Quando falamos de mau planeamento das obras em Coimbra, não estamos na noite da má língua. Estamos a falar de obras pára-arranca, de múltiplos troços simultâneos com cortes, separadores desalinhados e material associado que parece permanente, de vias de circulação em hoje é verdade amanhã é mentira, de escassez de trabalhadores para o aparato instalado, de buracos, terra solta e desperdícios devastadores para veículos (a piorar, após Solum e Baixa).
Quando falamos de indicadores, temos de ser sérios e não manipuladores, valorizando bons rankings e não iludindo os cidadãos distraídos. Coimbra é o 6.º distrito com mais mulheres vítimas de violência (APAV). Coimbra foi considerado “Melhor Município para Viver” (pela saúde), segundo um estudo feito em 10 áreas, apenas em 20 municípios de 308 existentes, sendo que 12 municípios pagaram o estudo (entre os quais Coimbra, cuja candidatura custou 15.375 euros), mas não ficou nos 5 primeiros lugares globais.
Quanto a indicadores fidedignos (INE), em Coimbra, em 2023, a taxa de crescimento efectivo anual (0,3%) foi inferior à do País, a taxa de crescimento natural anual foi inferior à NUTS II e III e idêntica à do País, em empresas e estabelecimentos, a taxa de sobrevivência das sociedades nascidas 2 anos antes foi idêntica à NUTS III e inferior à NUTS II e ao País.
O financiamento de actividades culturais e recreativas pelo Município de Coimbra foi superior às NUTS II e III, talvez pelo bónus de 440.000 euros à entidade promotora do concerto dos Coldplay. Não sabemos se em 2025 haverá idêntico (ou superior) bónus para o concerto dos Gun N` Roses em 6 de Junho, período pré-eleitoral…
A CIM da Região de Coimbra vai testar os indicadores de envelhecimento activo e saudável a aprovar pelas Nações Unidas, até 2026, implementando planos de acção, cujos indicadores serão avaliados em termos práticos. Esperemos para ver, quem vai fazer (Executivo conservador ou progressista), em Coimbra…
Quanto à propaganda é ver os titulares de cargo público municipal na azáfama das redes sociais, de forma explícita ou encapotada (coimbrinha), com a sua panóplia de revisores e comentadores de tudo o que mexe, vê-los em inaugurações de hipermercados (até daqueles que criticaram o anterior Executivo por os ter aprovado na Solum, lavando as mãos como Pilatos), vê-los quando se arranca uma erva (mesmo com glifosato e “culpa” das freguesias), reinaugura uma parcela de terra ou passeio, se acende uma luz de Natal no Outono inicial, se elogiam (alguns) restaurantes, ou até apenas se vagueia pela cidade, nunca como cidadão anónimo mas como venerando decisor em proximidade.
Não há milagre da Rainha Santa
O milagre da Rainha Santa, com resmas de empregos, empresas em presença física, fixação da população em barda, estratégia CulTec fervilhante, árvores de grande porte preservadas, revitalização da zona histórica (Alta e Baixa), a nova Maternidade para anteontem, o fim da guetização, a erradicação dos sem-abrigo e sua integração, a limpeza urbana digna, construção de ciclovias com financiamento do Governo, lamentavelmente, não se verificaram.
E vamos dar a voz aos cidadãos, porque as pretensas grandes obras não podem subestimar os problemas dos cidadãos e da comunidade.
Na Rua Belisário Pimenta, o lancil do passeio é íngreme, uma parte abateu, as pedras da calçada estão soltas. As obras consignadas na empreitada da EB1 de Coselhas não estão realizadas. Há desvio da electricidade pública para privados na Rua Pedro Nunes com lixo abundante (fraldas, alimentos, satisfação das necessidades fisiológicas, plásticos, roupa, etc.). Há acidentes no campo da Arregaça pelas condições degradadas das instalações. O canavial junto a S. Romão é desbastado pelos automóveis. O licenciamento é um calvário para o cidadão e as empresas. O Pólo Taveiro da USF Manuel Cunha tem 5 inaugurantes e nem o nome do digno Dr. Manuel Cunha está certo. O terreno retirado há 50 anos aos moradores do Bairro da Cumeada não é devolvido (2 barracões pré-fabricados ocuparam jardim). O Plano Municipal para as Alterações Climáticas, a Declaração de Emergência Climática (prometida) e o Conselho Municipal de Acompanhamento não estão a ser cumpridos. As obras do Centro Olímpico de Ginástica e Complexo Desportivo Integrado continuam no pára-arranca. Cresceram os “hotspots de lixo”, com falhanço da política de educação ambiental. Aumentaram as ilhas de calor (abate de árvores na Emídio Navarro, Fernando Namora, Tenente Valadim, Praça 25 de Abril, …). Há mais de mil caldeiras vazias de árvores, e por aí vai, por aí vai…
Querem mais locais, espaços e obras não executadas ou degradadas em Coimbra? Não há páginas suficientes para tão extensa lista, nem para as 112 promessas que não passaram de canções, nem para a demagogia da hipervalorização do pormenor, nem para a mentira de perna curta que desvirtua a acção política.
Coimbra está retalhada e está a retalho, em queda abrupta, que só não vê quem não quer ver, quem tem conflito de interesses, ou quem tem a inocência como lema.
(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra