São precisas entre 5 mil a 6 mil casas para vender e a procura supera a oferta no arrendamento. A cidade é procurada por brasileiros, mas há a novidade da chegada de italianos. A qualidade de vida é uma razão transversal para a decisão da mudança.
Ana Machado é empresária na mediação imobiliária. Lidera a Imoexpansão, uma das mais antigas e reconhecidas agências familiares na Figueira da Foz.
A PRAIA DE COIMBRA
Há uns anos era muito comum encontrar pessoas que trabalhavam em Coimbra mas residiam na Figueira da Foz, por trás desta decisão estava, frequentemente, uma razão económica. Os preços da habitação na Figueira eram mais acessíveis e compensavam a deslocação pendular diária. Neste momento os valores estão muito mais próximos, mas ainda há quem prefira viver na foz do rio Mondego.
Segundo o que o “Campeão” pôde auscultar junto dos profissionais da mediação imobiliária, a procura actual de quem tem a sua vida em Coimbra é atribuída principalmente a clientes na reforma ou pré-reforma e que procuram qualidade de vida, proximidade do mar e menos caos.
Ana Machado, da Imoexpansão, afirma que “neste momento temos muitas pessoas na idade da reforma que deixaram as suas casas para os filhos, ou venderam, e vieram viver definitivamente para a Figueira da Foz”.
A segunda habitação na cidade da Figueira da Foz sempre foi uma realidade e gradualmente vai-se tornando a primeira dos seus proprietários. “Os conimbricenses são exemplo de uma comunidade que tinham a sua segunda habitação por aqui, estão vir para cá viver, alguns nas mesmas casas outros trocaram para imóveis maiores”.
Segundo o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza, a Figueira é o segundo concelho do distrito de Coimbra com o valor mediano das vendas por metro quadrado mais alto em 2023. Enquanto Coimbra lidera com 1.734 euros/m2, a Figueira da Foz apresenta 1.412 euros/m2, menos 18,5%. Relativamente ao valor mediano por metro quadrado dos novos contratos de arrendamento, a Figueira mantém a segunda posição com 6,61 euros/m2, para 7,01 euros/m2 de Coimbra, apenas menos 5,7%.
MERCADO DE ARRENDAMENTO
Verifica-se, actualmente na Figueira da Foz, uma elevada procura de arrendamento que suga a pouca oferta. Além dos portugueses, há outras nacionalidades que se evidenciam no perfil de quem procura casa para arrendar, como brasileiros e italianos. Enquanto que a grande procura de naturais do Brasil não é notícia, os italianos são uma novidade. Principalmente jovens, qualificados e com empregos remotos ou híbridos, encontram qualidade de vida e proximidade das áreas metropolitanas onde podem deslocar-se pontualmente por razões profissionais. A procura brasileira divide-se entre o “mercado do Visto D7” e indivíduos ou famílias que encontram na cidade uma oportunidade para empreender ou enquadrar-se no mercado de trabalho.
MERCADO DE COMPRA
Para Ana Machado, “o mercado da Figueira, para ser dinâmico, precisa de 5.000 a 6.000 casas para vender e, neste momento, estamos muito abaixo disso”. À semelhança do arrendamento, a pouca oferta dilui-se entre a enorme procura. Entre moradias e apartamentos, actualmente o mercado procura mais apartamentos (acima do T1), pela segurança e pelo menor número de elementos da família.
CONSTRUÇÃO E PREÇOS
Para Ana Machado “não há construção em quantidade significativa e dilui-se procura, a oferta não acompanha”. Para a empresária não há construção neste momento por questões fiscais, morosidade burocrática e pelo rápido retorno de investimento na requalificação de imóveis em detrimento da nova construção, que alimenta a especulação.
NAS FREGUESIAS
Segundo Ana Machado,“o mercado imobiliário está tão efervescente que todas as freguesias da Figueira da Foz têm procura”. Buarcos e São Julião e Tavarede continuam a ser alvo da maior procura, com o crescimento da cidade tornou difícil a distinção entre as duas freguesias.
Percebemos que a freguesia que sofreu um maior crescimento na demanda foi São Pedro, imediatamente a sul da foz. Nos últimos anos, novamente por causa do preço ser inferior à cidade, foi sendo procurada e ocupada. São Pedro é hoje uma freguesia urbana da Figueira da Foz, banhada pelo estuário do Mondego e pelo Atlântico, servida pela estrada nacional 109, a menos de 3 quilómetros da A14, tem o Hospital Distrital da Figueira da Foz e um parque industrial de referência no concelho.
“Actualmente a diferença de preços entre São Pedro e a cidade são muito menores”, afirmou Ana Machado,que continuou: “nesta freguesia houve recentemente construção de novos empreendimentos e sabemos que as pessoas vão sempre para onde há construção. Verifica-se interesse dos compradores noutras freguesias a sul, como Lavos e o Paião, mas não há construção e o que há é recuperação dos imóveis que já existem”.
HABITAÇÃO A CUSTOS CONTROLADOS
O Município da Figueira da Foz prepara o investimento em Habitação a Custos Controlados. Esta novidade resultará no aumento do número de imóveis que existem no mercado, no respectivo preço, significando um incremento de oferta. A localização destes imóveis pode resultar na libertação de habitação circundante, que agora está arrendada, para venda. Apesar da dissuasão da burocracia, no caso concreto da Figueira da Foz ecoa a sensação de melhoria do município neste aspecto.
