Coimbra  23 de Março de 2025 | Director: Lino Vinhal

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Paulo Cardantas

Futebol feminino é moda ou mais do que isso?

3 de Outubro 2024

Sou do tempo em que o União de Coimbra lutava pelos lugares da frente do campeonato nacional da 1.ª divisão de futebol feminino – o campeão era, invariavelmente, o Boavista. Mas também sou do tempo em que o futebol feminino terminou na Arregaça e quase ficou reduzido à insignificância no panorama nacional.

Honra seja feita à actual equipa directiva da Federação Portuguesa de Futebol que na última década reorganizou, estimulou e apoiou o regresso do futebol feminino aos tempos áureos das décadas de 80 e 90. Os números falam por si: em 2013 existiam 4.600 jogadoras federadas, atualmente há 15 mil.

O União de Coimbra soube, de forma inteligente, recuperar aquela que foi uma das suas melhores imagens de marca. E digo inteligente porque não recomeçou a construir a casa pelo telhado, não buscou o sucesso imediato, nem as goleadas para encher páginas de jornais.

Honra seja feita aos responsáveis do clube que começaram por captar meninas para os escalões de formação numa prospeção quase informal, feita porta-a-porta e boca-a-boca. Não se prometeram boas condições de treino (porque não existem), nem títulos.

Por estes dias, o União apresentou as equipas de três escalões da formação, em jogos com o Boavista, reescrevendo-se, de certa forma, a história que liga os dois clubes no futebol feminino.

Não critico quem opta por começar a construção da “casa” pelo telhado – como fez, por exemplo, a Académica/OAF, que criou este ano uma equipa sénior. Mas a exposição ao risco é muito maior. Caso os resultados não sejam estimulantes, as atletas que agora chegaram, partem em busca de melhores projectos e o clube não terá base para continuar a alimentar a equipa. Oxalá me engane, a bem do crescimento do futebol feminino e, quem sabe, de um dérbi entre Académica/OAF e União.