Coimbra  17 de Setembro de 2024 | Director: Lino Vinhal

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Hernâni Caniço

Rentrée política, tudo de novo?

30 de Agosto 2024

O Verão, do contentamento para alguns e do descontentamento para muitos, é marcado por um período de férias, mais ou menos compensadoras para os cidadãos, consoante a bolsa e a vida, e pela preparação de um ciclo político em que as correntes de opinião definem estratégias, confabulam tácticas e proclamam medidas e acções que irão mudar a vida das pessoas ou talvez não.

O novo (actual) ciclo político, que não é necessariamente um ciclo político novo (novidade), traduz-se pela marcação de terreno por cada força política, designadamente partidária, que levará a promessas de encantar, ameaças de estarrecer, convicções renovadas, bluff a esvaziar, ideologia mais ou menos radical, projectos inovadores, discurso de tradição.

O Governo da República, alicerçado numa frágil maioria (0,7%, recorde-se), mistura o seu conservadorismo que parece ter medo de exibir, com o populismo de atribuição de apoio aos pensionistas que diluído representa 10 euros por mês (inferiores aos apoios do Governo PS em 2023), com a satisfação das classes profissionais com força negocial e rejeição das classes elitistas proletarizadas, agradando a gregos e não a troianos, e com a delapidação do erário público e das contas certas, mas queixando-se tipo Calimero.

O principal partido da oposição, o Partido Socialista, cimenta a nova liderança, com pragmatismo quanto aos actos eleitorais sucessivos e à saturação das pessoas, fazendo propostas de cariz social que determinarão (ou não) o sentido de voto no Orçamento de Estado, prevenindo-se quanto ao risco de casos, casinhos e casões, concentrando-se nas eleições autárquicas que reforçarão a confiança dos socialistas, analisando a classe média e formas de a reforçar como meio de desenvolvimento.

A extrema direita, via Chega, após agregar os serventuários do regime do Estado Novo e muitos incautos crédulos das palavas sem obras, qual teologia messiânica, procura a desestabilização e o confronto, reforça a xenofobia e o racismo, usa a contestação pela contestação, desde que dê votos, teme a perda do seu encanto agitador sem substrato ou consistência, com saudades do fascismo e ilusões de raça pura.

A Iniciativa Liberal, fere-se na luta interna, mas procura ressuscitar o liberalismo em prejuízo da solidariedade, ignora o valor social e a cidadania, mobiliza jovens ambiciosos e individualistas, não se preocupa com o ambiente e os riscos climáticos.

À esquerda, o PCP vai de vitória em vitória (acredita) até à derrota final, em festa que não reabilita o voto perdido, sozinho por opção, rejeitando qualquer coligação, defendendo o indefensável em política internacional, sem perceber que caminha para ser residual, típico mas ineficaz, crente mas ineficiente.

O Bloco de Esquerda, o Livre e o PAN fazem prova de vida, por causas específicas meritórias, admitem o mecanismo inclusivo de proximidade em acção política de esquerda (o que pode ser agregador e quiçá decisivo), talvez percam a sobranceria (BE), o intelectualismo (Livre) e a supremacia animal (PAN).

E Coimbra?

A coligação de direita que governa Coimbra há 3 anos (e quando lhe falta 1 ano para se despedir), vai continuar a dizer que não tem tempo para mudar Coimbra (excepto para festas, festarolas e forró) e que o PS governou Coimbra durante 8 anos e nada fez (excepto as obras que o PS projectou e este executivo vem inaugurando).

Atribuirá a si próprio o Metro Bus que inaugurará (rezando para que os cidadãos esqueçam a falta de planeamento da obra e o caos na cidade), apresentará um programa (para 16 anos?), populista e demagógico (orando para que os cidadãos esqueçam o seu programa eleitoral de 2021, que não cumpriu), outorgar-se-á a autoria do sol que brilhará para todos nós, da Universidade que só existe porque há um visionário, da Académica que afinal não queria afundar, da Alta e Rua da Sofia Património Mundial da UNESCO que outros conseguiram (2013), da atribuição de nomes da monarquia do passado sem futuro na República.

A esquerda (com ou sem coligação) vai definir a alternativa por uma cidade solidária e humanista, pelo Desenvolvimento Sustentável e pelas condições de vida digna sem ghettos nem luxúria, apresentando um(a) candidato(a) à liderança do concelho credível, figura pública pelo exercício do serviço público, com experiência de decisão e competência, conhecimento do Município, capacidade de diálogo entre instituições, organizações cidadãs e pessoas, prática de proximidade e integração local, sem vergonha de ser de esquerda e ser socialista.

(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra