Este texto não visa qualquer manifestação de apreciação ou depreciação de pessoas nem de partidos políticos. Trata-se apenas de uma constatação em forma de opinião, sobre um assunto que me despertou a curiosidade e sobre o qual não tenho qualquer competência técnica, pelo que não vou apreciar ou depreciar qualquer das propostas apresentadas.
Vem esta situação a propósito do Plano de Emergência e Transformação da Saúde. Após ter ouvido incessantemente nos órgãos de comunicação social a opinião da classe política sobre o documento, tive a curiosidade de procurar o mesmo e de o ler. Fiz o que, talvez, a grande maioria dos políticos não teve a honestidade de fazer, para depois vir expressar a opinião sobre o mérito da proposta.
Como referi anteriormente, vou-me escusar de emitir opinião sobre cada uma das medidas e o seu impacto, dado que deve ser feito pelos especialistas da área e sobretudo pelos profissionais que terão de executar aquele plano.
Mas há uma coisa que salta à vista: pela primeira vez, num plano desta natureza, são implementadas medidas cujo impacto vai ser medido, tem indicadores de (in)sucesso mensuráveis e é plenamente assumido que os gestores têm autonomia e responsabilidade dos actos de gestão que irão praticar. E mais importante que tudo isto: poderão ser responsabilizados pela sua gestão e pelos resultados.
Não me esqueço que estamos a falar de pessoas e das suas necessidades e por isso não se pode falar só de números. Mas é muito importante que quem toma decisões, possa ter a autoridade e autonomia para o fazer e responder por elas.
Outra situação que também não me esqueço, o que pelos vistos não acontece com a classe política, é que este plano não é nenhuma refundação do Serviço Nacional de Saúde nem vem resolver os problemas graves que este exibe. É tão só uma proposta para mitigar as enormes falhas no SNS e na forma como tem sido gerido nos últimos anos.
Vai continuar a ser difícil de aceitar que um qualquer cidadão, por ter escolhido Viseu para viver, o que só revela inteligência pela inequívoca qualidade de vida que pode desfrutar, tenha que efectuar mais de 90 km por uma inacreditável estrada que é classificada num nível 2 de importância o Plano Nacional de Infraestruturas Rodoviárias e que deveria corresponder a um nível de conforto muito bom mas que é uma via do terceiro mundo, para se deslocar a uma urgência pediátrica. Não é possível! Nunca aceitaremos uma situação destas, seja lá o governo de que cor ou religião for. É inadmissível.
Sem ler e estudar
O que também é indiscutível, é o nível a que a classe política chegou no nosso país, que na ânsia de falar mal de tudo o que é feito, não aproveitam para ler e estudar os dossiers, de forma que quando são chamados a pronunciar-se sobre uma qualquer proposta, não façam com sentido de responsabilidade que a sua eleição pelo povo exige. Seja qual for a orientação política que tenham. Têm de trabalhar muito mais para poderem ter opinião fundamentada sobre os assuntos. Ter uma quantidade imensa de assessores, não pode servir de desculpa para fazer uma análise enviesada dos assuntos e muito menos menorizar propostas, que são muito mais que um power point.
A forma de fazer política diz muito do caracter e da capacidade de quem exerce esses cargos e o povo saberá sempre separar o trigo do joio.
Exige-se muito mais, a quem frequentemente nos pede confiança para nos representar nos vários palcos de decisão da nossa vida real. Todos agradecemos e eles devem isso a si próprios, sob pena de assistirmos à escalada daquilo que todos os dias nos tentam dizer que não é bom. A responsabilidade maior é sobretudo de quem não tem manifestado capacidade para ser sério e motivar o povo para as causas públicas. Com excepção do 25 de Abril e algumas vezes no desporto, raras vezes nos unimos em causas nacionais e isso é responsabilidade desta classe política anémica e sem capacidade de se regenerar.
(*) Doutorando e investigador