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Hernâni Caniço

Teresa Alegre Portugal, a vida pública e a homenagem

15 de Novembro 2024

Teresa Alegre Portugal, nascida a 23 de Agosto de 1939, falecida a 2 de Novembro de 2024, licenciada em Filologia Germânica, professora do Ensino Secundário aposentada, foi uma figura ímpar na vida cívica e política, com destaque em Coimbra, constituindo o seu desaparecimento uma perda marcante na cidade e no concelho de Coimbra, ao qual se dedicou mais expressamente.

Foi uma lutadora pela liberdade e democracia durante o regime da ditadura, nomeadamente participando em reuniões e encontros de figuras da arte e da cultura de oposição ao regime discricionário, com o seu marido António Portugal (que deixou a mais ampla e completa discografia do Fado e da Guitarra de Coimbra), Pinho Brojo, José Afonso, Luiz Goes, Fernando Machado Soares e tantos outros democratas e antifascistas.

Desempenhou funções de gestão da res publica com conhecimento, empatia e ponderação; teve intervenção sistemática e permanente nas estruturas da sociedade civil organizada apoiando causas relevantes para a população; teve militância política no Partido Socialista, sendo uma sua referência e contribuindo para a apologia dos valores do socialismo, da democracia e da partilha da solidariedade; estabeleceu relação profícua com as outras forças políticas, incrementando a dignificação da vida política, com respeito democrático e prestimosa sensibilidade para o diálogo.

Institucionalmente, foi vereadora da Câmara Municipal e deputada municipal de Coimbra e deputada da Assembleia da República, sendo, entre várias ligações institucionais e aos movimentos de acção cívica, membro do Conselho Municipal da Cultura de Coimbra e membro do Núcleo de Coimbra da Associação José Afonso e da APRe! – Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados.

Foi condecorada pelo Presidente da República Jorge Sampaio, como Grande Oficial da Ordem da Liberdade.

Teresa Alegre Portugal, enquanto vereadora da Câmara Municipal de Coimbra, a partir de 1989, durante 12 anos, e tendo o pelouro da Cultura, Turismo e Espaços Verdes, deixou uma marca inapagável.

Criou-se a Casa Municipal da Cultura, desbloqueou o projecto da Biblioteca Municipal, iniciou a política de aquisição de colecção de arte municipal (com a doação de Tello de Morais).

Coimbra foi Capital do Teatro, o Teatrão e a Escola da Noite tiveram atribuição de espaços de trabalho para o seu desenvolvimento, criou espaços de exposição e o teatro de bolso onde ainda hoje funciona a Bonifrates.

Durante os seus mandatos, as Associações Culturais de Coimbra tiveram apoios consistentes e regulares, que lhes permitiram consolidar-se e concretizar centenas de projectos.

Procedeu à aquisição da casa de família Cochofel (posterior Casa da Escrita) e delineou a função turístico-cultural do Convento de S. Francisco (com Alexandre Leitão). Desenvolveu o Círculo de Artes Plásticas e o Exploratório.

Criou eventos como o Festival José Afonso e o Festival de Música de Coimbra, estabeleceu protocolo com a Universidade de Coimbra para programação e realização de dezenas de eventos relevantes no TAGV. Apostou na Canção de Coimbra, na sua candidatura a Património Mundial, e no desenvolvimento do projecto musealização na Torre D`Anto.

Nasceu o projecto da Orquestra Clássica do Centro e consolidou-se durante o seu mandato. Os Encontros de Fotografia de Coimbra ganharam dimensão internacional e forma lançadas as bases para a instalação do CAV (Centro de Artes Visuais) no Pátio da Inquisição.

O recinto da Queima das Fitas cresceu primeiro para o local onde hoje está o Parque Verde e depois para a Praça da Canção, permitindo o crescimento e a dimensão daquele que foi, nos anos 90, o maior evento estudantil da Europa.

Autonomizou a política de desenvolvimento turístico de Coimbra como função municipal. Criou os postos municipais de turismo da Universidade e da Praça da República, bem como os programas “Passear na História” e “À Mesa com as Freguesias”, e desenvolveu a animação de Verão na Baixa.

Pelos seus valores e princípios, pelo combate à ditadura e luta pela liberdade, pela cultura e ação social, pelo seu humanismo, Teresa Alegre Portugal merece o reconhecimento e a homenagem de Coimbra.

Deste modo, é de inteira justiça a atribuição do nome de Teresa Alegre Portugal a um espaço geográfico no aglomerado urbano, nomeadamente arruamento na toponímia da cidade ou, por exemplo, que a Casa Municipal da Cultura seja designada Teresa Alegre Portugal, pela sua criatividade, participação, amplitude cultural e desenvolvimento na época, e que venha a perpetuar a sua identidade e a sua mais valia para Coimbra.

(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra