Estão abertas as candidaturas à nova edição do concurso ‘História Militar e Juventude’, dirigido a crianças e jovens entre os 10 e os 19 anos, que frequentem os 2.º e 3.º ciclos e o secundário (regular e profissional) em Portugal e nas escolas portuguesas no estrangeiro. O tema deste ano é ‘Abril: das armas às urnas na minha terra’ e num momento em que se celebra meio século da Revolução dos Cravos. As inscrições decorrem até 24 de Abril de 2025 e a entrega de trabalhos acontece entre 30 de Abril e 14 de Maio do próximo ano, em função da categoria em que os alunos concorrem.
Este é um concurso centrado na exploração de perspectivas locais da História Militar, com o objectivo de desenvolver nos alunos o interesse pela pesquisa, reflexão e divulgação de eventos históricos nacionais relevantes. Nesta 5.ª edição pretende-se que os trabalhos documentem como, a nível local, se desenrolou o processo que desembocou nas eleições de 25 de Abril de 1975, seja através das vivências da população, ou das acções desenvolvidas pelos protagonistas, militares e civis, nomeadamente o processo de recenseamento e o acto eleitoral, podendo incluir-se acções cívicas como as campanhas de dinamização cultural e acção cívica do Movimento das Forças Armadas (MFA) ou o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL). O concurso prevê a realização de trabalhos individuais, pares ou de turma, em formato escrito ou audiovisual.
Os trabalhos vencedores serão seleccionados de acordo com o rigor histórico, a relevância das fontes, a forma como a informação é utilizada, a clareza na exposição e a originalidade, valorizando-se uma reflexão sobre as competências adquiridas. Os prémios a atribuir variam consoante a idade dos participantes e o tipo de trabalho e incluem prémios monetários e livros.
História cativa várias gerações
Isabel Pestana Marques, membro da Associação de Professores de História (APH), e da organização do concurso, falou com o “Campeão das Províncias” sobre esta iniciativa e explica que esta começou em 2021 e se centra na exploração de perspectivas locais da História Militar.
“Deste modo, estudantes de diferentes partes do nosso País e do mundo, têm participado com entusiasmo. Pesquisando, estudando, criando trabalhos de grande qualidade, com rigor e criatividade, merecedores de prémios e de divulgação na comunidade. Inspirando, por sua vez, outros jovens a participar no concurso”, salienta.
Em 2021, em plena pandemia de Covid-19, o concurso foi lançado com um tema genérico – ‘A história militar na minha terra’ – desafiando as escolas a participarem. “A adesão foi significativa e, desde então, o concurso tem sugerido um tema anual mais específico como ‘o património histórico-militar edificado’ em 2022, ‘a guerra colonial’ em 2023 e o ‘25 de Abril’ em 2024. “Quatro edições centradas na história local ao privilegiarem ‘a minha terra’ e sempre com um número crescente de estudantes- autores, apoiados por tutores (professores, familiares ou testemunhos locais) e por entidades parceiras (bibliotecas escolares e municipais, arquivos, museus, regimentos ou protagonistas)”, esclarece Isabel Pestana Marques.
A responsável refere que, ao longo deste tempo, “o fazer e divulgar História tem cativado várias gerações num diálogo profícuo entre o passado e o presente, numa autêntica ‘rede informal’ promotora do gosto pela História e pela preservação do património, ao nível local e nacional”.
Assim, faz um balanço “muito positivo, patente no crescente número de participantes e no retorno que estes nos dão do seu trabalho. Particularmente, de como este contribuiu para consolidar a noção de que a história é uma ciência e de que a construção das narrativas históricas carece de fundamentos sólidos de análise e de reflexão”.
Na edição deste ano, o tema é o 25 de Abril no contexto dos 50 anos da Revolução. Isabel Pestana Marques considera que a adesão, tendo em conta a experiência do ano passado, também relacionada com a Revolução, “será certamente grande. Desta vez, com o tema ‘das armas às urnas’”.
