Coimbra  19 de Janeiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

Jorge Conde: “Instituto Politécnico de Coimbra está mais coeso”

17 de Novembro 2024 Jornal Campeão: Jorge Conde: “Instituto Politécnico de Coimbra está mais coeso”

Jorge Conde lidera o Instituto Politécnico de Coimbra desde Julho de 2017 e está a um ano de concluir o seu segundo mandato. Com uma longa carreira na área da saúde e ensino superior, destaca-se como um impulsionador de parcerias e inovação no ensino politécnico. Ao longo destes anos, reforçou o compromisso do Politécnico de Coimbra com a qualidade e expansão da formação técnica e científica, sendo uma figura respeitada tanto no contexto académico nacional como internacional.

 

Campeão das Províncias [CP]: Vai conseguir concretizar todos os seus objectivos para o Politécnico?

Jorge Conde [JC]: Ainda tenho quase um ano para concretizar alguns projectos, mas saio com a satisfação de ver o trabalho realizado, especialmente nos bastidores, onde muitas mudanças ocorreram. Hoje, a nossa organização interna é mais robusta e eficiente, algo que antes faltava. O Politécnico de Coimbra, antes visto apenas como um conjunto de escolas, começa a consolidar-se como uma instituição coesa, orientada no mesmo sentido. Este caminho está traçado, e com o tempo, a instituição ganhará o ritmo desejado. A cada ano, o Politécnico torna-se mais unido e reconhecido como uma marca credível, o que é uma conquista de que me orgulho.

Claro que há sempre algo a melhorar. Em conversas com a equipa, percebemos que ainda há muito por fazer, ideias a explorar e novos horizontes para o Politécnico e a região. Se me perguntarem se aproveitámos estes sete anos, diria com confiança que sim. O Politécnico de Coimbra sai mais forte, mais coeso e com uma marca que a região valoriza.

 

[CP]: O Politécnico de Coimbra cresceu?

[JC]: Sim. O crescimento do Politécnico de Coimbra tem sido significativo, mas enfrentamos várias limitações. Diferente de uma empresa, não controlamos as nossas receitas, pois propinas e financiamentos são definidos pelo Governo. Ainda assim, aumentámos o orçamento com parcerias com a Comunidade Intermunicipal, Câmaras e empresas, o que viabilizou projectos de impacto social.

O número de vagas para licenciaturas, limitado pela Agência de Avaliação e Acreditação, também restringe o crescimento. No entanto, conseguimos aumentar as inscrições em CTeSP, pós-graduações e mestrados, com estes a crescerem mais de 200% em sete anos.

Este controlo de vagas, embora limitador é necessário, evita a concentração do ensino superior em Lisboa e Porto, promovendo a coesão territorial e mantendo a oferta no interior do país, onde há menos oportunidades de estágio e emprego.

 

[CP]: Quantos alunos tem hoje o Politécnico de Coimbra?

[JC]: Hoje, o Politécnico de Coimbra conta com mais de 12.000 alunos em cursos formais, incluindo licenciaturas, mestrados e cursos técnicos superiores profissionais (CTeSP). Adicionalmente, cerca de 2.000 alunos participam anualmente em pós-graduações e microcredenciações, uma área que cresceu significativamente. Antes, 90% das pós-graduações estavam concentradas na Coimbra Business School; agora, todas as escolas oferecem estas formações e também têm mestrados em expansão.

Os CTeSP, que inicialmente existiam em apenas três escolas, já estão em quatro, e têm sido uma resposta eficaz à procura de formação técnica especializada e de curta duração. Recentemente, foram abertos novos cursos, como o CTeSP em Desporto na Mealhada e em Técnicos de Luz e Som para Espectáculos em Cantanhede. Estes cursos retomam o espírito original da criação dos politécnicos, proporcionando formação técnica, rápida e direccionada, essencial para o mercado de trabalho e valorizada pelas empresas. No total, no país, mais de 25.000 jovens estão inscritos em CTeSP e em Coimbra contamos com cerca de 1.000 estudantes nestes cursos, contribuindo para a transformação do ensino superior e para a qualificação da mão-de-obra.

 

[CP]: De que forma a estratégia de comunicação contribuiu para aumentar a notoriedade das escolas do Politécnico de Coimbra?

[JC]: As escolas do Politécnico de Coimbra sempre foram conceituadas, mas na sua maioria trabalhavam mal a comunicação. A Escola Agrária, por exemplo, teve sempre um papel importante, sendo a escola com maior expressão na investigação, com projectos de excelência na área agrária, florestal e alimentar. O que mudou foi a visibilidade, pois a escola cresceu em termos de comunicação. Este foco permitiu aumentar a notoriedade, com a Agrária a crescer cerca de 25% em número de alunos. A estratégia de comunicação do Politécnico e das próprias escolas foi essencial para destacar o que já era uma forte contribuição para a região e para o país.

