Coimbra  19 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Jorge Gouveia Monteiro

O Consultório Municipal… à beira de fechar

21 de Dezembro 2024

A marca está à venda. Durante 3 anos, os delegados dos “laboratórios” agendaram, pediram, os mais próximos chegaram a pontos de exigir, reuniões para apresentar os seus produtos novos, os seus brindes, as suas poções e eventos marcantes. O edil estivera arredado destas doenças da Cidade (a palavra certa nem será “arredado”, porque em boa verdade nunca se ocupara de seres vivos tão grandes). Circunspecto, avaliava as propostas, sopesava, mas era nítido que lhe puxava a vontade quando se tratava de “novidades”, coisas que o seu antecessor não quisera, enjeitara. Os delegados captaram o olhar e o trejeito e passaram a abordar as conversas com um ”agora, sim”, alavancaram argumentos e acelerações.

Finalmente, pensa, é o momento. Chegou a hora da colheita. O edil garantiu o apoio da farmácia partidária e do governo central. O orçamento, balofo, vai bater recordes jamais vistos. Pode ser o último ano, a última oportunidade com este clínico, mas o que for aprovado e contratado durará mais alguns anos.

Infelizmente, desajeitadamente, o edil esqueceu um detalhe decisivo: não tem a confiança, muito menos a simpatia da maioria do pessoal que tem o poder de aprovar ou recusar o tão almejado orçamento. Durante 3 anos, esqueceu, ignorou, maltratou toda a concorrência. Semeou adversidades. Agora, quer colher apoios, aprovações.

A previsível rejeição do orçamento municipal para 2025 não é uma tragédia. É apenas o primeiro acto de um novo período na vida da Cidade de Coimbra. Uma maioria democrática e plural pode pôr fim à alternância de criaturas autossuficientes e crispadas nas suas surdas certezas.

A também previsível dramatização em torno da rejeição do orçamento é também uma peça suplente de quem quer a todo o custo manter-se num poder que não mereceu. Qualquer cidadão minimamente atento percebe que a Câmara tem o dever de corrigir um orçamento rejeitado, por forma a garantir a sua aprovação. Se o não fizer, então sim, pode pôr em risco a continuidade de alguns projectos e financiamentos. E terá que assumir essa responsabilidade.

Os próximos dias vão ser muito interessantes para avaliar até que ponto os cidadãos e cidadãs se deixam ou não enganar pelas vitimizações, ou estão dispostos a ser mais exigentes quanto às formas e aos conteúdos de uma nova governação. Daqui a alguns anos, quem fizer a história deste período da vida autárquica de Coimbra, concluirá: abençoada a hora em que a maioria acordou.

(*) Coordenador do movimento “Cidadãos por Coimbra”

Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024