“Os jovens, quando lhes é dado espaço para reflectirem autonomamente sobre o 25 de Abril, chegam quase unanimemente à conclusão da importância deste acontecimento na história portuguesa recente. Percebem o quão profundas foram as mudanças políticas, sociais, económicas e mentais. Percebem que há, claramente, um antes e um depois”. Adianta que “o diálogo com as fontes documentais, físicas ou orais, existentes nos arquivos, nas bibliotecas, no baú de uma família ou num diálogo com um protagonista, tem envolvido alunos de diferentes idades numa experiência reflexiva de descoberta e de estudo do passado, sem esquecerem o seu presente”.
E dá um exemplo: “até à data, os estudantes já fizeram centenas de entrevistas a protagonistas da História, homens e mulheres, militares e civis, maioritariamente anónimos, registando e conservando os seus testemunhos. Experiências inesquecíveis para os entrevistados e para os jovens investigadores”. Deste modo, sublinha, “a mais-valia principal, para além da descoberta e aplicação das metodologias do ‘fazer história’, é entenderem que são herdeiros directos de conquistas do passado e que nada é eterno. Que a democracia, por exemplo, implica um combate contínuo aos que a tentam destruir”.
“Fazem falta mais projectos interdisciplinares”
Também Miguel Monteiro de Barros, Presidente da Direcção da Associação de Professores de História, falou ao “Campeão” sobre a importância desta iniciativa. Salienta que este concurso foi concebido para divulgar a história militar num âmbito local e regional e “para incutir nos jovens o gosto pela investigação histórica e pelas suas metodologias, nomeadamente através da análise crítica das fontes, sejam estas escritas, orais ou materiais”.
A nível do ensino e aprendizagem, é dedicado tempo suficiente nos programas curriculares à história recente do País, no caso, ao tema do 25 de Abril? À pergunta, Monteiro de Barros responde que não é possível dar uma resposta concreta, “já que isso varia muito de escola para escola, e de sala de aula para sala de aula. Mas cremos que, no geral, estes temas são suficientemente explorados. Dito isto, fazem falta mais projectos interdisciplinares, já que a disciplina de História não é a única a abordá-los”.
Sobre o impacto que este tipo de acções tem na sedimentação da democracia e no debate público, Miguel Monteiro de Barros considera que “é relevante”, já que um aluno que participe num concurso deste tipo “será, à partida, menos permeável a discursos populistas, já que saberá distinguir o que é uma narrativa histórica do que é propaganda ou lixo desinformativo, destinados a criar caos e descontentamento”.
O concurso ‘História Militar e Juventude’ é promovido pela Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM) e pela APH, em parceria com a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril. Nesta edição, volta a contar com os apoios do Plano Nacional de Leitura 2027, da Associação dos Municípios Portugueses (ANMP), da Associação 25 de Abril e da Liga dos Combatentes.
Mais de 1.000 jovens procuraram saber mais
Nos últimos dois anos (2023 e 2024), o Concurso ‘História Militar e Juventude’ mobilizou mais de 1000 jovens, que apresentaram trabalhos com enfoque local sobre a Guerra Colonial e sobre o 25 de Abril. Considerando apenas a 4.ª edição do concurso dedicada ao tema ‘O 25 de Abril na minha terra’, participaram mais de 500 estudantes e 50 professores de áreas diversificadas. Foram submetidos 110 trabalhos escolares de 29 estabelecimentos escolares dispersos por 22 concelhos de 14 distritos, incluindo Açores, Madeira e Timor-Leste. Participaram ainda nesta iniciativa 56 entidades parceiras, como bibliotecas, museus, associações ou arquivos.
Texto: Ana Clara (jornalista do “Campeão” em Lisboa)
Publicado na edição em papel do Campeão das Províncias de 5 de Dezembro de 2024