Há uma palavra mágica (eleições) para quem tem pretensões de estrelato, ambições de poder, gosto pela bajulação, até mesmo por, do alto da sua cátedra, poder corresponder e satisfazer pedidos feitos com humildade (convém) e dependência (quiçá com troco).
Felizmente, nem todos são assim. Quando se comemora o centenário de Mário Soares, fugira impoluta (excepto para os fascistas do regime da ditadura), combatente antifascista, lutador pela democracia e pela Europa unida, eis um exemplo de isenção sem cedência a pressões, com inquietação pelo que estava mal e era preciso mudar, e sem submissão a estereótipos e presunçosos.
Mas há quem seja assim, tudo faça para atingir e permanecer no poder, tente iludir incautos e pessoas de boa-fé, se rodeie de oportunistas e mal resolvidos com o sistema político e o espectro partidário, se ache sem defeitos (em si) e veja defeitos em tudo o que mexe (nos outros), veja um desafio provocador em cada ato de influencer e considere desmotivante a modorra profissional não criativa e solidária.
Estamos a entrar em ano de eleições autárquicas. E, por isso, enquanto para uns, é hora de seleccionar quem tem melhores condições e se perfila para melhor serviço público, para outros, é hora de renovar promessas, inovar promessas, agitar promessas, para que nenhuma alma se distraia da venda da banha da cobra, da ilusão que faz sonhar, da percepção que é possível atingir o impossível, qual prefeito e prefeitura autocrática.
É chegada a hora de as promessas (muitas vezes de mau pagador) se divulgarem com trompete, se exporem com veemência, se propalarem aos quatro ventos, para trazerem sementes de votos (além dos devotos), num quadro inicial que se vai incrementar ao longo de 2025.
Para já, em formato reduzido (porque mais haverá, subjacentes e na forja), temos a Iluminação de Natal nos primórdios do Outono, o estacionamento gratuito na época natalícia frente à Praça 8 de Maio, o corte de ervas ao fim-de-semana, os apoios ao associativismo mais volumosos que nos anos anteriores (em “cash”) e para além do período do final do mandato, mais anúncios pagos na comunicação social (é preciso é publicidade) e notícias de lana caprina, o record de inscrições na S. Silvestre de Coimbra.
E temos a contratação de empresas para serviços (SMTUC – empresa municipal, etc.), a profusão de feiras, mercados, mercadinhos e festivais, com lojas pop-up, artesanato, gastronomia, animação de rua, magia para crianças, a participação em sessões mais ou menos solenes, mesas redondas, painéis, edição de livros, visitas a empresas, sempre a perorar (discursos, discursatas, propalação, promoção da realização), anúncios de concursos, inauguração de minudências, miudezas e mixarias.
E temos agora, senhoras e senhores, meninos e meninas, o espectáculo da festa de Fim de Ano, a saudação do Ano Novo, Ano Bom, com 4 (quatro) dias de Festa, festança não só para a D. Constança, folia para esquecer problemas de regionalização e delegação de competências, doenças e responsabilidade autárquica, falta de apoios às famílias pela inflação que já foi gritante.
E, apoteose, o concerto dos Guns N`Roses em 6 de Junho (pelo menos), que trará multidões com sandes (de courato?) à porta do Estádio Cidade de Coimbra, retorno financeiro de milhões nunca comprovado tecnicamente, e que custará (será?) 468.490,82 euros aos cidadãos de Coimbra pagadores de impostos, ser for no modelo de retribuição da Câmara Municipal à entidade promotora do(s) concerto(s).
Enfim, ainda a procissão (da propaganda) vai no adro… Lena d`Água, ídolo da canção dos anos 80, proclamava “Demagogia (feita à maneira) é como queijo (numa ratoeira)”. E acrescentava “Pra levar a água ao seu moinho, Têm nas mãos uma lata descomunal, Prometem muito pão e vinho, Quando abre a caça eleitoral”… Mantém-se actual.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra