Projecto da ADFP “Passos para um Futuro” vai apoiar os sem-abrigo em Coimbra

A Fundação ADFP, através da Casa Dignidade que funciona em Coimbra, iniciou o projecto “Passos para um Futuro”, que durante três anos vai apoiar 230 pessoas em situação de sem-abrigo, ou que se encontrem, de alguma forma, em situação de exclusão social, incluindo 120 pessoas com acompanhamento por um gestor de cada caso.

Este projecto, com um financiamento europeu de cerca de 400 mil euros do programa regional Centro2030, tem uma equipa dedicada com oito profissionais, numa visão multidisciplinar que inclui um coordenador, gestores de caso, monitores, enfermeiras, um psiquiatra, a que se juntará um médico de clínica geral.

“O projecto revela-se premente para colmatar as necessidades diagnosticadas pela rede social, constatando-se, por demais, a deficitária existência de estruturas e recursos, no concelho de Coimbra, aptas a responder adequadamente às fragilidades identificadas da população em situação de exclusão social, no que concerne a pessoas em situação de sem-abrigo ou em situação de grave carência”, considera a responsável pelo projecto, Dalila Salvador.

Conforme explicou, compete a cada gestor de caso reunir informação necessária para a elaboração de um plano individual de intervenção, accionando os recursos existentes na comunidade, adequados a responder à situação de risco e/ou perigo emq eu a pessoa se encontea, de acordo com a sua participação voluntária e consentida.

“Trabalhamos com esta população já há sete anos, no que diz respeito à saúde, e verificamos ser inexistente uma intervenção eficaz no âmbito da saúde mental e de comorbilidade (doença mental e comportamentos aditivos e/ou doença mental com deficiência mental e consumo de substâncias), cim uma abordagem directa, nas situações de rua, em articulação com os gestores de caso, o que fundamenta a dá sentido ao trabalho conjunto entre os gestores de caso e um psiquiatra”, justifica Dalila Salvador.

Esta terça-feira, na apresentação deste projecto, o presidente da Fundação ADFP, Jaime Ramos, sublinhou o alargamento do apoio aos sem-abrigo por parte da Casa Dignidade, com “uma equipa multidisciplinar alargada”. “Queremos provocar ainda mais o status, o habitual, obrigando a pensar diferente. Viemos porque queremos desafiar as organizações públicas ou privadas para uma reflexão e não basta fazer como se tem feito”, referiu.

Sem-abrigo zero

“Sabemos que estamos a ambicionar uma utopia, difícil de concretizar: Coimbra ‘cidade sem-abrigo zero’. Não sabemos se vamos ter sucesso, com consciência que a meta é muito ambiciosa. Uma meta que só será possível se o SNS, Segurança Social, IEFP, Polícia, Justiça e Câmara Municipal derem as mãos às organizações particulares de solidariedade social. A Saude e a Justiça não podem continuar alheadas e distantes, indiferentes ao sofrimento destas pessoas. Não basta continuar a gastar dinheiro em actividades caritativas que eternizam a situação sem pôr fim ao sofrimento destes doentes” – declarou o médico Jaime Ramos.

O presidente da ADFP recordou que Abril de 2017, há sete anos, a Fundação ADFP decidiu adquirir uma moradia, baptizada de Casa Dignidade, para criar um refeitório onde as pessoas em situação sem-abrigo pudessem jantar uma refeição quente, completa, sentados à mesa, lavando as mãos e até ter acesso a banho. “Foi o primeiro refeitório a funcionar ao jantar em Coimbra com refeições quentes, completas. Quisemos dar Dignidade às pessoas e acabar com a distribuição de comida ligeira, fria, nas ruas. Não tivemos qualquer apoio do Estado, servimos as refeições por filantropia”, referiu.

Em 2023, na Casa Dignidade, na Rua do Brasil, em Coimbra, a ADFP serviu 81.770 refeições a pessoas em situação de sem-abrigo, bastantes mais nos anteriores porque o faziam sete dias por semana, antes de a Câmara ter aberto, este ano, um refeitório para servir jantares ao fim-de-semana.