O Natal está mesmo aí e, com ele, um mar de compras. As prendas para os pais, os filhos, os irmãos, os amigos, os tios, os avós, os netos, os colegas da empresa, mais uma lembrança para aquela pessoa e outra mais e tudo isto com muito papel de embrulho, fita-cola e laços à mistura. Acrescem as festas temáticas às quais cumpre levar uma camisola vermelha, um barrete de Pai Natal, uns enfeites a lembrar um boneco de neve ou uma rena. E as decorações: a árvore de Natal, as bolas, as fitas, as luzes, as velas, os azevinhos, as toalhas e os guardanapos, os acessórios da mesa e de todo o espaço doméstico.
O consumismo da época assalta-nos em todo o lado. Há dias, a publicidade de um espaço comercial bem no coração de Bruxelas dizia: «Plus vous achetez, plus vous êtes récompensé, le tout dans l’esprit de Noël!». As montras exibem os indispensáveis da noite de Natal, presentes com compromisso de felicidade garantida do destinatário, as roupas que nos hão-de cobrir de ‘glamour’ na noite mais especial do ano. Comprar, comprar, comprar, gastar, gastar, gastar, porque é Natal e parece que o objectivo supremo, como sintetizava o anúncio, é adquirir coisas, para nós e para os outros.
Este assédio desenfreado ao consumidor não é privativo da Bélgica – nem de Portugal. Ele está neste momento bastante universalizado e para onde quer que nos voltemos há qualquer coisa à espera que a compremos, por mais ou menos módica quantia. O maior lesado por este espírito não é a nossa carteira. Bem ou mal, há preços para tudo. Há também tanta tralha ao preço da chuva que comprar para oferecer pode tornar-se um ritual que pouco une quem dá e quem recebe. Leva-se isto, porque está barato e é engraçado. O destinatário há-de sorrir, ainda que não precise nem aprecie, gastaram-se uns euros, cumpriu-se o calendário, para o ano há mais. Entretanto, empilham-se as caixas de cartão das encomendas feitas através da internet, gastam-se quilómetros de papel de embrulho e outro tanto de fita-cola e laços. O ambiente sofre os danos colaterais desta forma de estar, com a produção de lixo a aumentar vertiginosamente em período de Festas.
O verdadeiro espírito do Natal pede de facto que demos. Mas não que demos da nossa carteira, e sim que demos de nós próprios. Um postal feito à mão com uma dedicatória sentida pode valer mais do que muitas bugigangas. E se temos gosto em oferecer algo para marcar o momento e apelar ao Rei Mago que há em nós, podemos sempre optar pelo nacional: entre uma boa garrafa de vinho, um lenço bordado à mão, um frasco de mel ou um queijo da Serra, há muitas maneiras de expressar reconhecimento e carinho sem termos de adquirir coisas feitas do outro lado do mundo e que, no fim, vão ficar esquecidas numa gaveta. Sem esquecer belíssimas louças ou excelente literatura portuguesa.
Acima de tudo: no Natal há que dar amor. Não custa nada a quem oferece e para quem recebe é de valor incalculável.
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024