Dos professores se exige adequada formação humana: decalcada dos direitos das crianças, dos direitos humanos, dos direitos fundamentais, dos direitos de cidadania. Para que possam tratar os alunos, os estudantes, de harmonia com todo esse precipitado de normas, que é questão de postura cívica perante cada um e todos no seio da respectiva corporação.
No termo de uma prova no ensino secundário, em que se impôs aos alunos trocassem de lugares, com o intuito de evitar que copiassem, uma jovem, ao concluí-lo, deixa o ponto na carteira e dirige-se ao lugar de origem para recuperar os seus pertences.
Eis senão quando a professora, em tom alteroso, a acusa de que esteve a copiar e lhe exige que mostre as ‘cábulas’. Tal atitude é susceptível de deixar o menos “encabulado” desorbitado, atingido na sua dignidade, na sua probidade, na sua verticalidade…
A aluna, inocente, protestava educadamente que não, que não tinha cábulas. De nada valeu porque foi revistada na presença de todos. Nada lhe foi encontrado. A suspeição da professora, obsessiva no gesto, descontrolada na palavra, não se confirmara. A aluna, vexada na sua dignidade, profundamente magoada, pela desconfiança, pelo tom, exposta à exprobação da turma.
As crianças, por muito que se ignore, também têm dignidade. Também têm sensibilidade. E têm direitos, que é algo que em geral se ignora, mas que decorrem precipuamente das leis e regulamentos. E não se trata de os exacerbar, de exceder na dose dos direitos que circunstancialmente se invoquem.
Trata-se de exigir urbanidade dos docentes, que têm de primar pelo exemplo, pela moderação, pela ausência de excessos no modo como tratam os discentes.
Trata-se de exigir que respeitem a dignidade dos alunos.
Trata-se de os obrigar a que respeitem os seus direitos de personalidade, que os não belisquem, que os não deixem em situação de vergonha pública, de vexame, de opróbrio, de aviltamento.
A qualidade humana dos mestres-escola começa aí.
Com semelhante atitude como que se afivela um rótulo de desonra, se gruda à criança, à jovem uma nota de desonestidade, de falha de carácter, expondo-a à exprobação da turma…
E depois do acto, que engenho e arte para se repor a coisa no são, para se restituir a situação ao “statu quo ante”?!
Que marcas uma atitude do estilo não deixa?!
O estigma permanece, a dúvida instila-se, o aguilhão fere ignominiosamente…
Os professores têm de ter cuidados redobrados na educação dos que se lhes confiam, não se podem permitir desvios de tamanha magnitude, não podem vexar, degradar, diminuir, estigmatizar.
Perante a turma ficou demonstrada a inocência da jovem adolescente, mas as marcas permanecem, as dúvidas assaltam-nos, os dichotes soltam-se…
E, no entanto, manchou-se a reputação de uma inocente! Por quem deveria formar, mas intenta deformar com atitudes ínvias, desenquadradas, aviltantes, intoleráveis, inadmissíveis.
Ao Ministério da Educação e às escolas onde se formam professores uma exortação:
Encham-nas de disciplinas de direitos de personalidade, de direitos das crianças, de direitos dos escolares, de direitos humanos, a ver se se tira o ranço da impreparação de que dão mostras alguns e se reconduzem aos são propósitos de convivência com os alunos, numa sociedade de iguais em que o respeito recíproco se tem de cultivar incessantemente, à exaustão!
Que fique o registo para que a impunidade não subsista.
Tão reprováveis são atitudes do jaez destas como as dos pais que, sem justificação aparente ou real, invadem as escolas desabridamente e tiram desforço de professores inocentes ou não, vítimas também de escolares menos probos, menos honestos nos comentários que provocam o azedume de pessoas naturalmente perturbadas, mas que descarregam as suas iras sobre os professores.
Reflexão é o que se exige a todos e a cada um!
E respeito! Que não o convencional “respeitinho”, sinal de subserviência, de sujeição, de indignidade às avessas!
(*) Presidente cessante da apDC – DIREITO DO CONSUMO – Portugal