Eduardo Santos, gestor e actual presidente da Câmara Municipal de Penela, representa o primeiro Executivo do Partido Socialista (PS) a liderar este concelho. Com uma visão centrada nas pessoas, Eduardo Santos quer apostar em implementar uma política de proximidade com a população e em promover a oferta habitacional para fixar pessoas na região. Ao final de dois anos e meio de mandato, já foram alcançados alguns dos objectivos delineados, embora ainda falte um ano e meio para a conclusão deste período de governação. O autarca pretende tornar Penela “num município mais amigo das famílias” e combater a desertificação.
Campeão das Províncias [CP]: Como está a ser este primeiro mandato?
Eduardo Santos [ES]: Tem sido um mandato extremamente desafiante por diversas razões. Primeiro, devido ao facto de ser uma entrada numa nova função, em que naturalmente existe um período de adaptação. Depois, por todas as contingências que temos vivido, desde a guerra na Ucrânia e os impactos que nos provocaram, nomeadamente o aumento dos preços. As transferências de competências também têm sido um desafio tremendo. E depois, naturalmente, algumas notícias menos boas, não é? Tivemos uma redução das transferências correntes do Estado e isso também foi algo mais ou menos inesperado, mas que nos criou algumas dificuldades acrescidas. Ainda assim, eu diria que estamos no bom caminho. Temos uma estratégia perfeitamente definida para o nosso concelho e estamos a trilhar os passos necessários para a concretizar.
[CP]: Como correu a Feira Medieval?
[ES]: A Feira Medieval é um evento co-organizado pelo Município, pelo Agrupamento de Escolas Infante Dom Pedro I, e pela Associação de Pais. É um tipo de evento que eu, pessoalmente, gosto muito de organizar porque envolve a sociedade civil. Foi mais uma vez um grande sucesso e tivemos uma afluência tremenda, ultrapassando em muito as nossas expectativas. No fim-de-semana, seguramente tivemos cerca de 10 mil pessoas a visitar a Feira nos dois dias. A nossa expectativa inicial era de cerca de cinco mil, portanto, ultrapassámos largamente as previsões.
O Castelo ficou substancialmente melhorado com a obra de requalificação da envolvente, que tivemos a felicidade de inaugurar no dia 25 de Abril. Foram criados passadiços na envolvente do Castelo, permitindo passear à volta deste. Foi muito bom ver o Castelo cheio. Sabemos também que a envolvente, sobretudo a grande obra que estamos a realizar na requalificação da Praça do Município e do estacionamento, cria um conjunto de constrangimentos. Esperamos que, no final do Verão, a obra esteja concluída. O novo parque de estacionamento será disponibilizado numa primeira fase e, depois, a obra ficará concluída seguramente durante este ano.
[CP]: Penela tem também apostado nos Festivais Gastronómicos, nomeadamente com a Semana Gastronómica da Caça e a Quinzena da Chanfana.
[ES]: Esses eventos têm como objectivo promover a visitação e a nossa gastronomia. Estamos a uma hora e meia dos dois principais aeroportos do país e a cerca de 15 minutos de Coimbra, pela A13. Com as novas infra-estruturas e a redução de 65% no preço das portagens na A13, desde 1 de Janeiro, ir a Penela custa menos do que um café, cerca de 70 cêntimos. Territórios de baixa densidade populacional, como o nosso, necessitam deste tipo de iniciativas e apoio. Temos consciência de que a redução das portagens tem um impacto significativo no orçamento de Estado, mas é fundamental numa lógica de coesão.
[CP]: O Turismo é outra aposta da Câmara?
[ES]: O turismo tem um impacto muito significativo no nosso município. Actualmente, temos várias unidades hoteleiras em funcionamento e outras em licenciamento. Destacam-se dois novos projectos: um hotel de 4 estrelas superior, que complementará a oferta existente e que ficará localizado no Palácio da Boiça, um imóvel de interesse público municipal localizado na Boiça, próximo da A13. Este edifício está a ser requalificado e esperamos que o promotor consiga concluir o projecto, que é considerado estruturante para a região.
Além disso, temos um novo empreendimento, que oferecerá um conceito de bangalôs, espaços para autocaravanas, campismo e mini golfe. Estes projectos não são concorrentes, mas sim complementares, integrando-se em segmentos diferentes e atraindo um público mais vasto.
[CP]: E o que se passa em termos culturais?
