A coordenadora do Bloco de Esquerda criticou em Coimbra a “triste evidência” de que o Estado português investe mais no turismo do que na habitação, defendendo a conjugação de soluções de curto, médio e longo prazo.
“Nós somos confrontados com a triste evidência de que Portugal investe mais no turismo do que investe na habitação para jovens ou para habitação em geral. E isso é verdade para o Estado português e é verdade para a Universidade de Coimbra, que continua a investir mais no turismo – transformando partes da Universidade num museu –, sem conseguir conceder aos jovens acesso a habitação digna”, disse Mariana Mortágua.
A coordenadora do Bloco de Esquerda falava aos jornalistas no final de uma reunião com estudantes na República do Bota-Abaixo, em Coimbra, onde ouviu testemunhos de quem vive em residências “preparadas para 10 a 15 pessoas e onde estão 23 estudantes, sem condições de conforto”, de quem queira trocar de casa e não consiga, ou outros que procuram aceder a apoios estatais mas os senhorios recusam-se a fazer contratos.
Para Mariana Mortágua, o acesso à habitação “é um problema que vai marcar gerações” e, no caso dos estudantes, o preço praticado das rendas é hoje “um factor de exclusão” de acesso ao ensino superior.
“Os jovens estão a ser expulsos da Universidade porque não conseguem encontrar uma forma de pagar um quarto ou estão remetidos para quartos sem nenhuma condição de salubridade”, denunciou.
Para resolver o problema, a dirigente partidária considera que há “soluções de curto prazo, de médio prazo e de longo prazo”. A nova construção, notou, “é uma solução de longo prazo” que, dependendo das cidades, “pode não ser a mais adequada”.
“Nós não temos dúvidas que em alguns locais a construção é muito necessária, mas quando perguntarem à maior parte dos partidos ou das autarquias vão dizer que essa é a única solução possível. E só dizem isso porque não querem mais nenhuma e porque não estão dispostos a aceitar politicamente mais nenhuma, porque há outras”, sublinhou.
Como outras soluções, Mariana Mortágua apontou para a possibilidade de requisitar hotéis para servirem o propósito de residências estudantis, utilizando um mecanismo a que já se recorreu durante a pandemia de covid-19.
“Se nós temos uma situação em que os jovens não conseguem aceder à Universidade e estão a ser expulsos porque não pagam, então é uma situação de emergência nacional”, referiu.
Além dessa solução, a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu também a transformação de edifícios públicos em residências ou habitação, denunciando que parte desses imóveis “estão a ser vendidos e outros continuam abandonados ou devolutos”.
Mariana Mortágua reafirmou ainda a necessidade de limitação do alojamento local, a limitação da actualização das rendas e o combate a contratos informais de habitação, que “escapam a qualquer regulação” e onde há “uma política quase de extorsão de quem mais precisa de habitação”, notou.