O conceito não é novo, e normalmente é apresentado em torno dos 15 minutos. Consiste na ideia segundo a qual as principais infraestruturas e serviços de uma cidade necessárias ao quotidiano de um residente devem estar a não mais de 15 minutos de distância a pé. Mas Bruxelas mostra-se uma cidade ambiciosa e torna os 10 minutos, e não os 15, o metro com o qual quer medir a sua própria mobilidade. O projecto será inaugurado a 23 de Setembro (não por acaso, o dia seguinte ao Dia Sem Carros) e consiste numa página da internet na qual se pode inserir uma morada e encontrar, com facilidade e a ajuda de um mapa colorido, os serviços e infraestruturas que a cidade disponibiliza num raio de 10 minutos a pé. E mais além, pois claro, mas a tónica é mesmo na proximidade e na mobilidade sem carro.
Bruxelas tem feito bastante trabalho nesta área. A aposta em zonas pedonais, ciclovias e novas linhas de transportes públicos tem convertido zonas antes mal-amadas em espaços cada vez mais convidativos para o lazer e para viver. Mas a mobilidade é apenas uma faceta da cidade. Afinal, quem se quer mover na direcção de um sítio onde não há nada de útil? É por isso que a adequada distribuição de infraestruturas e serviços é a pedra de toque do modelo de cidade de 10 minutos. O mapa desenvolvido pela cidade de Bruxelas servirá por isso também de ferramenta para os decisores, permitindo ver onde há falta de oferta, de modo a orientar o desenho das políticas públicas relativamente a escolas, parques infantis, zonas de veículos partilhados, paragens de transportes públicos, espaços de assistência na saúde, creches, pontos de recolha de resíduos para reciclagem, espaços culturais, jardins públicos, farmácias, correios, enfim, uma miríade de serviços importantes para o quotidiano do cidadão.
O espírito subjacente a este projecto não é alheio às iniciativas da cidade no chamado “bairro europeu”. A zona da cidade que apresenta maior concentração de edifícios das instituições europeias (expressivamente chamada “zona de Schuman”) está a ser objecto de uma intervenção profunda no sentido de transformar um bairro que, embora cheio de engravatados e malas de negócios durante a semana, é um deserto silencioso e cinzento aos fins-de-semana e à noite. O objectivo é a criação de numa zona mais equilibrada, com vida diurna mas também nocturna, mais residentes, pequeno comércio e áreas de lazer. É isso que justifica a compra, pela cidade de Bruxelas, de 23 edifícios pertença da Comissão Europeia, num total de 300 000 m2. A intenção é converter esses espaços em escritórios mais amigos do ambiente, mas também em residências e comércio. Se os planos se cumprirem, o número de residentes no bairro europeu duplicará por volta do ano de 2028.
Coimbra, pela sua dimensão, enfrenta desafios bem diferentes dos que enfrenta Bruxelas. Mas a lição a extrair do projecto belga é universal: uma cidade tem de ser, em todos os seus bairros, polivalente e os transportes públicos têm de ser eficazes, para nos levar aonde queremos ir. Não peço que seja em 10 minutos, concedamo-nos os tradicionais 15, sobretudo quando ainda há muito por fazer.