Coimbra  2 de Novembro de 2024 | Director: Lino Vinhal

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Entrevista: Luna Fest regressa em Setembro com novo palco e line-up de peso

30 de Junho 2024 Jornal Campeão: Entrevista: Luna Fest regressa em Setembro com novo palco e line-up de peso

O Luna Fest, festival de música que, no ano passado, se estreou na Praça da Canção em Coimbra, prepara-se para uma nova edição. Os directores, Tito Santana e Vitor Torpedo, partilham em Entrevista o que se pode esperar do evento, que este ano se realiza de 6 a 8 de Setembro. Com um novo palco e um line-up diversificado, o festival contará com nomes de peso como Mão Morta, Selma Uamusse e Club Makumba, além das bandas conimbricenses Birds Are Indie, M’as Foice, So DeaD e The Twist Connection. Esta antecipação promete revelar os bastidores e as novidades que farão desta edição um marco na cena musical portuguesa.

 

Campeão das Províncias [CP]: Como é que surgiu a ideia de fazer o Luna Fest?

Tito Santana [TS]: A ideia é comum a mim e ao Victor há muito tempo, por causa de uma série de trabalhos que vamos tendo, até por causa do Pinga Amor, o bar de rock que temos ali na Sá da Bandeira. Começámos a perceber que entre a vontade de cá trazer bons concertos e tendo Coimbra uma posição estratégica em relação ao país, havia espaço para criar um festival de rock, que no nosso entender até peca por tardio. Então fazia sentido preparar-nos para fazer um evento desta natureza e depois, obviamente, entra aqui a parte do Victor, que com a carreira toda que tem dentro do espectro do rock, foi juntar o útil ao agradável. Já tínhamos pensado nisto há muitos anos, de tentar fazer uma coisa similar com Vilar de Mouros ou Paredes de Coura. Depois houve um ano que não deu, outro foi mais difícil. Houve uma série de conjunturas que não permitiram. Depois surgiu a oportunidade, no meio de uma loucura, e em 2022 dissemos “ou é agora, ou perdíamos o comboio, ou perdíamos a vontade”, e foi assim, de maneira curta e grossa, que começámos o Luna Fest.

 

[CP]: Que balanço fazem do ano passado?

Vitor Torpedo [VT]: O balanço da primeira edição foi tremendo e inexplicável. Foi um corte na conjuntura e um grito de luta, uma missão de resgate. Coimbra, uma cidade com fortes ligações à música e ao rock and roll, precisava deste evento. A cidade, que é uma referência no rock em Portugal, estava a perder a sua ligação à música. O evento foi um reconhecimento disso, e trouxe de volta essa energia, especialmente com o novo cartaz que reflecte a história musical de Coimbra.

No entanto, há uma carência significativa de palcos para bandas mais pequenas. Coimbra tem locais como o Salão Brazil, mas faltam palcos para estes grupos. A falta de estruturas para apoiar projectos musicais menores é preocupante. A nossa intenção é essa mesma, criar espaço que abrigue este tipo de música e essas bandas.

 

[CP]: Não deve ter sido fácil criar uma estrutura destas?

[TS]: Não está a ser fácil, mesmo com toda a vontade de avançar. Sou de Coimbra e trabalho aqui. Já fui empresário e trabalhei em duas grandes estruturas na cidade. Manter uma estrutura desde a raiz é complicado, requer uma equipa dedicada. A cidade geralmente reconhece a importância deste tipo de projectos, mas é resistente a mudanças. Coimbra tem uma aversão natural à inovação, o que dificulta a implementação de novas ideias. Enfrentámos alguns desafios inesperados e, em alguns casos, fomos prejudicados por pessoas em quem confiámos.

Apesar de tudo, o evento trouxe um aumento de 12% na ocupação hoteleira, mostrando o seu impacto na economia local. Envolvemos várias estruturas e associações locais, o que foi muito benéfico. No entanto, a organização do festival é exigente. Enfrentámos dificuldades financeiras, mas seguimos comprometidos para manter a credibilidade do projecto. Mesmo com todos os desafios, a emoção e a satisfação de realizar algo tão significativo para Coimbra são enormes. Continuamos a acreditar no potencial deste evento. Este ano, ampliámos o espectro cultural com exposições de fotografia e performances diversas, além da música. Apesar das dificuldades, estamos cá.

[CP]: O que é o público pode esperar este ano, tendo em conta que já foram divulgadas duas mudanças significativas, data e mais um palco?

[TS]: Ainda estamos a estudar a possibilidade de um segundo palco, mas depende muito do fluxo de bilheteira. Já falei com o Rui Ferreira, da Lux Records, que faz a curadoria do palco português, e estamos a ponderar bem, porque podemos querer fazer um pequeno upgrade, mas se isso prejudicar financeiramente a nossa estrutura, não vale a pena.

A mudança de data foi essencial para nós. Decidimos mudar a data logo após o festival ter terminado no dia 20 de Agosto. No dia 22 ou 23, já estava a ligar ao Francisco Veiga, vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra, a propor a nova data, que ele prontamente aceitou. Este ano já alargámos o espectro do Luna Fest  A ideia era que o Nereida fosse um teaser para o Festival, um evento que apresenta o cartaz final do Luna Fest.