MEDIAÇÃO IMOBILIÁRIA
As empresas de mediação imobiliária na cidade têm aumentado em número e em dimensão desde a recuperação da última crise. Este aumento parece ser uma resposta natural do mercado à grande procura que se faz sentir. No seu perfil modificou-se a abertura, havendo mais partilha de negócios o que tem contribuído para o sucesso generalizado.
LOJAS E TERRENOS
A procura externa tem contribuído para a dinamização da economia, também neste concelho. O mercado brasileiro destaca-se nessa realidade, sendo responsável pela ocupação de espaços comerciais vagos para empreenderem, o que confere novas dinâmicas ao território. Por outro lado os terrenos, perderam expressão de negócio.
Ana Machado simplifica: “os terrenos são para construção, como há pouca construção os terrenos perdem interesse. É mais vendável um prédio antigo para reabilitar do que um terreno, até porque o retorno é mais imediato”.
SEGUNDA HABITAÇÃO E ALOJAMENTO LOCAL
“A cidade continua a ser muito acarinha, principalmente pelos residentes das Beiras, que continuam a procurar por aqui oportunidades de compra para a segunda habitação”, esclarece a empresária. A resposta ao turismo, segundo Ana Machado, “converteu em alojamento local muitos imóveis que poderiam estar disponíveis para o mercado de arrendamento.
Em resposta ao “Campeão”, a vereadora Olga Brás, da Câmara Municipal da Figueira da Foz e com o pelouro da Habitação, avançou, no passado dia 15 de Outubro, com os seguintes dados:
– Até à presente data foram assinados acordos com o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana para desenvolvimento da Construção/Reabilitação de 148 fogos. O total de investimento previsto é de 22.405.594 euros. Ressalva-se que ainda faltam assinar alguns acordos tripartidos que vão incrementar o total de fogos e o valor do investimento.
N.º de Fogos Localizações
1 Imóvel na Rua dos Bombeiros Voluntários
5 Imóvel na Rua José da Silva Fonseca
14 Imóvel na Rua dos Combatentes
24 Imóveis Ministério da Defesa
36 Terreno dos imóveis Ministério da Defesa
22 Imóvel na Rua Francisco António Diniz
10 Imóvel na Rua da República
14 Terreno Municipal junto aos Bombeiros Municipais
Campeão das Províncias: Que impactos esperam no mercado?
Olga Brás: Os impactos que se pretendem no mercado em primeiro lugar será a possibilidade de regularizar os preço das rendas; uma vez que irá haver mais oferta de fogos no mercado da Habitação. No fundo é o que se pretende com as novas politicas de habitação, e conseguir o grande desiderato de ajudar a construir o Futuro da Figueira. Depois, é de facto a fixação de agregados no nosso concelho que muitas vezes por falta de habitação no mercado, acabam por se fixar noutros concelhos, muito em especial com enfoque na população mais jovem; e em agregados da classe média, cujo custo de vida tem vindo a aumentar face a politicas que têm vindo a ser desenvolvidas ao nível de rendimento per capita. Lembramos que os ordenados intermédios não têm percentualmente o mesmo crescimento quando comparado ao aumento do Ordenado Mínimo Nacional.
Por outro lado a fixação daqueles que nos procuram por via do mercado de trabalho com a fixação de novas empresas e a procura ativa de outras empresas que se querem fixar no nosso concelho com conceitos de empreendedorismo com caráter inovador – seja ao nível de novas tecnologias, ao nível de empresas de energia verde para cumprimento das metas da descarbonização indicadas por metas europeias que todos teremos que atingir.
Também não podemos esquecer as novas tipologias de família – famílias monoparentais, e indivíduos que na casa dos cinquenta, sessenta anos se divorciam e que necessariamente ou forçosamente numa certa idade da sua vida têm que fazer alguns reenquadramentos na sua vida e necessitam de casa para se acomodarem. De Momento está em voga a terminologia do “Divórcio Grisalho”, o que de certa forma nos obriga a pensar em respostas para este tipo de público.
Por outro lado, no espetro do ensino é largamente conhecido a instalação do Campus Universitário da Universidade de Coimbra na Cidade da Figueira da Foz já com uma Licenciatura e dois Mestrados em curso que nos trazem outros desafios em termos de resposta habitacional.
Em suma, pretendem -se respostas na nossa cidade para todos; porque a nossa cidade é dos que cá vivem e dos que querem para cá vir viver! Queremos uma cidade inclusiva, acolhedora, virada para os desafios que a globalização nos coloca – seja no espetro do desenvolvimento científico, das alterações climáticas, dos nómadas digitais, no turismo. Uma cidade com a Marca do desenvolvimento activo. E, para que possamos almejar esse desiderato temos que apostar em habitação para todos.
Saun Tzu dizia que “As oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas” e é isso que temos tentado fazer, antecipando trabalho para que nenhuma oportunidade para resolver problemas que têm atrasado a Figueira da Foz durante anos seja perdida.
Texto: António Carraco dos Reis
Publicado no caderno 250 Maiores Empresas da Figueira da Foz na edição impressa do Campeão das Províncias de 31 de Outubro de 2034