Já toda a gente percebeu. Há eleições autárquicas em Portugal em 2025 e, cada vez mais, os titulares dos cargos públicos autárquicos lançam-se tão precocemente quanto curial (ou não), na promoção dos seus pretensos méritos, na acusação e devassa dos seus adversários, na sua verdade que julgam grandiosa, na sua mentira que julgam que passa despercebida, nas tricas como futilidades, nas troca-tintas trapalhonas que confunde ingénuos.
Também há titulares impolutos, reconhecidos pelos cidadãos que os elegem, que pretendem renovar o mandato, que têm obra feita sem desculpas, que não acusam outrem quando surgem obstáculos, que têm espírito de missão sem se vangloriar, que não transformam atos corriqueiros em grandes feitos, que demonstram proximidade sem falsidade.
A oposição, faz o seu papel. Nalguns casos, faz bem, criticando o que é criticável, elogiando o que merece, distanciando-se do que é errado, capcioso ou atentatório, acercando-se do que tem potencialidades de sucesso para os cidadãos. Noutros casos, faz mal, transformando uma boa medida em sacripanta, julgando sem rigor à custa de argumentário que para tudo serve, denegrindo quem é competente e dedicado, levantando suspeições sem fundamentos credíveis.
Em Coimbra, temos um Executivo autárquico conservador que já está em campanha eleitoral, fazendo balanços atrás de balanços convenientes, usando a demagogia como mote para exacerbar paixões e sentimentos, hipervalorizando a gestão rotineira como grande façanha, vilipendiando a oposição como mafarrico, arguida do Paleolítico, culpada da pré-história e da Idade da Pedra, condenada à submissão e ao silêncio, sem méritos porque sim.
E temos uma oposição democrática, progressista e socialista, que tem procurado a isenção (mesmo perante o ultraje), que tem aquiescido na gestão (mesmo escabrosa, por vezes) de quem foi eleito para tal (mesmo que não se comporte com a dignidade devida), que tem contestado o que considera lesivo dos contribuintes e dos cidadãos (sonegação de direitos e sem medidas de contenção da inflação), que tem feito propostas que são sistematicamente ignoradas (sejam inovadoras ou replicadas de outras autarquias).
Estamos a cerca de 9 meses das eleições autárquicas. Será um parto difícil (quase tão difícil, como para as grávidas que têm direito ao telefone sempre, e ao médico por vezes), após uma gravidez de risco elevado, com um palanqueiro que faz o pino para agradar, com lisonjas e estratagemas, liderando uma equipa de comunicadores non-stop sempre a ferrar o dente, com linguagem sedutora e enganosa.
E com a oposição democrática, progressista e socialista a organizar a sua estratégia, programa e candidatos (as), no timing que permita esclarecer os cidadãos, motivar os desiludidos da política, propor melhores serviços públicos, transformar Coimbra conservadora em progressista, com indústria sustentável, comércio seguro, património atrativo, cultura sem complexos, saúde sem inércia, educação com direitos em tempo útil, ação social sem mácula, sociedade civil participativa.
Vencerá quem o povo quiser, aceitando propostas exequíveis ou rejeitando elucubrações fantasiosas, acolhendo lideranças sérias, afáveis e iniludíveis, declinando figuras enganadoras mascaradas de avozinho, aprovando iniciativas mobilizadoras e consistentes, recusando aventureirismos e negociatas, sendo responsável pelas suas convicções, razões e aspirações.
Acreditamos, assim, que votará num programa progressista, democrático e socialista.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 19 de Dezembro de 2024