«Caminhante vai dizer a Esparta que morremos aqui por obedecer às suas ordens» – Simónides de Ceo
Vimos quão deficiente é o cuidado dos sucessivos governos com a construção de casas onde os idosos possam repousar depois de uma vida de trabalho, quando as forças lhes começam a faltar e a necessidade de apoio social, médico e de enfermagem lhes é mais necessário. Aliás, para ser mais justo na apreciação, os governos sempre esperam que os mecenas se adiantem na construção de edifícios onde os idosos possam ser recolhidos. Pelo menos foi isso que aconteceu nos casos que conheço, tenhamos presente o que aconteceu em Campia, onde o Grupo de Caracas teve de ir à frente, como candeia que ilumina duas vezes, e o caso de Alcofra, onde a família do ex-Presidente da Câmara Municipal de Vouzela, o Dr. Telmo Antunes, teve de avançar com a doação do terreno para que se pudesse aproveitar o dinheiro do PRR, digamos com mais clareza, o dinheiro doado pela União Europeia. Se um qualquer mecenas não for à frente, as necessidades de respeito que é devido aos idosos ficarão por conta das Kalendas gregas. Sim, porque nas terras abandonadas do interior, onde os filhos tiveram de emigrar para os grandes centros à procura de emprego, não há plantação de mecenas, não se semeiam nem colhem se a chuva já não tiver destruído tudo. Ser governo é cuidar de um povo, não necessariamente gastar tudo na máquina emperrada dos gabinetes centralizadores.
Mas dito isto, fica ainda por aclarar o que entender exactamente por respeitar os idosos. Temos vindo a ver a parte emersa do iceberg. Outra parte vem imersa na penumbra da realidade. A esta parte chama-se psicologia dos idosos.
Os Lares
A palavra psicologia mete medo a muita gente e não é por acaso que os governos ditatoriais lhe têm uma raiva de morte. Também não foi por acaso que a ditadura de Salazar nunca quis introduzir a Psicologia nos estudos universitários, bem como e pelas mesmas razões não admitiu a Sociologia.
Mas é no profundo da alma que os idosos mais sentem a falta de respeito, o ataque à sua dignidade, ausência do cuidado. Berrar a um idoso só porque ele ouve mal, é falta de respeito, é ataque à sua dignidade. Melhor fora que se lhe segredasse ao ouvido o que é necessário fazer ou o que é necessário que ele faça; pela mesma ordem de razão, ameaçar um idoso é desrespeitar a sua dignidade; criticá-lo porque não fez bem o que era suposto que fizesse nada adianta ao processo, melhor fora que o ajudassem a fazer; não atender ao seu queixume quando lhe dói ou quando alguma coisa o incomoda é falta de respeito; tratá-lo como criança quando criança não é, é falta de respeito; negar-se a dar-lhe comida na boca quando já não segura a colher, é desrespeitar a sua dignidade. E isto não tem só que ver com o governo. Tem sobretudo a ver com a direcção técnica da Lar e a formação de todos os que lidam directamente com o idoso.
Um Lar não é a melhor coisa para arranjar um emprego, é antes de mais um lugar para trabalhar duro e com sentido de humanismo. Para ter emprego melhor será procurá-lo noutro lugar. Nos Lares ou se ama o serviço de ajuda ao próximo, o serviço que se faz, ou o melhor é pôr-se a mexer para longe. Mesmo quando o utente do Lar esteja demente, mesmo que esteja no último minuto da sua vida.