Vamos ter uma exposição de fotografia na Previdência Portuguesa, com curadoria de Pedro Medeiros e Filipe Ribeiro, de 5 de Setembro a 8 de Outubro. Trabalhámos em colaboração com várias estruturas importantes, como o Salão Brazil e o Teatrão, para fortalecer a nossa iniciativa. Começámos com o Nereida em Maio, criando um programa de 4 ou 5 meses de actividades que culmina no evento principal em Setembro, com eventos satélite. Queremos que seja um evento multifacetado, não apenas de música, mas com várias artes.

Se o segundo palco não avançar, as bandas portuguesas actuarão no palco principal. A ideia é que o palco português não seja secundário. As condições têm de ser iguais às do palco principal, sem hierarquias baseadas na nacionalidade das bandas. Se tivermos condições financeiras, faremos um segundo palco semelhante ao principal; caso contrário, tudo será no palco principal. A curadoria do Rui Ferreira será mantida, e nas próximas semanas definiremos tudo.

 

[CP]: Em relação a bandas, com o que é que o público pode contar?

[VT]: O Palco Principal, dedicado a bandas internacionais, para o qual já estão confirmados os The Psychedelic Furs, uma banda britânica de rock alternativo formada em 1977 conhecida pelo seu hit “Love My Way”; Jon Spencer, famoso pelos seus projectos Pussy Galore, Boss Hog e Heavy Trash; Lene Lovich, uma icónica cantora e compositora de new wave; The Gories, uma banda de garage rock de Detroit; DEADLETTER, uma banda emergente britânica que mistura post-punk com influências de funk; LA ÉLITE, uma banda espanhola que se destaca pela sua energia punk  que já participou na primeira edição; Theatre of Hate, uma banda pós-punk britânica dos anos 80; Kid Congo and The Pink Monkey Birds, que inclui membros dos lendários The Cramps, Nick Cave and the Bad Seeds e Gun Club; Johnny Throttle, formado por membros das bandas The Parkinsons, Lucy & The Rats e The Gaggers; e Carrion Kids, uma banda de garage punk mexicana.

O Palco Lux, totalmente dedicado à música nacional em parceria com a editora Lux Records, contará com concertos de Mão Morta, uma das bandas mais influentes do rock português com uma carreira que se estende por várias décadas; The Legendary Tigerman, o projecto de blues de Paulo Furtado que é conhecido pelo seu som cru e energético; Club Makumba, um colectivo que explora sonoridades mediterrâneas e africanas; Selma Uamusse, uma cantora moçambicana que mistura jazz, soul e música tradicional africana; Belle Chase Hotel, uma banda de culto no panorama português; Twist Connection, uma banda de rock que se destaca pela sua energia e influências dos anos 60; M’as Foice, uma banda que combina rock com elementos de música tradicional portuguesa; Birds Are Indie, um trio que explora um indie pop melódico e intimista; e So DeaD, uma banda que traz uma nova energia ao cenário punk português.

 

[CP]: A Câmara Municipal aumentou o financiamento do Festival de 25 para 100 mil euros. É uma forma de reconhecimento ao Luna Fest?

[TS]: Sim, a Câmara reconheceu o valor do Festival. O vice-presidente foi bastante franco e garantiu-nos que, se o evento corresse bem, haveria uma conversa posterior para discutir mais apoio. E assim aconteceu. Sei que fazem o que podem, dentro das limitações financeiras e com outros eventos a considerar.

A Câmara reconheceu a importância e o potencial do evento, mas ainda assim enfrentamos desafios logísticos e financeiros, como conseguir apoio suficiente para arrancar, comparado com eventos como Vilar de Mouros. Temos um orçamento muito menor, mas conseguimos gerir despesas cuidadosamente, evitando gastos supérfluos. A Câmara reconheceu a projecção internacional do evento e o seu valor para a cidade. Apesar das dificuldades, o evento foi um sucesso e mostrou a capacidade da nossa equipa. Acreditamos que Coimbra tem potencial para ser uma capital cultural, não apenas participando em concursos, mas através de uma programação contínua de eventos ao longo do ano. Podemos criar uma estrutura forte e fazer de Coimbra uma cidade de eleição no que toca a eventos culturais.

[CP]: O Luna Fest também é um evento com preocupações sociais. As iniciativas solidárias são para manter?

[VT]: O Festival tem uma forte vertente solidária. No ano passado, em parceria com a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), foram cedidos 550 bilhetes gerais que a associação vendeu, revertendo a receita para a compra de equipamentos. Também colaborámos com o Instituto Português do Sangue, oferecendo bilhetes gerais a quem, em dias designados do festival, doasse sangue. A venda das fotografias de Pedro Medeiros, por exemplo, já têm uma percentagem definida para a APCC, que vamos manter este ano.

Em vez de promoções banais, sugerimos acções que realmente ajudem, como a doação de sangue, especialmente quando as reservas são quase nulas. As pessoas não foram doar só pelo bilhete, muitas já o tinham. Este tipo de iniciativas pode realmente mudar mentalidades e promover uma função social relevante.