O julgamento do Lousanense e três dos seus dirigentes acusados de auxílio à imigração ilegal começou com o tesoureiro do clube a apontar culpas a agente de futebol brasileiro que seria responsável pelos jogadores.
O tesoureiro do clube afirmou que o agente de futebol brasileiro envolvido no caso (que se encontra em parte incerta) teria cobrado valores a jogadores que foram para o clube, o vice-presidente afirmou que todo o processo de inscrição dos atletas era conduzido pelo coordenador de futebol, que já morreu, e o presidente do clube à data afirmava que nada sabia de futebol, que não ia a reuniões, assinava tudo de cruz e que ia ao clube para ir ao bar “beber uma cervejinha”.
O Lousanense, clube da Lousã que milita nas competições distritais, três dos seus dirigentes com funções entre 2018 e 2020, e um agente de futebol são acusados de sete crimes de auxílio à imigração ilegal, sete crimes de utilização da actividade de cidadão estrangeiro em situação ilegal e sete crimes de falsificação pelo Ministério Público, de acordo com a acusação a que a agência Lusa teve acesso.
No arranque do julgamento, o presidente do clube à data dos factos afirmou que só foi presidente porque “não havia mais ninguém” para assumir o cargo.
“Eu não percebia nada de futebol, nem gostava de futebol”, afirmou o arguido, que disse não saber em que divisão o clube jogava nem o nome dos jogadores envolvidos no processo.
O homem de 68 anos vincou que nenhum dos processos passou por ele, mas admitiu que assinava “de cruz” os documentos que lhe pediam e nunca movimentou as contas do clube.
“Pode-se considerar que era [um presidente] ausente. Às vezes, ficava lá a beber uma cervejinha ou outra no bar, mas era isso”, resumiu.
Já o tesoureiro à data do clube aclarou que o agente de futebol, que também era arguido no processo, mas que se encontra em paradeiro desconhecido, terá tratado sempre dos processos dos jogadores com o coordenador do futebol do clube, que já morreu.
“Não tive qualquer intervenção na vinda dos jogadores. Um deles apenas soube que vinha na véspera, à noite”, afirmou, referindo que apenas soube que os atletas estariam ilegais, aquando da intervenção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Sobre as promessas de contrato de trabalho, que seriam falsas, o arguido explicou que era o coordenador desportivo que tinha um modelo de documento para assegurar que estes poderiam ser inscritos na Federação Portuguesa de Futebol.
O tesoureiro admitiu que o clube não tinha qualquer interesse em assegurar um contrato de trabalho para os jogadores, já que a instituição era amadora e não tinha capacidade para pagar salários.
Com a morte do coordenador desportivo, o arguido explicou que assumiu ele a estadia dos jovens na Lousã, salientando que chegou a pagar a viagem de regresso a um deles.
“Eu estava a pensar que estava a fazer o bem, a corrigir um erro, a tentar ajudá-los”, disse, referindo que manteve sempre boa relação com os jogadores e os pais deles.
O tesoureiro afirmou ainda que um dos jogadores lhe terá dito que vendeu “a geladeira [frigorífico] e micro-ondas” para dar dinheiro ao agente de futebol para vir jogar para Portugal.
“Acredito que alguns terão pagado três a cinco mil euros”, disse, salientando que, no caso do Lousanense, a estadia dos jogadores só deu “despesa”, não tendo sido cobrado nada aos atletas.
Também o vice-presidente do Lousanense afirmou que era o coordenador de futebol que assegurava o processo com os jogadores estrangeiros e analisava se estes teriam potencial para jogar no clube. “Eu pensava que estava tudo bem”, vincou.
Segundo a acusação, os membros da Direcção terão elaborado e subscrito documentos em que alegavam que asseguravam os meios de subsistência aos jogadores. Posteriormente, para a inscrição dos jogadores na Federação, era anexada uma alegada falsa promessa de contrato de trabalho.