O professor Daniel Dinis Costa preside à Direcção da Eptoliva, há exactamente 10 anos, Escola Profissional com pólos em Oliveira do Hospital e Tábua e que tem cerca de 300 alunos neste território do interior do distrito de Coimbra. O dinamismo das actividades práticas que desenvolve e a envolvência com a comunidade fazem com que os jovens que saem da Eptoliva tenham boas condições de empregabilidade, ou de seguir os estudos no ensino superior.
Campeão das Províncias [CP]: O que é a Eptoliva?
Daniel Dinis Costa [DDC]: A Eptoliva, Escola Profissional de Oliveira do Hospital, Tábua e Arganil, é uma das mais antigas escolas profissionais do país, que cumprirá 33 anos de existência em Novembro. Está sediada em Oliveira do Hospital, tem um pólo em Tábua, e contamos hoje com cerca de 300 alunos e, apesar de ter como foco principal o ensino profissional, temos vindo a abraçar uma série de outros desafios como resultado do serviço público que fazemos com e para a comunidade.
[CP]: Estão em concorrência com as escolas públicas que também oferecem cursos profissionais?
[DDC]: Sim, esse cenário está presente um pouco por todo o país. Na nossa região a ideia é sermos complementares, mais do que concorrer com os mesmos cursos. Para este equilíbrio o apoio dos Municípios de Oliveira do Hospital e Tábua tem sido fundamental para consertar esta oferta formativa, garantindo mais oportunidades para os alunos e mais diversidade de oferta formativa.
[CP]: Como tem sido o percurso dos alunos na Eptoliva?
[DDC]: Na Eptoliva identificamos nos nossos alunos um percurso escolar de sucesso, com taxas de empregabilidade muito boas e até no acesso a níveis superiores de ensino. O número de alunos da Eptoliva a entrar no ensino superior chega aproximadamente a 35%, praticamente o triplo da média nacional no ensino profissional. É o melhor de dois mundos. Isto relembra-nos, com satisfação, do caminho que percorremos no combate à ideia de que o ensino profissional era o parente pobre da educação e que conseguimos combater, reconhecido pelo aumento de alunos que tivemos nos últimos anos.
[CP]: Quem pode frequentar a Eptoliva e como é o ingresso?
[DDC]: As matrículas estão abertas para Todas e Todos os alunos que desejem e tenham interesse na nossa oferta curricular, de qualquer ponto do país, que tenham o 9.º ano concluído. Também há espaço para alunos internacionais que queiram ingressar, ao abrigo dos programas de financiamento e cooperação, em particular com os PALOP e CPLP. A inscrição pode ser feita através das plataformas ou directamente na escola.
[CP]: Como descreve a proveniência dos vossos alunos?
[DDC]: A grande maioria dos nossos alunos são da região e dos concelhos limítrofes, como Oliveira do Hospital, Tábua, Arganil, Seia. É relevante notar que no ano passado entraram 34 alunos de Cabo Verde, fruto de um protocolo de cooperação assinado com Câmara e Escolas de Cabo Verde. A escola fica a ganhar com estes alunos e para eles é, também, uma oportunidade uma vez que há apoios e financiamentos específicos, como o alojamento estudantil em Oliveira do Hospital, que está a ser ampliado para 60 lugares e também está a ser criada uma solução de alojamento em Tábua. Além do alojamento todos os alunos têm direito a subsídios para alimentação e materiais escolares. No total contamos com 10 nacionalidades e sabemos que muitas são fruto da mobilidade na região. O nosso foco está em garantir a todos os alunos uma formação de qualidade e ensino de excelência.
[CP]: A vossa formativa é vasta, mas dos 14 cursos nem todos estão a funcionar.
[DDC]: Anualmente procuramos reforçar a oferta formativa e auscultar a comunidade para adaptarmos a nossa acção à realidade. Ilustração dessa proximidade à comunidade é o facto de, nos nossos órgãos, estarem presentes cerca de 100 entidades, empresas e associações. Fazemos um inquérito que visa levantar as necessidades de trabalho do tecido comercial, industrial, social e de outras instituições. Em simultâneo consultamos os jovens para perceber quais são as suas expectativas e intenções. É na concertação destas duas linhas que trabalhamos a nossa oferta formativa. Este ano estamos perante uma dimensão de oferta inédita para nós, com 14 cursos, no entanto corremos o risco de nem todos os cursos abrirem por não se conseguir o número mínimo de alunos para viabilizar a formação. Entendemos que este facto se deve a um problema que está a montante. A orientação vocacional precisa de um novo modelo. Procurando dar todas as ferramentas aos alunos e pais na escolha pelo seu interesse, mais do que pelo interesse da escola que está próxima, atingindo no final melhores resultados na sua formação e uma maior plenitude profissional.