[ES]: Estamos a preparar um programa chamado “A Cultura Vai à Rua”, que é uma oferta cultural descentralizada pelas vilas, aldeias e lugares mais recônditos. O objectivo é levar a cultura às pessoas em vez de trazer as pessoas à cultura, reconhecendo que há quem não se desloque para este tipo de eventos.
Temos a Bienal do Humor, com a participação de artistas de todo o mundo. No ano passado, tivemos cerca de 80 países representados. Esta é a 11.ª Bienal, organizada pelo Município e pela Casa Oliveira Guimarães, que tem desempenhado um papel fundamental na oferta cultural do nosso concelho.
Em termos culturais, além da Bienal, fazemos a Feira do Livro e temos vários eventos ao longo do ano. O ponto alto são as Festas de São Miguel. Como penelense de gema, recordo-me de que as Festas de São Miguel eram um grande momento de reencontro da família espalhada pelo país e pelo mundo. Este ano, vamos continuar com a mesma lógica, reavivando esse sentimento de união. As Festas de São Miguel serão em Setembro, culminando no dia 29, que é um domingo. As festividades decorrerão desde sexta-feira e incluirão a promoção dos nossos produtos endógenos e do tecido empresarial local, além de concertos de entrada livre. Prevemos uma grande afluência este ano.
[CP]: Como está Penela de tecido empresarial?
[ES]: Temos um tecido empresarial fantástico. Ganhámos o prémio de Região Empreendedora Europeia 2023, o que valida o nosso caminho. Recentemente ampliámos o edifício da incubadora e desafiamos os interessados a procurarem-nos, pois temos um espaço moderno e funcional, gerido pelo IPN, que tem dado um apoio fundamental às empresas. Além disso, inaugurámos a segunda fase do HIESE e temos espaços disponíveis para novas empresas. Na nova zona industrial da Louriceira, superámos atrasos e estamos a agendar escrituras para que as primeiras empresas de construção civil iniciem as obras em breve. Também estamos a trabalhar na ampliação da zona industrial de Penela devido à alta procura.
A atractividade de um território depende de um ecossistema robusto, que inclui a habitação. Estamos a candidatar cerca de 9 milhões de euros em habitação de custos controlados para arrendamento acessível, o que é imprescindível para o sucesso do nosso município. Muitas pessoas que trabalham em Penela residem em concelhos vizinhos por falta de habitação local. Queremos reter os jovens e atrair população, completando o ecossistema de apoio às empresas. Se houver habitação disponível, será mais fácil atrair novos trabalhadores, ajudando a combater a perda de população.
[CP]: Penela é um concelho com uma população muito envelhecida. Que outras estratégias, para além da habitação, estão a ser implementadas para inverter esta tendência?
[ES]: A parte habitacional é absolutamente determinante. Neste momento, fizemos cinco candidaturas. Temos duas aprovadas, uma para a construção de um edifício de 18 apartamentos no bairro de São Jorge, junto à Piscina Municipal, e a segunda foi aprovada na passada sexta-feira. Portanto, o primeiro projecto é de cerca de 2,9 milhões euros e o segundo é de 1 milhão e qualquer coisa, sendo que são 2 edifícios. Por outro lado, também é nosso objectivo aproveitar as candidaturas do PRR, ajustando-as à nossa estratégia global e à nossa visão para o nosso município.
Além das obras que temos em curso, temos também 9 milhões de euros para habitação a custos controlados. Temos, ainda, um conjunto de candidaturas para a Bolsa Nacional de Alojamento Urgente e Temporário. Portanto, estamos também a falar de habitação, embora com outros propósitos.
[CP]: No tempo que falta para terminar este mandato, o que tem ainda para fazer ou lançar?
[ES]:Temos um rumo bem definido. Temos uma estratégia e uma visão para o nosso território, e naturalmente faremos tudo para concretizar no mais curto espaço de tempo possível.
[CP]: Vai recandidatar-se?
[ES]: Ainda é cedo para ter essa resposta. Naturalmente, essa é uma situação que vamos avaliar na devida altura, com muita seriedade, fazendo um balanço dos nossos compromissos eleitorais e uma auto-avaliação. Assumimos um compromisso e, como se costuma dizer, compromisso é dívida, por isso, estamos a trabalhar diariamente para os cumprir.
Entrevista: Luís Santos/ Joana Alvim
Publicada na edição do “Campeão” em papel de quinta-feira, dia 6 de Junho de 2024