 

[CP]: Quais foram os principais factores que contribuíram para o crescimento e desenvolvimento da Escola de Oliveira do Hospital nos últimos anos?

[JC]: Nos últimos 7 anos, a Escola de Oliveira do Hospital foi uma das que mais beneficiou da dinâmica de crescimento do Politécnico de Coimbra. Após um período difícil, em que teve menos de 300 alunos, a escola tem vindo a crescer, ultrapassando agora os 700 alunos, mais do que duplicando o número inicial. A aposta estratégica e a crescente notoriedade da marca Politécnico de Coimbra ajudaram nesse processo. O objectivo agora é alcançar 1.000 alunos, número sustentável para o funcionamento da escola.

Além disso, estamos a investir na construção de uma residência de estudantes, um projecto emblemático em Oliveira do Hospital, com a recuperação do antigo hotel São Paulo. Espera-se que as obras estejam concluídas até ao próximo ano lectivo. Também está em andamento a construção de uma nova escola, com capacidade para 1.000 alunos, com previsão de conclusão em 5 anos, o que proporcionará uma base sólida para o futuro da escola.

 

[CP]: O Politécnico está a apostar no crescimento fora da cidade de Coimbra. Porquê?

[JC]: Iniciámos o projecto de descentralização do Politécnico há 23 anos, começando por Oliveira do Hospital. Actualmente temos mais quatro localizações em expansão: Cantanhede, Lousã, Mealhada e Anadia. A estratégia de descentralização é baseada no aproveitamento de características regionais, como a floresta na Lousã, a arte em Cantanhede e a vitivinicultura e desporto em Anadia e Mealhada. Em cada região, identificámos um produto endógeno para atrair jovens e fortalecer a relação com as comunidades locais. Em Arganil, o projecto está a ser desenhado com foco no rali e na engenharia de competição, com previsão de início em 2026. Cada projecto é desenvolvido para corresponder às necessidades e potencialidades de cada território.

 

[CP]: Contribuiu de forma consistente para desenvolver o ensino politécnico em Portugal.

[JC]: Modéstia à parte, acredito que sim. O trabalho que fiz, tanto a nível local como nacional, foi sempre no sentido de mostrar que o ensino Politécnico, qualitativamente, é tão bom quanto o universitário, mas com ofertas diferentes. O Politécnico teve dificuldade em comunicar que, embora os professores tenham uma carga horária maior, são altamente qualificados e conseguem fazer muito para lá de dar aulas. Um estudo recente denuncia que, um professor universitário tem 7,5 horas de aulas semanais, enquanto no Politécnico são 13. Isto limita a disponibilidade para investigação, mas também proporciona mais proximidade com os alunos. Em Coimbra, a carga horária é de 12 horas. O Politécnico trabalha de forma mais prática e próxima das empresas, um modelo cada vez mais valorizado pelas novas gerações, e que as universidades estão a adoptar.

 

[CP]: O que vai fazer quando terminar o seu mandato?

[JC]: Não sei. O meu horizonte é de quase dois anos. Tenho um ano de mandato até ao Verão do próximo ano e, depois, tenho direito a uma licença especial de serviço, que é algo que os dirigentes do ensino superior podem pedir para se actualizarem. Portanto, tenho esse período de quase dois anos pela frente e não estou particularmente preocupado com o que vou fazer a seguir. Estou disponível para novas oportunidades, mas também estou aberto a voltar à sala de aula. Um professor nunca deixa de o ser.

 

[CP]: O seu nome está em cima da mesa para a Câmara Municipal de Coimbra. Está disponível?

[JC]: Sempre me interessei pela política, mas sem nunca ter tido um papel activo. Nunca procurei um lugar político, mas também não excluo essa possibilidade. A prova disso foi que aceitei integrar a lista ao Parlamento Europeu nas últimas eleições. Isso mostra que estou disponível, sim, para isso. Há lugares para os quais não estarei disponível, como é o caso da Câmara Municipal de Coimbra. Não estou disponível para o poder autárquico, por razões de gosto pessoal. O poder autárquico nunca me atraiu verdadeiramente. Posso até olhar à minha volta e pensar que faria certas coisas de outra maneira, até melhor, mas, honestamente, não me atrai. Apenas por isso me tenho mostrado indisponível para abraçar um projecto autárquico, quer em Coimbra, quer em qualquer outra cidade.