[CP]: Quais são os cursos que estão a funcionar?
[DDC]: Este ano estivemos a funcionar com sete cursos profissionais, cursos-âncora que conseguem abranger alguns dos outros cursos que estão em oferta. Em Oliveira do Hospital temos a Mecatrónica Automóvel, com 100% de empregabilidade, que tem que ver com mecânica e electrónica automóvel e com manutenção industrial. O curso de Turismo tem sido alvo de grande procura e o curso de Desporto destaca-se por ter uma boa saída para o ensino superior. O curso de Design de Equipamentos é quase único na região. A área da Informática é hoje fundamental e transversal. Em Tábua temos o curso de Auxiliar de Saúde e se tivéssemos duas ou três turmas deste curso todos teriam emprego. Temos também o curso de Multimédia ligado ao audiovisual e comunicação.
[CP]: Qual o peso da componente prática na formação da Eptoliva?
[DDC]: O Ensino Profissional só faz sentido quando temos uma grande componente prática nas dimensões técnicas e científicas, nunca descorando as disciplinas base, sócio-culturais. Na nossa escola o nosso plano de actividades chega a contar com mais do que uma actividade por dia e todos os cursos fazem semanalmente visitas técnicas e workshops. A proximidade com os Municípios garante-nos a presença e participação real dos nossos alunos nas suas iniciativas. As Festas do Queijo de Oliveira do Hospital e Tábua são um exemplo disso. Os nossos alunos de turismo fazem o acompanhamento completo dos visitantes e os alunos de desporto trabalham a questão da mobilidade eléctrica. Fazemos rastreios de saúde aos visitantes e coberturas audiovisuais. São exemplos reais e desafios para os alunos colocarem em prática o que vão aprendendo e dá-lhes uma motivação extra, tal como aconteceu no Rodas Fest, um evento ligado às rodas, que teve milhares de visitantes e foi organizado quase na sua maioria por alunos e professores. Além disto temos momentos específicos, como os estágios e formação em contexto de trabalho ao longo dos três anos da formação.
[CP]: Como funciona a entrada dos alunos no mercado de trabalho?
[DDC]: Nós temos um gabinete de orientação escolar e profissional que recebe muitas ofertas de emprego que nós fazemos chegar aos nossos alunos e eles, livremente, candidatam-se. Temos em mãos o desafio de aumentar um número de alunos que seguem a sua actividade profissional na área da sua formação. Muitas vezes isto não acontece por questões remuneratórias, horários de trabalho e outras. Felizmente, como vimos, em muitos dos nossos cursos o aluno terá emprego no dia seguinte à conclusão do curso, se assim o quiser, pois que os nossos alunos saem muito bem capacitados e com as ferramentas necessárias para terem sucesso tanto no ensino superior, como no mercado de trabalho e é curioso que alguns deles regressam à escola para serem nossos professores.
[CP]: Financeiramente a escola é sustentável?
[DDC]: Hoje sim. Há 10 anos, quando entrei para escola, as condições eram diferentes apesar de ter havido um trabalho sério de reconstrução desde 2010. O nosso objectivo não é ter lucro, tratamo-nos de uma associação sem fins lucrativos, mas hoje temos uma sustentabilidade financeira que é fundamental para podermos continuar a cumprir o nosso dever, fruto do número de turmas e alunos que temos. Temos desenvolvido outras valências, como o programa Escolhas, o primeiro da região, funcionar em Oliveira do Hospital e Tábua. Temos o Centro Qualifica a funcionar em Tábua, com várias valências que permitem a adultos de várias idades melhorarem as suas competências e formação académica.
[CP]: A Eptoliva tem mais novidades para este ano?
[DDC]: Estamos sempre com novos desafios. Por isso iremos ter uma escola altamente tecnológica e especializada, fruto da aprovação de dois Centros Tecnológicos Especializados (CTE), no âmbito do PRR. São cerca de 3 milhões de euros de investimento que irão para Oliveira do Hospital e para Tábua. Em Tábua teremos um CTE digital com todas as condições tecnológicas, que incluem com um estúdio de rádio, um estúdio de televisão e equipamento de multimédia de última geração. Em Oliveira do Hospital teremos um CTE para a área de informática, com equipamentos e programas didácticos e pedagógicos para todos os alunos. Temos ainda projectos de ampliação e modernização de espaços interiores e exteriores da Escola, que permitirão certamente uma grande melhoria das instalações e condições de ensino-aprendizagem da região na Eptoliva.
Entrevista: Luís Santos
Publicada na edição em papel de 18 de Julho de 2024 do Campeão das Províncias