Coimbra continua a celebrar os 50 anos do 25 de Abril, este fim-de-semana, com um comício “sui generis” e um “jantar revolucionário”, um díptico de dança e música dirigido por Madalena Victorino que junta mais de 100 pessoas.
O espectáculo, intitulado “E se fizéssemos tudo outra vez?”, começa esta sexta-feira com um primeiro momento, o “Comício Revolucionário sui generis”, a decorrer pelas 21h00, no Pavilhão da Palmeira, na Baixa de Coimbra, e um segundo no sábado, intitulado “Jantar Revolucionário”, que vai realizar-se na Liga dos Combatentes, na Rua da Sofia.
O espectáculo alia dança e música para recordar o antes, o durante e o depois do 25 de Abril, juntando mais de 100 pessoas em palco, falando de partilha, de vida colectiva, de luto e de luta.
No caso do comício, toma como palco o campo do pavilhão do Sport Club Conimbricense, muito usado no pós 25 de Abril para a realização de comícios de partidos de esquerda na cidade. Nele, encontram-se mais de 100 pessoas, entre músicos da Filarmónica de Miranda do Corvo, uma banda, população de Coimbra e bailarinos profissionais.
Tanto há silêncio como alegria genuína, momentos soturnos e pesados como corpos que celebram e dançam despreocupados. O espectáculo começou como um desafio da Câmara de Aljezur, que Madalena Victorino adaptou agora para Coimbra.
“No fundo, eu acho que isto é uma lembrança de como a democracia é importante e de como é que ela nasceu no nosso país e de não ter medo de falar disso e de voltar a esses sons e a essas palavras”, disse à agência Lusa a coreógrafa.
Para Madalena Victorino, o 25 de Abril é “também uma celebração de um colectivo”, recordando a alegria que teve nesse dia, ao fugir de casa, com 17 anos, para ver o que acontecia nas ruas e encontrar pessoas “que se abraçavam e corriam umas para as outras e que se riam”.
“Os sorrisos diziam coisas que eu nem percebia bem, mas era um alívio, uma espécie de leveza, de tremenda alegria. As pessoas quase que não acreditavam, parecia um sonho, e essa alegria eu trago-a comigo, essa memória”, vincou.
Para Madalena Victorino, neste espectáculo, analisam-se as “relações de natureza humana” e há um foco na relação com os outros, com o coletivo, quando se vive numa época em que “está tudo muito centrado sobre si”.
No sábado, no “jantar revolucionário”, haverá uma “ementa pobre”, daquilo que se comia antes do 25 de Abril, como sopa de feijão, papas de milho, broa, bola, pequenas porções de peixe e carne “menos nobre e em pouca quantidade”, aclarou. Além do jantar em si, haverá jogos com a loiça que estará na mesa.
Com recuso aos garfos, facas, copos, bules, taças, terrinas e pratos, vão-se criar chaimites, fugas da prisão, naufrágios no Mediterrâneo, câmaras de gás, prisões, num espetáculo que irá resgatar também a memória do fascismo.
O jantar termina com um baile no Rancho das Tricanas, também na Baixa da cidade, em que o próprio público será convidado a dançar.
O espectáculo conta com direção musical de Johannes Krieger e Pedro Salvador.
Hoje, o espectáculo é de entrada gratuita, limitado a 350 pessoas, já o jantar tem um custo de 12 euros por pessoa e é sujeito a inscrição.
A programação em torno do 25 de Abril termina no domingo, com um concerto às 17h00, na Praça da Canção, em que participam bandas filarmónicas locais e os músicos Sérgio Godinho, Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves, Beatriz Vilar, JP Simões e Selma Uamusse.
A programação “Abril por Dizer” foi desenvolvida pela Comissão Municipal para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, criada pela Câmara de Coimbra.