Vitória Abreu tem pela primeira vez em mãos a liderança da Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz (ACIFF), a cujos órgãos sociais pertence há mais de uma década, assumindo, por inerência, também a Incubadora de Empresas da Figueira da Foz. Eleita em Julho deste ano, a primeira mulher a comandar a terceira mais antiga associação nacional deste tipo, a caminho dos 190 anos, revelou ao Campeão das Províncias como pretende ajudar o concelho a crescer.
Campeão das Províncias [CP]: A ACIFF é uma das mais antigas associações nacionais. Qual diria que é, actualmente, a sua missão?
Vitória Abreu [VA]: Fazendo uma leitura dos nossos Estatutos, a missão da ACIFF é “a defesa dos legítimos interesses e direitos de todos os empresários associados, contribuindo para o prestígio e dignificação da sua actividade” e “promover o desenvolvimento do comércio, indústria e serviços, contribuindo de forma harmoniosa e integrada para o desenvolvimento económico e social da sua área de actuação”.
Esta Direcção revê-se completamente nos estatutos, acrescentando agora o sector do turismo, que à altura da sua elaboração era residual. Por outro lado, entendemos o papel da Instituição como um player fundamental, que agrega forças e vontades pela Região, devendo interagir com todos os outros actores com lealdade, confiança e diálogo, em prol da captação de investimento, quer privado quer público. O nosso objectivo passa por ter um território mais produtivo e capaz de atrair talento. Entendemos que só assim conseguiremos ajudar na consolidação de um concelho mais próspero, onde todos os associados têm a ganhar.
[CP]: E quais as principais mais-valias do concelho da Figueira da Foz?
[VA]: Não faltam, mas destacaria a Natureza preservada, o Património e o Território com forte identidade e tradições únicas; a Gastronomia, que integra o património mas que merece destaque próprio; o Salgado, o rio e o mar com os seus potenciais económico e turístico; a Indústria, consolidada nalguns sectores e outros sectores com actores a aparecer com bastante valor acrescentado. Posso ainda falar no aumento da capacidade dos parques industriais; no facto de sermos uma cidade com porto de mar e de pesca, com uma boa rede rodoviária e ferroviária e com um reforçado ecossistema de empreendedorismo assente no triângulo Universidade de Coimbra (UC) / Incubadora de Empresas da Figueira da Foz(IEFF) / Indústria.
[CP]: Que áreas estão, na sua óptica, em franco desenvolvimento, nesta época em que vamos assistindo à crescente presença da automação e da Inteligência Artificial?
[VA]: Estamos neste momento a fazer um levantamento exaustivo através de um observatório criado por nós e, em breve, teremos mais dados para partilhar. Podemos desde já avançar que o turismo está a crescer na cidade, assim como as actividades ligadas à economia azul.
[CP]: No Comércio e nos Serviços, quais são os caminhos do futuro e de que forma a ACIFF se propõe ajudar a construí-los?
[VA]: Com o aumento da indústria de todos os tipos, acreditamos que o comércio e os serviços terão condições para crescer e melhorar a sua rentabilidade. Gostávamos de ver, por parte da tutela, mais medidas de discriminação positiva para o comércio tradicional. Sabemos que é um sector que continua a sofrer bastante com as novas dinâmicas ocorridas na cidade nas últimas décadas. A centralidade mudou com a criação de novas vias rodoviárias e os tradicionais lugares do comércio não acompanharam essa dinâmica, sofrendo bastante.
[CP]: No sector do Turismo, há um movimento em contraciclo, com as pessoas a procurarem experiências mais humanizadas, isto não requer mão-de-obra mais especializada?
[VA]: Sim, estamos de acordo, há uma tendência crescente de turistas que procuram experiências mais humanizadas. O nosso território tem uma forte identidade, com tradições bastante vivenciadas pelas comunidades, uma gastronomia muito própria e manifestações populares muito ricas. É claramente um desafio de todos, saber vender este potencial sem o banalizar. Outra coisa é o serviço na hotelaria e restauração. Sim, teremos de ter tendencialmente mão-de-obra mais comprometida com este desígnio, o que implica mais formação e informação dos recursos humanos, na nossa opinião.
[CP]: Por falar em mão-de-obra, esse continua a ser um problema na Figueira da Foz. O que tem sido feito de relevante, pela ACIFF ou por outras entidades, como escolas ou o pólo da Universidade de Coimbra na Figueira da Foz, por exemplo, para mitigar esse problema?
[VA]: Na ACIFF estamos atentos aos nossos associados e com alguma frequência questionamos as empresas acerca das suas necessidades de formação e de mão-de-obra qualificada. Encetámos várias estratégias de intervenção no sentido de melhorar a qualidade dos nossos Recursos Humanos, sendo nossa intenção continuar em vários processos, em parceria ou de forma autónoma. Por exemplo, temos assento nos processos de decisão da oferta formativa de algumas escolas no que diz respeito à escolha de Cursos Profissionais com maiores carências no mercado.
Estivemos como parceiros na vinda dos CTESP- Cursos Técnicos Superiores Profissionais para a Figueira, numa parceria com a Escola Bernardino Machado e o Instituto Politécnico de Coimbra. Ministrámos, até há pouco tempo, formação profissional, Unidades de formação de curta duração (UFCD) no sentido de iniciar/aprofundar/fomentar o conhecimento em várias áreas (línguas, informática, primeiros socorros, conflitos e relações interpessoais, entre outras). Infelizmente não vimos a nossa candidatura aprovada para 24/27. E desde 2017 que, através do Centro Qualifica, trabalhamos a qualificação escolar, certificando adultos que viram o seu processo de aprendizagem interrompido.
Com a alteração do ensino obrigatório para o 12.º ano, variadas entidades e funções exigem tal qualificação escolar, o que leva à necessidade do adulto reconhecer as suas competências. Sabemos muito mais agora do que quando saímos da escola, o nosso percurso profissional, social e pessoal assim o ditou. Então, através do Processo de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) vamos validar todas as aprendizagens posteriores à frequência do ensino atribuindo-lhe uma qualificação escolar, seguindo as regras do Ministério da Educação.
[CP]: O anúncio de novos investimentos industriais e tecnológicos no concelho tem sido acompanhado pela ACIFF com entusiasmo ou cautela?
[VA]: Com bastante entusiamo, claramente.
[CP]: A Figueira da Foz tem assistido a um crescente aumento da população estrangeira. Estes novos cidadãos também procuram o apoio da ACIFF, também o podem ter?
[VA]: Estamos muito atentos e com trabalho feito. Iremos iniciar brevemente uma formação de português para estrangeiros, ajudando a formar os recursos humanos dos nossos associados e tecido empresarial em geral. Na Incubadora de Empresas temos ajudado, com o apoio da Start Up vida do IAPMEI.
[CP]: Para terminar, a pergunta inevitável: qual o maior objectivo para este seu primeiro mandato?
[VA]: Dar continuidade ao excelente trabalho dos mandatos anteriores. Prosseguir com a identificação dos melhores projectos para os nossos associados. Projectos que, efectivamente, ajudem os empresários a capacitar-se e possam também auxiliar na capacitação dos seus recursos humanos. Continuar a dar apoio a todos os interlocutores, para que o concelho possa acolher e desenvolver, com qualidade, todos os grandes projectos que estão previstos para o nosso território, e não são poucos.
Entrevista: Andreia Gouveia
Publicada no caderno 250 Maiores Empresas da Figueira da Foz da edição impressa do Campeão das Províncias de 31 de Outubro de 2024