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Um em cada quatro doentes de lúpus toma corticoides há mais de 10 anos

10 de Outubro 2024 Jornal Campeão: Um em cada quatro doentes de lúpus toma corticoides há mais de 10 anos

No âmbito do Dia Mundial das Doenças Reumáticas, que se assinala no sábado (12), a Associação de Doentes com Lúpus (ADL) alerta para um dos motivos de maior preocupação em relação à doença: uma em cada quatro pessoas que têm lúpus toma medicamentos corticoides, superiores à dose recomendada, há mais de 10 anos. A instituição adverte, assim, para os riscos de efeitos colaterais a longo prazo.

“Apesar dos avanços da medicina, o tratamento do lúpus ainda apresenta desafios significativos para os doentes, nomeadamente, no que toca aos efeitos secundários da medicação mais comummente utilizada, os anti-inflamatórios”, afirma a presidente da ADL, Rita Mendes. A este propósito, um inquérito recente da World Lupus Federation dá conta de que “91% dos doentes com lúpus usam ou usaram corticoides de forma habitual, sendo que três em cada quatro (75%) tomam há mais de um ano e 27% (mais de um em cada quatro) há mais de uma década”.

Esta realidade traduz-se num aumento significativo de efeitos secundários graves como, por exemplo, diabetes, osteoporose e problemas cardíacos. Tendo conhecimento destas possíveis consequências, 96% das pessoas que têm lúpus “expressam preocupação e sublinham a necessidade de discutir opções terapêuticas com o seu médico assistente”. De acordo com Rita Mendes, “este inquérito realça a importância de oferecer aos doentes com lúpus outras opções terapêuticas, que minimizem os efeitos secundários e permitam uma melhor qualidade de vida a longo prazo. A informação, o diálogo entre médico e doente e um diagnóstico precoce são essenciais para alcançar este objectivo”.

Falta informação

O estudo da World Lupus Federation sublinha ainda que “60% dos inquiridos relataram ter experienciado, pelo menos, um efeito colateral grave”. A preocupação por parte da organização acresce quando 43% dos doentes que participaram na investigação “admitem tomar doses diárias de corticoides superiores à dose de manutenção recomendada, o que aumenta exponencialmente o risco de complicações”.

Nesse sentido, José Alves, director da unidade de doenças imunomediadas sistémicas do Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, salienta que os corticoides são “uma espécie de empréstimo a prazo, em que os juros vão aumentando muito com o tempo. É fundamental que os doentes sejam informados sobre os riscos e benefícios da medicação e que sejam exploradas todas as alternativas terapêuticas disponíveis”.

Esta necessidade de informação é também visível no inquérito, já que “cerca de 39% dos doentes não se sentem envolvidos nas decisões sobre o seu tratamento, o que pode contribuir para a frustração e para a diminuição da adesão à terapêutica”.

A lúpus é uma doença auto-imune, em que o sistema imunitário ataca o organismo em vez de o proteger. Não existe uma causa ou cura conhecida para esta patologia crónica. O sexo feminino é o mais afectado, sobretudo, em idades férteis, no entanto, a doença também se manifesta nos homens. Actualmente há cerca de quatro mil casos de lúpus em Portugal.

Cátia Barbosa (Jornalista do “Campeão” no Porto)