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10 Junho: Bispo de Coimbra diz que país precisa de pacto para com a fraternidade

9 de Junho 2024 Jornal Campeão: 10 Junho: Bispo de Coimbra diz que país precisa de pacto para com a fraternidade

O bispo da Diocese de Coimbra diz que o país precisa de firmar um pacto de “fidelidade para com a fraternidade” e defendeu que não se pode ficar refém do passado ao referir-se aos incêndios de 2017.

“Neste lugar, marcado pelos acontecimentos de 2017, quando procuramos a solidariedade com estas gentes, sentimos os fortes apelos da fraternidade universal, como porta de esperança para todos. Este país que somos, e que celebra a sua existência histórica como uma realidade feliz, precisa de firmar este pacto de fidelidade para com a fraternidade, a porta do amor e da esperança que não exclui ninguém”, afirmou Virgílio Antunes, na missa dedicada às vítimas dos incêndios, este domingo na Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos (Leiria).

Na celebração religiosa, integrada no programa oficial das comemorações do Dia de Portugal, perante dezenas de fiéis e na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, de autarcas e de outras entidades civis e militares, o prelado reconheceu que “a memória dos acontecimentos trágicos de Junho de 2017 não pode apagar-se dentro de cada pessoa que viu o fogo avançar sobre os bens, sobre as casas e sobre as pessoas”.

“Os anos passam, os acontecimentos ficam cada vez mais distantes no tempo, mas o coração esse continua sempre apertado, sobretudo pela falta das pessoas (…). Embora não possamos cancelar o passado, sabemos que não podemos ficar reféns desse mesmo passado e que a vida continua”, prosseguiu o prelado.

O bispo de Coimbra referiu que, neste dia, “todos, pessoalmente e enquanto povo”, querem “ser uma presença de fraternidade, de solidariedade e de esperança uns para os outros”, mas especialmente para aqueles que “continuam a sentir as marcas dolorosas da catástrofe que se abateu sobre esta região” e sobre o país nesse ano.

Virgílio Antunes agradeceu a Marcelo Rebelo de Sousa a iniciativa de “convocar a sociedade portuguesa a voltar-se” para esta região, “procurando, assim, por meio de gestos carregados de significado humano e cristão, ajudá-las a dar mais um passo no sentido de um futuro feliz”.

“De facto, não há nada no mundo que possa justificar o desânimo, muito menos o desespero, porque mesmo nas situações limite, é sempre possível abrir portas de esperança”, realçou na homilia Virgílio Antunes, considerando que “uma pessoa, uma comunidade ou a humanidade em geral entram em falência e ruína quando desistem de viver a esperança, de construir a esperança”.

Nesse sentido, defendeu: “Precisamos de perguntar-nos se o nosso pensamento e a nossa ação promovem, efetivamente, a vida e a esperança de todos”, incluindo dos mais excluídos e dos mais pobres.

Afirmando que “as celebrações do Dia de Portugal nestas terras profundamente provadas pela história recente fazem ecoar aos ouvidos de toda a comunidade o grito de Deus, preocupado com a situação de cada um dos seus filhos e traduzido pelo livro bíblico do Génesis na pergunta ‘onde estás?’”, o bispo acrescentou que a este “tem de juntar-se” o grito de cidadãos, “com perspetivas porventura diversas e responsabilidades diferentes, mas unidos na solicitude pelo bem e pela dignidade de todos”.

A missa, onde estiveram presentes vítimas e familiares de vítimas dos fogos, foi concelebrada, entre outros, pelo Patriarca de Lisboa, Rui Valério, e os párocos de Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, Geraldo Mário e Armando Duarte.

As comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, centram-se este ano em Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande, concelhos fustigados pelos incêndios de junho de 2017, de que resultaram 66 mortos e 253 feridos. Estes fogos destruíram também cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

No mesmo ano, em Outubro, na região Centro, os incêndios provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.