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António Albuquerque: Coimbra já tem um ecossistema empresarial em ascensão

14 de Julho 2024 Jornal Campeão: António Albuquerque: Coimbra já tem um ecossistema empresarial em ascensão

António Carlos Albuquerque é director do Departamento de Desenvolvimento Económico, Empreendedorismo, Competitividade e Investimento da Câmara Municipal de Coimbra. Conta com uma vasta experiência profissional em cargos de chefia na administração local, com destaque para o cargo de director do Departamento de Desenvolvimento Económico e Social da CM de Cantanhede, director do Departamento de Obras Municipais e Ambiente da CM da Figueira da Foz e director do Departamento Municipal de Projectos, Obras e Serviços Municipais da CM da Figueira da Foz, entre outros.

Campeão das Províncias [CP]: Quais as razões da vinda para a Câmara de Coimbra?

António Carlos Albu­querque [ACA]: A minha carreira profissional está fortemente ligada a Cantanhede, onde comecei a trabalhar e estive até 2011. Nesse ano, concorri e ganhei um concurso na Figueira da Foz, onde permaneci durante 8 anos e meio. Depois, regressei naturalmente a Cantanhede, uma terra de pessoas de que gosto muito, e onde estive os últimos três anos antes de me mudar para Coimbra. Em Cantanhede, fui director do Departamento de Desenvolvimento Económico e Social da Câmara Municipal, com uma equipa e uma presidente extraordinárias.

Recebi um convite do Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Professor Doutor José Manuel Silva, para liderar o departamento de desenvolvimento económico. Na altura, a minha equipa em Cantanhede estava a ter um desempenho notável na captação de investimento, com compromissos de mais de 40 empresas num período de cerca de três anos, mesmo durante a pandemia. Após uma conversa com a Presidente da Câmara de Cantanhede, Dra. Helena Teodósio, que aceitou o meu pedido de transferência, decidi aceitar o desafio em Coimbra.

Coimbra tem um grande significado para mim, pois é onde os meus filhos vivem e eu decidi viver há muitos anos até me mudar para a Figueira da Foz. Acredito que Coimbra, como capital de distrito, deve ser um motor de desenvolvimento da região. Se Coimbra estiver bem, a região prospera.

[CP]: O que é na prática o Departamento de que é director?

[ACA]: O meu Departamento estrutura-se em 2 verticais importantes: por um lado tenho uma equipa de seis pessoas lideradas por uma chefia, O engenheiro Marcelo Ferreira que actualmente submete todas as candidaturas do Município de Coimbra, apostando em vários programas, desde o PT2030, PRR e outros canais de captação de investimento directamente em Bruxelas, por exemplo. Hoje, temos uma equipa altamente profissional na captação de fundos nas diversas áreas de investimento. Todos os projectos e candidaturas feitos pela Câmara Municipal de Coimbra são geridos e submetidos pelo meu departamento, com o envolvimento de todos os 17 departamentos da Câmara Municipal. Actualmente, é indiscutível que a Câmara Municipal de Coimbra é um grande consumidor dos Fundos Estruturais em várias áreas, tendo já captado mais de 100 milhões de euros em diversas áreas de investimento. Estamos todos de parabéns – os meus colegas trabalhadores, toda a Câmara e o Executivo – pois nada disto se faz sem as lideranças, tanto no executivo como nos gabinetes técnicos que produzem os projectos. Temos também um projecto europeu único em Portugal, recentemente aprovado, que a CIM de Coimbra já tinha em mãos há algum tempo, mas nunca tinha conseguido articular devido à sua dimensão e tipologia. Apenas um município como Coimbra poderia produzir uma candidatura distintiva. Em boa hora, contactaram-nos, aceitámos o desafio e, juntamente com o pelouro do turismo, a Universidade, o Politécnico, o Turismo de Portugal, a Present Technologies e a Inova+ e construímos uma candida­tura que coloca Coimbra ao nível de cidades como Barce­lona, Amesterdão, Roterdão e Milão. Este é um projecto de turismo sustentável para Coimbra, extraordinário, cuja candidatura foi aprovada. Representa uma nova abordagem ao turismo sustentável: queremos aumentar o tempo de permanência dos turistas em Coimbra e ser ambientalmente mais sustentáveis, introduzindo algumas infra-estruturas e percursos. Recebemos um financia­mento de cerca de 5 milhões de euros para investir neste projecto, uma conquista absolutamente extraordinária.

[CP]: E a que se refere o departamento quando fala de empreendedorismo?

[ACA]: O empreendedorismo é uma actividade diária. A Câmara Municipal não cria negócios, mas pode e deve criar condições para o seu desenvolvimento. Mantemos contacto constante com a Universidade, o IPN, o Politécnico de Coimbra e outras instituições de ensino superior, bem como com associações empresariais e empresários para fomentar oportunidades de negócio.

