O Programa de Cirurgia de Epilepsia da Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra realizou cerca de 500 intervenções a doentes com epilepsia refractária [que não é tratada por medicação] em 25 anos de actividade.
“A maioria das epilepsias é controlada por medicação, mas em cerca de um terço dos doentes isso não é possível, que são as chamadas epilepsias refractárias”, explicouaos jornalistas o coordenador do programa, Francisco Sales.
A comemorar 25 anos de actividade, o Programa de Cirurgia de Epilepsia dos Hospitais da Universidade de Coimbra, da ULS de Coimbra, foi iniciado em 1997 e consolidou-se em 1999 com as primeiras cirurgias mais complexas realizadas em Portugal, nomeadamente cirurgia com o doente acordado e cirurgias invasivas.
Numa visita à unidade, que funciona no pólo dos Hospitais da Universidade de Coimbra, o médico precisou que 20 a 30% das epilepsias são refractárias e que dessas 5 a 10% podem ser operadas e proporcionar uma nova qualidade de vida aos doentes.
Segundo Francisco Sales, em cada dois doentes operados um ficou sem crises epiléticas e “dos outros cerca de metade melhoraram a sua situação”.
“Ter epilepsia refractária é uma vida terrível. Melhorar esta situação é ter emprego e ter vida”, sublinhou o neurologista, que coordena uma equipa multidisciplinar constituída por 25 elementos.
Há 24 anos, Mário Pereira, de Tondela, actualmente com 49 anos, foi um dos primeiros intervencionados pelo programa, o que lhe permitiu voltar a ter uma vida perfeitamente normal.
Em declarações à agência Lusa, disse que teve epilepsia dos 16 aos 23 anos, causada por um tumor benigno, e que um ano após a cirurgia nunca mais teve crises e não voltou a tomar medicação.
“Estava muito condicionado e após a operação pude voltar a jogar futebol e a ir a uma discoteca e divertir-me”, sublinhou Mário Pereira, salientando que a sua vida “mudou totalmente”.
Desde 2015 que aquela valência passou a Centro de Referência de Epilepsia Refractária, sendo um dos quatro centros de referência nacional e um dos três portugueses que integram a rede europeia de referência em epilepsias raras e complexas.
Por ano são efectuadas pelo programa da ULS de Coimbra uma média de 25 cirurgias à epilepsia refractária, um número em linha com a actividade dos restantes centros de referência nacionais, e avaliados cerca de 150 doentes.
Na terça-feira, a equipa liderada por Francisco Sales realizou uma cirurgia inovadora em Portugal, que consistiu na implantação de um novo dispositivo de neuro-estimulação numa adolescente açoriana, no âmbito de uma parceria com um hospital alemão. De acordo com o neurologista, os novos dispositivos vão ser colocados em breve em mais dois doentes.
A unidade está também a efectuar seis ensaios clínicos com novos fármacos para a doença, no âmbito de projectos de investigação internacionais.
“O nosso maior desafio é a modernização [tecnológica], porque podemos ter uma equipa fantástica, mas se não nos modernizarmos é impossível manter a actividade”, salientou Francisco Sales, referindo que, dentro de pouco tempo, a unidade estará equipada com cirurgia por laser.
Em Portugal, segundo o médico, surgem anualmente 50 novos casos de epilepsia por cada 100 mil habitantes. “O Programa de Cirurgia de Epilepsia é mais um excelente exemplo da excelência única do Serviço Nacional de Saúde”, congratulou-se o presidente do Conselho de Administração da ULS de Coimbra, Alexandre Lourenço.
O responsável salientou que “a existência na mesma instituição de todas as valências necessárias para uma completa avaliação cirúrgica – Imagiologia, Medicina Nuclear, Neurofisiologia, Neuropsicologia, Neuroanestesia, Psiquiatria – foi essencial para o desenvolvimento desta área”.