Coimbra  2 de Dezembro de 2024 | Director: Lino Vinhal

Semanário no Papel - Diário Online

 

António Rodrigues Costa

Que irá acontecer às descobertas arqueológicas no subsolo da antiga Livraria Coimbra Editora?

20 de Setembro 2024

Uma notícia, não assinada, publicada na edição de 19 de Dezembro de 2004 do jornal Público, referencia a existência, na cave da antiga livraria Coimbra Editora, de vestígios arqueológicos – um trecho do fosso que integrava o sistema defensivo da cidade, silos árabes entulhados de cerâmicas e de fragmentos de alcatruz cerâmico – que julgamos relevantes para todos quantos se interessam pelas coisas de Coimbra.

A esta notícia acrescem documentos que nos foram disponibilizados que referem a realização, em 2004, de uma reunião nos Paços do Concelho que teve por objectivo «aferir/optimizar a melhor solução para o fosso», na qual foi autorizado «um corte de 0,80m paralelo à parede sul, ao nível da cave» e, ainda, «um rebaixamento do coroamento do fosso no máximo de 0,34m».

“Acordo/autorização” que permitiu que os vestígios então encontrados sumissem parcialmente e os que restavam fossem seriamente mutilados.

Vestígios mutilados que a Livraria Coimbra Editora. Ld.ª criou condições mínimas para a sua visualização

À declaração, no final de 2015, da insolvência da Coimbra Editora L.da, seguiu-se a compa do imóvel pela empresa Gomes & Góis, Ourivesaria e Joalheiros que continuou a facilitar a visualização do que restava das descobertas feitas.

Recentemente, o imóvel voltou a ser vendido agora, segundo parece, a uma empresa estrangeira da área da restauração. Actualmente o edifício está encerrado, não sendo conhecidas informações seguras quanto a futura utilização do mesmo.

Os factos referidos levaram-nos a reflectir sobre o assunto e a voltar a uma questão que, desde há longos anos, tenho procurado interessar Coimbra, a qual resumo colocando as seguintes interrogações.

Será que Coimbra não merece um núcleo museológico dotado das condições técnicas de exposição hoje disponíveis, destinado a dar a conhecer a história milenar da urbe?

Será que o edifício onde durante tantos anos esteve instalada a Livraria Coimbra Editora e que possui ainda, no seu subsolo, alguns vestígios arqueológicos ligados aos primórdios longínquos da existência do burgo não seria o local mais adequado para nele se instalar esse núcleo?

Será que a civitas irá assistir sem um arrepio a que, dos vestígios arqueológicos ali descobertos, nada mais reste do que um conjunto de documentos esquecidos nos arquivos?

Será que interessa a Coimbra que, num local tão nobre, seja dada prioridade à abertura de mais uma venda de pizas ou de “artesanato”?

É para esta reflexão que convoco todos os que amam Coimbra.

NA FOTO: Porta da Barbacã e fachada lateral do prédio, com letreiro da empresa Gomes & Góis e que antes teve o da Coimbra Editora

(*) Professor de Mercados Turísticos e Gestão Hoteleira