Da janela larga da Casa Amarela, via-se a eira. Do lado de lá dos vidros da janela larga, uns olhos de criança. E ela – a criança – observava tudo o que a natureza lhe podia oferecer naquele dia de Outono. Era a agonia do Verão. Então, aberta a janela de par em par, o quarto amplo era banhado por um perfume inebriante a eucalipto. Era como se fosse Primavera. Era a Mata do Choupal a presentear o seu filho nascido do seu ventre, no berço modesto da Casa Amarela.
Choupalino de nascimento e choupalino na vida. Choupalino de um tempo de simplicidade. Choupalino de um tempo de privações. Choupalino de um tempo de angústias. Choupalino dos rigores do Inverno à luz ténue da candeia em redor da lareira incandescente num clamor de paz. Choupalino no amar da natureza. Choupalino no abraçar de um rio. Choupalino no venerar de uma máquina de comboio a vapor. Choupalino na valsa dançada ao sabor da brisa de Outono de carvalhos, choupos e eucaliptos. Choupalino no sentar na eira a ouvir o trinado coimbrão do motor de rega. Choupalino no cerrar dos olhos ao som dos regatos de água, ora com o timbre fino de uma soprano, ora com voz troante de um tenor. Choupalino no apurar do ouvido ao piar das aves ao entardecer. Choupalino de um tempo de lamúria outonal das árvores desfalecidas a querer chorar no seu ombro. Choupalino de lágrimas no rosto.
Foi dia de finados. Hoje, é dia de Memórias. Porque Memórias são mais que recordações. Tu, meu pai Agostinho Pereira. Tu, minha mãe Maria Etelvina Pereira. Tu, meu Avô José António Pereira. Tu, minha avó Maria José Pereira, trataram e amaram o Choupal no vosso estatuto de residentes na Mata que foram e nessa circunstância choupalinos. Choupalinos que foram e são. Resto eu, sobrevivo daquele pequeno núcleo familiar, sentado nas margens do Mondego junto da Casa Amarela que foi nosso ninho de outrora.
Choupalinos fomos. Choupalinos somos. De sempre e para sempre na poesia fúnebre da morte e no celebrar da Vida.