O PS exige a recuperação para fins turísticos da rede de troleicarros interrompida pelas obras do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) e a Câmara de Coimbra estuda uma solução para um tema que tem motivado troca de acusações.
A interrupção dos tróleis na cidade tem motivado uma troca de acusações entre PS e o actual Executivo, sendo expectável que na próxima reunião de Câmara Municipal de Coimbra (CMC), na segunda-feira, seja discutida e votada uma moção dos socialistas através do qual se exige a recuperação para fins turísticos da rede de troleicarros interrompida pelas obras do SMM. O Município afirma que está a estudar uma solução nesse sentido.
O PS acusou o actual Executivo camarário de ser responsável pelo fim desta rede, mas documentos associados ao projecto levantam dúvidas sobre até que ponto a anterior CMC, de maioria socialista, não acautelou o fim de um serviço que, em vários pontos, é conflituante com o traçado do SMM.
O projecto de execução do SMM, publicado no âmbito do relatório de conformidade ambiental de 2019, refere que os postes da infra-estrutura da rede de tróleis ao longo da avenida Emídio Navarro “destinam-se a ser retirados, conforme acordo com os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) nas reuniões havidas sobre o tema”.
O mesmo documento faz referência a um “projecto de relocalização” da rede de troleicarros, relocalizando “ligeiramente alguns dos postes”, mas o Município, questionado pela agência Lusa, afirma que o estudo previsto “nunca foi elaborado nem pela CMC nem pelos SMTUC”, informação também confirmada por um ofício da Infraestruturas de Portugal (IP) divulgado em Maio.
A vereadora do PS Regina Bento tem leitura distinta dos documentos, considerando, em declarações à Lusa, que “a rede de tracção não era para desmontar, quando muito para desviar em pontos conflituantes com o Metrobus”, dando nota de que o próprio caderno de encargos faz apenas referência a desvio do serviço.
Apesar de o caderno de encargos fazer referência a “desvio”, fonte oficial da CMC vinca que todos os postes que foram retirados no contexto do SMM contam com “dotação orçamental nas empreitadas em curso para esse efeito, associada a um mapa de quantidades e de preços unitários”.
O actual Executivo salienta que não foi assegurada “dotação orçamental para a reposição da rede” de troleicarros. “Com o avanço das obras do SMM, tornou-se inevitável proceder-se ao levantamento das linhas de tracção nos locais onde existia uma coincidência de infra-estruturas, de forma a viabilizar a execução dos trabalhos”, aclarou fonte oficial da autarquia, vincando que a retirada de parte da rede é “uma consequência do projecto aprovado e não uma opção” da CMC.
Regina Bento notou que o PS tinha feito um investimento “significativo na recuperação de alguns troços da rede de tracção e no restauro de cinco troleicarros”, que voltaram a circular em 2018, considerando que o objectivo nunca seria acabar com o serviço.
O anterior presidente da Câmara, Manuel Machado, aponta para esse investimento para vincar que a ideia seria apenas a da suspensão temporária do serviço durante as obras do SMM. “Nunca houve permissão para acabar com os tróleis”, disse à Lusa Manuel Machado, que admitiu não ter de memória um plano de relocalização da rede.
Para a vereadora Regina Bento, os dois projectos não são incompatíveis, sugerindo que a rede poderia ser reposta, na Avenida Emídio Navarro, “com recurso a postes no lado do passeio do Hotel Íbis”, procedendo-se ao desvio da linha para esse lado.
Os cabos da rede de tróleis retirados pelos SMTUC encontram-se armazenados nas suas instalações, esclareceu a autarquia, referindo que, até ao momento, foram recolhidos cerca de 2.450 metros de uma rede com um total de 24,7 km (a grande maioria na Emídio Navarro e Largo da Portagem).
A CMC ainda não tem uma previsão de custos associados à reposição da rede, referindo estar a ser estudada “a criação de uma linha turística” de troleicarros.