Um candidato que seja escolhido na CPC. A imposição de qualquer candidatura à margem dos socialistas de Coimbra, sonhado em Lisboa, seja por quem for, com toda a certeza será um passo gigante para o insucesso eleitoral. Como diz o velho ditado: “nem tudo o que luz é ouro”.
O saudoso Fausto Correia tinha uma máxima eleitoral: “tem de ser quem capte e não afaste os eleitores”, acrescento desde logo os fiéis ao PS. Porém, o PS em termos autárquicos está a arder, os socialistas estão absolutamente desavindos. Senão vejamos:
Soure – Por falta de visão política os responsáveis distritais em vez de antecipadamente evitarem os problemas, deixaram tudo correr, agora parece surgirem no interior do PS duas candidaturas. A confirmarem-se as duas candidaturas, uma como independentes, parece claro o resultado eleitoral. Se no distrito há um concelho no qual existia matéria justificativa de avocação prévia seria Soure, no entanto, nada fizeram.
Condeixa – Em vez de avocarem Soure, avocaram Condeixa, depois da escolha da CPC local. Primeiro teriam de votar para ratificar ou não o nome escolhido, voto secreto, caso não fosse ratificado, por maioria votos não, teriam de tomar uma nova decisão, que poderia então ser de avocação.
As formalidades e o cumprimento dos estatutos são absolutamente necessários. No entanto, nos últimos tempos o cumprimento estatutário tem sido sistematicamente ao longo do País esquecido e nos casos de recurso para o Tribunal Constitucional, temos assistido a decisões do TC de não decidir sobre matéria interna dos partidos políticos. Talvez não seja alheio o facto: os juízes são na sua maioria escolha dos partidos políticos; para funcionar desta forma melhor seria no Supremo Tribunal de Justiça uma secção para assuntos constitucionais.
A decisão da CPD de avocação da escolha de candidato em Condeixa deixa muito a desejar por deficiente fundamentação, uma candidata legitimada pelos socialistas de Condeixa, presidente da Concelhia, pessoa reconhecida no concelho, competente, das como dizia o Fausto, acrescenta votos, mas por questiúnculas, que nada têm a ver com a política, lamentavelmente poderá ser entregue à liderança do PSD, desde a primeira eleição autárquica foi sempre liderada pelo PS.
Poiares – Bom, um presidente de Junta de Freguesia do PS manifesta disponibilidade para uma candidatura à Camara Municipal em vez de com ele dialogarem hostilizam com retirada de confiança política, resultado, mais uma vez o “caldo azedou” e parece termos mais uma candidatura de independentes no interior do PS.
Miranda do Corvo e Montemor-o- Velho – Tanto quanto sei, as escolhas não vêm sendo pacíficas, com possibilidade de candidaturas independentes a saírem do interior do PS, a pergunta óbvia: afinal o que andam os dirigentes distritais a fazer no distrito?
Assim, o Secretário-Geral do PS, com amigos destes nem precisa de inimigos.
(*) Ex-presidente da Federação de Coimbra do PS
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024