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Universidade de Coimbra identifica marcadores para a detecção precoce da doença de Parkinson

19 de Novembro 2024 Jornal Campeão: Universidade de Coimbra identifica marcadores para a detecção precoce da doença de Parkinson

Cientistas da Universidade de Coimbra (UC) descobriram novos marcadores no intestino que poderão ser utilizados em futuras estratégias para a detecção precoce da doença de Parkinson. A investigação, liderada pelos investigadores Sandra Morais Cardoso e Nuno Empadinhas, revelou que o microbioma intestinal, frequentemente alterado em pessoas com a doença, tem propriedades que podem desencadear alterações intestinais e sistémicas, levando ao surgimento de marcas neuropatológicas típicas desta condição.

Em estudos anteriores, já havia sido identificado que a disfunção crónica do microbioma intestinal poderia ser a origem de alguns casos da doença de Parkinson. No entanto, o novo estudo vai mais longe, confirmando que a doença pode ser desencadeada no intestino e revelando a presença de marcadores inflamatórios e de agregados da proteína alfa-sinucleína, um marcador cerebral clássico da doença, no íleo, região do intestino delgado.

Estes biomarcadores poderão ser utilizados para identificar a fase prodromal da doença, ou seja, os primeiros sinais da doença no intestino antes de esta progredir para o cérebro. “Intervindo nas alterações no intestino, será possível impedir que os efeitos avancem até ao cérebro, retardando a morte dos neurónios”, explica Sandra Morais Cardoso.

A equipa acredita que a detecção precoce destes marcadores permitirá não só a realização de ensaios clínicos para testar intervenções que possam impedir a progressão da doença, mas também oferecerá a esperança de retardar ou até prevenir a manifestação dos sintomas neurológicos. “Esta abordagem poderá melhorar a qualidade de vida dos doentes, além de aliviar a carga social e económica associada a esta condição”, afirmam os investigadores.

Os cientistas analisaram amostras do íleo terminal retiradas por colonoscopia de doentes e identificaram os mesmos biomarcadores, com resultados promissores. Embora ainda não se saiba exatamente a combinação de micróbios e metabolitos responsáveis pela disfunção do microbioma intestinal, os investigadores acreditam que a detecção precoce, entre os 50 e 55 anos, poderá identificar indivíduos com risco aumentado de desenvolver a doença.

A descoberta de novos biomarcadores é especialmente relevante, pois pode desempenhar um papel fundamental na implementação de estratégias de prevenção. A Organização Mundial da Saúde aponta que, em 2024, mais de 10 milhões de pessoas foram diagnosticadas com a doença de Parkinson, um aumento significativo desde 2016, quando o número era de 6,1 milhões. Em Portugal, cerca de 20 mil pessoas vivem actualmente com esta doença neurodegenerativa.

Com o aumento alarmante do número de novos casos, Sandra Morais Cardoso afirma que a doença já é considerada uma pandemia e prevê que, até 2040, o número de novos casos anuais ultrapasse os 17 milhões. “Esta descoberta pode ser vital para a implementação de estratégias de prevenção”, concluem os investigadores.

A equipa de cientistas já está a explorar novas linhas de investigação, focando-se em neutralizar o processo inflamatório no intestino antes que a doença de Parkinson se propague para o cérebro.