O projecto “São Flores, Coimbra” está a criar brigadas de profissionais da jardinagem amadora para dar vida a canteiros e floreiras abandonados pela cidade.
Na rua da Sota, na Baixa de Coimbra, no espaço de minutos, uma das primeiras brigadas constituídas pelo projecto transforma um dos quatro canteiros ali abandonados.
“Hoje, fazíamos já tudo. Mas não façam muita publicidade, que a Câmara ainda nos contrata”, brinca Fátima, uma das voluntárias daquela brigada constituída por mulheres do projecto Saco da Baixa.
No espaço de minutos, apetrechadas de pequenas pás e luvas, plantam murta, celedónias, arquilégias e viúvas, põem um pouco mais de terra, regam as plantas, varrem o chão e firma-se uma parceria informal com uma igreja próxima para dar água sempre que precisarem de ir lá cuidar das floreiras.
“Nós gostamos de ver tudo arranjadinho”, comenta Fátima.
Fica também acertado que o grupo de mulheres voltará na semana seguinte para tratar dos outros três canteiros.
É uma de duas brigadas já constituídas para revitalizar floreiras abandonadas pela cidade, ideia que começou a ser pensada há algum tempo por Catarina Maia, coordenadora da iniciativa, e que ganhou forma a partir da Geração Coolectiva, que apoia ideias na área participação cívica para melhorar a cidade.
Formada em cinema, Catarina Maia mudou-se há cerca de quatro anos para o Monte Formoso, em Coimbra, e reparou que a maioria dos espaços verdes daquele bairro estava abandonada, inclusive o jardim do seu prédio.
Era o arranque da pandemia e pareceu-lhe “um privilégio extraordinário” poder ter algum contacto com a natureza junto à sua casa, afirma à agência Lusa a coordenadora do projecto.
Em contacto com os vizinhos e a associação de moradores, começou a dar outra vida àqueles espaços. O projecto cresceu e já ajudou a criar pequenos prados noutros pontos da cidade e tem também dinamizado um concurso para as varandas mais floridas do bairro.
Ao mesmo tempo, Catarina Maia já tinha reparado nos canteiros e floreiras que pululam pela cidade, muitos deles abandonados, degradados e a servir de caixote do lixo e cinzeiro, tendo decidido tentar criar uma espécie de “braço florido” do projecto Jardim Monte Formoso.
“Nós temos um problema sério de falta de civismo e de falta de sensibilidade. Eu já vinha a reparar há algum tempo para esta questão, mas preocupava-me sempre a questão da manutenção. Eu não conseguiria fazer isto sozinha, nem com os meus amigos do Jardim Monte Formoso e, então, foi assim que nasceu a ideia das brigadas profissionais de jardinagem amadora”, conta.
A ideia passa por identificar canteiros e floreiras abandonados (as pessoas interessadas no projecto também podem submeter outros locais não assinalados) e envolver as pessoas que estão nas redondezas desses espaços para se comprometerem, ao longo de 12 meses, em assegurar a manutenção dos mesmos.
Neste momento, já tem mais de 20 espaços com canteiros e floreiras identificados e, tendo começado já perto do Verão, altura pouca ideal para plantar, só há, por agora, duas brigadas a funcionar, mas com a perspectiva de outras avançarem no Outono, nomeadamente nos canteiros dos departamentos de Química e Física, numa parceria com a Universidade de Coimbra.
No Terreiro da Erva, junto ao restaurante Cantinho dos Reis, a outra brigada também já está a funcionar, esta constituída por jardineiros um pouco mais novos.
Têm entre três e seis anos e, entre brincadeiras com bolas de sabão, vão regando as dez floreiras que ali se encontram, já plantadas, por eles mesmos e com a ajuda da equipa e dos pais, uns dias antes.
São crianças do jardim-de-infância do Centro Social e Cultural 25 de Abril, na Rua da Sofia, e são a brigada responsável pela manutenção daquele espaço no Terreiro da Erva.
“Faz falta a estes meninos mexerem na terra, sujarem-se. Decidimos logo que íamos participar e acho que até pode ser uma oportunidade para falarmos mais com os meninos sobre o assunto”, disse à agência Lusa a directora técnica do centro, Sandra Campos.
Junto aos canteiros, estão identificadas as espécies de plantas, sobretudo nativas, mas também algumas naturalizadas, mas nada de “florzinhas de estufa”, vinca Catarina Maia.
No meio das floreiras, salta à vista uma espécie de vaso de barro, enterrado na terra e cheio de água.
São ‘ollas’, uns potes “feitos com um barro especialmente poroso”, recuperando uma técnica ancestral “que foi caindo em desuso”, aclarou a coordenadora do projecto.
“As plantas vão criar raízes à volta do vaso. Sempre que a terra estiver molhada, a água não sai [do vaso], mas quando a terra estiver seca, elas naturalmente vão sugar a humidade à medida que precisam. Isso vai diminuir o ‘stress’ hídrico, mas também tornar mais fácil a manutenção”, explana.
O projecto, que está a dar os primeiros passos, espera, com calma e tempo, revitalizar as floreiras da cidade, dependendo também da vontade e interesse dos cidadãos que a habitam.
Os interessados em participar nas brigadas podem inscrever-se em tinyurl.com/mpc546rm e consultar mais informação sobre o projecto em instagram.com/jardimmonteformoso/.
João Gaspar, Lusa