Diariamente somos bombardeados com o encerramento de diversas Urgências Hospitalares. São as da Ginecologia-Obstetrícia, a Pediatria e as Urgências Gerais a passaram por enormes dificuldades e este panorama aparentemente persiste em não ter fim à vista. Nos últimos anos tornou-se recorrente estes episódios, mas também aparentemente pouco ou nada foi feito para mudar esta triste realidade. Por conseguinte, é agindo que poderemos modificar os status quo instalado. Os diagnósticos há muito estão feitos, ninguém pode ousar dizer que desconhecia esta situação. O problema tem sido sempre o mesmo, inacção completa e tentativa de normalizar o que está errado.
Perante a pressão mediática dos encerramentos das urgências e suas dificuldades, perante a falta de resposta às necessidades das pessoas, nestas áreas em particular, perante a pressão dos profissionais e cidadãos os responsáveis políticos não podem persistir no “deixar andar” e demitirem-se das suas reais obrigações, que é resolver estes problemas dando respostas às necessidades das pessoas.
Ora, surge também neste contexto difícil oportunidades, que deverão de uma vez por todas impedir os lobbies e bloqueios cooperativistas, bloqueado a salvaguarda do interesse maior em detrimento dos interesses de alguns. É tempo das profissões e respectivos profissionais perceberem que não abundam recursos, sejam eles financeiros, materiais, tecnológicos ou humanos e não há possibilidade de continuar a impedir reais respostas à população, perpetuando um modelo ultrapassado, que nada resolve e só problematiza. Em Portugal, no SNS, temos falta de médicos de família, será que não seria possível atribuir enfermeiros de família a estes cidadãos e aproveitar as competências dos enfermeiros especialistas nesta matéria? Na área da obstetrícia será que não se poderia utilizar os saberes dos enfermeiros especialistas, que já, hoje em dia, asseguram os partos eutócicos para promover centros de partos de baixo risco?
E para além destas, muitas outras situações que os saberes dos enfermeiros e as suas competências e capacitações hoje vigentes, não seriam úteis para darem respostas aos nossos concidadãos?
Importa referir que os Enfermeiros hoje não são os mesmos de há 40 ou 50 anos, são uma profissão que evoluiu significativamente nas últimas décadas, que se afirmaram no Sistema Nacional de Saúde e além fronteiras, altamente qualificados e diferenciados que já hoje exercem em muitas destas matérias especificas com plena autonomia e responsabilidade.
Não está em questão substituir médicos, o que aqui se propõe é permitir que as pessoas usufruam de cuidados de saúde prestados por profissionais, e que não só enfermeiros, já hoje poderiam ser garantidos e realizados e que apenas não o são por interesses que nada interessam aos nossos concidadãos.
(*) Presidente SRCentro da Ordem dos Enfermeiros