O ecossistema de Coimbra já existia há muito tempo, mas faltava interligação entre os seus diversos componentes. Agora, assumimos o papel de ligar estas entidades, facilitando a comunicação e aproveitando oportunidades de investimento.

Desde 2023, criámos um Conselho Empresarial com mais de 40 entidades do concelho, reunindo-nos trimestralmente para discutir assuntos de relevância para Coimbra e as suas empresas. Na reunião a 12 de Julho, nos Hospitais da Universidade de Coimbra,  abordamos o desenvolvimento económico na área da saúde, um cluster importante para a cidade. Já realizámos reuniões no Instituto de Emprego, no iParque, na Universidade e no Convento de São Francisco.

Há também uma ligação política forte, com o presidente, o vice-presidente e vereadores, frequentemente presentes em eventos da Universidade de Coimbra e do Politécnico, e vice-versa. Mantemos relações próximas com os pró-reitores nesta área, o Nuno Mendonça e a Gabriela Fernandes da Universidade e outros responsáveis, como a Sara Proença do INOPOL, Jorge Pimenta, Paulo Santos e o Presidente João Gabriel do IPN, discu­tindo regularmente proble­mas e soluções. Este ecossiste­ma de partilha e cooperação tem sido frutuoso e determinante para Coimbra.

[CP]: A Câmara de Coimbra assumiu uma pos­tura pró-activa na procura de investimentos?

[ACA]: A cidade, entre a Universidade e o Politécnico, forma mais de 8.000 talentos anualmente, que frequentemente acabavam por se deslocar para outras cidades ou países. Queremos reverter este ciclo e afirmar Coimbra como um pólo de oportunidades nas áreas económicas. Estamos abertos a acolher pessoas e empresas que se queiram instalar aqui.

Desde 2023, temos procurado soluções para empresas que nos procuram, conseguindo atrair multinacionais e outras empresas para Coimbra. Por exemplo, o Estádio Cidade de Coimbra, onde antigamente só se jogava futebol, agora também é um centro de negócios, com várias multinacionais instaladas.

Temos tido sucesso em encontrar espaços para empresas, mesmo com a falta de infra-estruturas adequadas. Estamos a considerar utilizar o terceiro piso do Estádio para acomodar mais empresas, se necessário.

A nossa estratégia de curto prazo tem sido pró-activa e criativa, atraindo empresas tecnológicas e gerando emprego qualificado. A Torre do Arnado, por exemplo, está cheia, e estamos a procurar mais espaços para expansão. Incentivamos os investidores a criar não só habitação, mas também espaços de escri­tórios para acomodar estas empresas.

[CP]: O que está a ser feito para desenvolver o sector industrial em Coimbra?

[ACA]: Precisamos de um plano de desenvolvimento económico para Coimbra, que reflicta o curto, médio e longo prazo. As grandes empresas perceberam que podiam instalar-se em Coimbra porque a Câmara e o ecossistema reagiram rapidamente. Recebemos essas empresas com a ajuda da Universidade, do Politécnico, do iParque e de outras instituições da cidade.

No médio prazo, estamos a trabalhar na ampliação do iParque, que quase esgotou os seus lotes. Estamos a preparar a segunda fase com mais 15 lotes e a planear a terceira fase, retirando a componente habitacional para dar lugar a novas empresas. Também estamos a desenvolver uma área logística em Souselas, onde já identificámos 63 hectares para investimento numa primeira fase e cerca de 45 hectares numa fase seguinte.

Estamos em negociações com a Câmara da Mealhada para criar uma área logística intermunicipal, ligando-a ao Porto da Figueira da Foz. Esta localização central de Coimbra, com acesso fácil à ferrovia, aeroportos e portos comerciais, torna-a ideal para grandes empresas.

[CP]: A Câmara tem feito trabalho de captação de novas empresas. O que tem sido feito com as empresas que já cá estão?

[ACA]: Não procuramos apenas novas empresas, mas também valorizamos e apoiamos os empresários que já estão connosco. Potenciamos as empresas existentes e o nosso ecossistema empresarial é muito forte, com destaque para dois unicórnios, incluindo a Feedzai. A Critical, que planeava investir fora, decidiu reforçar a sua presença em Coimbra. A Bluepharma tem crescido em investimento e em número de trabalhadores. Queremos fortalecer o cluster espacial e apoiar estas empresas. Coimbra destaca­-se nas áreas de espaço, saúde e tecnologia, competindo com outras cidades do país. Apesar das dificuldades, es­tamos a recuperar terreno e a fortalecer a nossa dinâmica económica.

Eventos como o Startup Capital Summit ou o Coimbra Invest Summit mostram a vitalidade do nosso ecossistema. A Câmara de Coimbra assumiu o papel de motor de desenvolvimento económico e tem conseguido, eviden­ciando confiança e traba­lho diário para concretizar projectos e fortalecer a sua posição no país e na Europa.

Entrevista: Luís Santos / Joana Alvim

Publica na edição em papel do Campeão das Províncias de 11 de Julho de 2024