Coimbra  7 de Fevereiro de 2025 | Director: Lino Vinhal

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Hernâni Caniço

Coimbra, o ataque à Académica

2 de Agosto 2024

Foram dissertados os termos clausulados do acordo a contratualizar, as questões levantadas, e o executivo autárquico a mostrar o seu contrassenso, elogiando a AAC/OAF, mas fazendo-a parecer um bando de malfeitores. Vamos à questão política.

Invocar a legalidade exige coerência política, respeito pelos pareceres habilitados, compreensão pela diversidade de opiniões e interpretações jurídicas, defesa dos interesses da cidade e da sua imagem (que inclui a AAC, aqui AAC/OAF, e os outros clubes do concelho).

Não faz parte da invocação da legalidade a procura de novas fontes de receita para a autarquia (já atribuída há 20 anos à AAC/OAF), para projectos autárquicos não definidos ou, quiçá, para a autarquia promover actividades que à sociedade civil compete desenvolver para fruição e angariação de apoios para a sua actividade principal, sem onerar o erário público.

Não se compreende que a AAC/OAF não possa promover eventos não desportivos, que não conflituem com a CMC, ou até em co-organização, para os quais não há nenhum problema de legalidade, constituindo um estrangulamento da angariação de outras eventuais fontes de receita da AAC OAF. Trata-se de sectarismo, de anti-academismo, de concorrência desleal, ou de objectivos obscuros?

Elogiar-se-ia à partida um acordo de utilização do Estádio Cidade de Coimbra, se o objectivo fosse o reforço e alargamento da acção das entidades e clubes desportivos, proporcionando-lhes melhores condições de prática desportiva (como o executivo socialista fez com a criação do Centro Olímpico de Ginástica e Complexo Multidesportivo, que o Presidente da Câmara pretende minimizar como centro de treinos de ginástica).

Mas, estranhamente, a pretexto de legalidade misturada com vontade política desconhecida, a autarquia conduzia uma verdadeira instituição de Coimbra (a AAC/OAF) à sua extinção e funeral, retirando-lhe capacidade de intervenção e sustentabilidade, confundindo um clube desportivo, pelo facto de ser proprietário de uma SDUQ (Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas) (em insolvência) ou mesmo que fosse uma (eventual) SAD (Sociedade Anónima Desportiva).

As Câmaras Municipais de Lisboa, Braga, Guimarães, Caldas da Rainha e Póvoa do Varzim, entre outras, e as entidades desportivas a quem cederam terrenos e outros bens, não fizeram essa confusão (nem se limitaram a fazer recepções quando há vitórias a festejar), se é que de confusão se trata em Coimbra.

 

Aceitar o óbvio e o correcto

 

Nem todos os contribuintes têm deveres para com a AAC/OAF (à parte os associados, como é o meu caso), mas também não têm obrigações de concordar com as despesas, acordos e protocolos definidos pelo executivo autárquico, e afinal pagam tudo o que esse executivo decide, em absolutismo (sejam as taxas municipais que aumentam e aumentam, seja o património da cidade que é entregue à gestão de servidores do poder).

Teve de ser a AAC/OAF a propor, coerentemente: “Depois de pagas todas as despesas de utilização do ECC com a receita proveniente dos espaços comerciais e existindo excedente da afectação da receita à conservação e manutenção daquele, esta poderá ser afeta os objectivos constantes do Programa de Desenvolvimento Desportivo que se anexa ao presente contrato, e que tem por objecto o desenvolvimento da formação desportiva dos jovens de Coimbra e da sua região”.

Finalmente o executivo autárquico aceitou o que era óbvio e correcto, prestigiante para Coimbra e para a AAC/OAF, com a ressalva estranha de não permitir por escrito à AAC/OAF a realização de eventos não desportivos no Estádio, mas verbalmente dizendo que é possível a apresentação de livros, eventos culturais ou musicais… Porque não está escrito no contrato? Será exemplo único no País, decerto.

Os socialistas já estão habituados a esta postura de duvidoso respeito do executivo pelos seus competidores, mas não se conforma com a quebra de princípios de lhaneza, afabilidade e cordialidade, nem com o prejuízo de Coimbra, incapacitando a AAC/OAF.

A AAC/OAF saberá interpretar e transmitir os sentimentos, consensos, direitos e deveres dos seus associados, ouvir os seus órgãos próprios de aconselhamento e gestão, dignificar a cidade e o concelho através da sua prática desportiva exemplar, paradigma que fez e poderá voltar a fazer de Coimbra, uma referência histórica, amistosa e saudosa, também através do desporto e companheirismo.

(*) Médico e vereador do PS na Câmara de Coimbra