Álvaro Coimbra é o actual presidente da Câmara Municipal de Penacova. Estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e na Escola Superior de Jornalismo, no Porto. Vencedor de vários prémios de jornalismo, entre eles, do ACIDI– Alto Comissariado da Imigração e Diálogo Intercultural e o prémio de jornalismo do Comité Paralímpico de Portugal, destacando-se uma reportagem sobre o atleta penacovense António Marques. Em 2021, Álvaro Coimbra foi eleito presidente da Câmara de Penacova pelo PSD, vencendo Pedro Coimbra, o candidato socialista, e pondo fim a um ciclo de 12 anos de governação do PS sob a presidência de Humberto Oliveira.
Campeão das Províncias [CP]: Como se sente um jornalista – habituado a questionar, a informar – agora como presidente de Câmara, sendo o próprio objecto das notícias?
Álvaro Coimbra [AC]: Todos sabemos como é a vida jornalística. É correr atrás do relógio, no meu caso particular na rádio e televisão, onde trabalhei, e portanto muito focado no tempo, com os segundos contados. Há sempre aquela pressão de fazer as coisas a tempo para os noticiários, para as reportagens e para os directos. Isto comporta algum stress.
O papel de autarca foi uma experiência nova para mim e também muito absorvente. Estamos disponíveis 24 horas por dia, especialmente devido à proximidade que os autarcas têm das populações, e resolvemos um número enorme e diversificado de problemas que surgem diariamente. É evidente que isto não se consegue sem uma equipa de trabalho multidisciplinar. Foram precisas algumas semanas de adaptação à “máquina”, por assim dizer, mas agora tudo rola à velocidade cruzeiro. Incorporei a figura de autarca e encaro isto com um espírito de missão, sem deixar de ser, obviamente, jornalista. Fiz apenas uma pausa na carreira e espero um dia poder voltar a exercer, pois é uma actividade apaixonante.
[CP]: Tem sido um presidente muito animado, com a promoção de muitas e variadas iniciativas gastronómicas e culturais.
[AC]: Os eventos fazem parte da actividade de um município, sendo essenciais para a promoção do território. Um exemplo é o “Sabores do Rio”, que veio em parte substituir o Festival da Lampreia. A decisão de não realizar o Festival da Lampreia foi tomada devido à necessidade de preservação da espécie, que está em declínio devido à pesca ilegal, operações, por vezes, mal pensadas nos leitos dos rios, obstáculos, tais como açudes, etc. Decidimos organizar um colóquio, que reuniu especialistas de todo o país, colocámos o assunto na agenda da Comunidade Intermunicipal e agora esperamos que a tutela tome medidas.
Temos apostado em eventos diferentes dos que faziam. São disso exemplo, a mostra nacional de doçaria conventual e bienal de música, no mosteiro de Lorvão, o festival de street food, o “Aldeia em Festa” que, pelo terceiro ano, está a percorrer as aldeias do concelho com espectáculos e um mercadinho onde os produtores locais são convidados a participar. O festival Artes de Rua é uma estreia e tem por base uma ideia simples: colocar os artistas de rua que habitualmente actuam nas avenidas das grandes cidades, a mostrarem os seus talentos nas ruas do centro histórico de Penacova.
[CP]: No turismo, Penacova está a aproveitar as maravilhas que a natureza deu?
[AC]: Sem dúvida, temos duas praias com bandeira azul, Vimieiro e Reconquinho, que no ano passado foram escolhidas pelo público como as duas melhores praias fluviais do interior do país. Estamos a pensar numa terceira, Cornicovo, que fica na União de Freguesias de São Pedro de Alva e Paradela. As obras já estão a decorrer, há um período que temos de cumprir de análises à água, que também está em curso, e, se as coisas correrem bem como até agora, em 2025 teremos a praia a funcionar. Portanto, temos de aproveitar a nossa beleza natural para darmos um impulso ao turismo, que acho que tem obtido bons resultados. As nossas dormidas subiram mais de 50% no Verão passado em relação aos anteriores. Temos mais de 50 alojamentos locais. Conseguimos chamar a atenção de um grande grupo hoteleiro, o grupo Vila Galé que adquiriu o antigo hotel que estava moribundo há catorze anos. Julgo que isto não é obra do acaso. É o resultado do esforço que temos feito neste sector e na promoção de Penacova.
Juntando tudo isto, achamos que Penacova é um destino turístico que mais cedo ou mais tarde vai chamar ainda mais a atenção. Para além do Grupo Vila Galé, há um outro projecto hoteleiro, através do programa Revive, projectado para o Mosteiro de Lorvão.
[CP]: Penacova aliou-se aos municípios da Mealhada e Mortágua, na Rota do Bussaco.
[AC]: A marca “Mondego Bussaco” pretende unir o melhor que estes três municípios têm para oferecer: natureza, património e gastronomia e vinhos. Esta marca foi criada há poucos meses e apresentada na Bolsa de Turismo de Lisboa. Actualmente, estamos a divulgá-la junto dos operadores locais, pois sem a sua colaboração é impossível promover o nosso território.
Vamos avançar agora para uma acção promocional nos motores de busca e no universo da Internet. Já conseguimos chamar a atenção da Organização Mundial de Turismo, que considera o nosso projecto interessante, pois promove um território abrangendo três municípios.
Temos três grandes eventos programados para este ano. Uma grande recriação histórica em Setembro, por ocasião das comemorações da batalha do Bussaco, que envolverá cerca de 200 figurantes. Teremos também o Rally Legends, que já realizámos por duas vezes e vamos repetir este ano. Além disso, vamos estrear uma nova prova este ano, o Swimrun, uma nova modalidade que está a surgir em Portugal e que combina natação e corrida.
[CP]: A Associação Comercial e Industrial da Bairrada e Aguieira passou a ter uma delegação em Penacova.
[AC]: Já éramos associados da ACIBA, mas considerámos que a presença física da associação no território era importante para que o seu impacto fosse mais efectivo. Disponibilizámos instalações para que a ACIBA possa desenvolver o seu trabalho e acreditamos que será muito importante para o nosso tecido empresarial e o nosso comércio local. Logo no dia de abertura foi realizada uma primeira sessão de esclarecimento sobre legislação do trabalho e estão previstas outras, nomeadamente sobre o novo quadro comunitário.
[CP]: A APIN cessou a prestação de serviços no concelho de Penacova.
[AC]: Enquanto Penacova esteve na APIN, a operação no terreno nunca deixou de ser feita pelos serviços municipais, refiro-me à recolha de resíduos sólidos urbanos, à manutenção da rede de água, instalação de ramais, rupturas, limpeza de fossas, etc. Foi sempre tudo feito por nós. A APIN facturava e encaixava a receita. Agora estamos a iniciar a operação totalmente gerida por nós e, em breve, os clientes receberão em casa a primeira factura emitida já pelo município com um tarifário ligeiramente mais baixo. Julgo que a restrição de acesso a fundos comunitários para municípios não agregados é injusta e limitadora. É bom não esquecer que, segundo dados da ANMP, mais de 70% dos municípios portugueses têm gestão própria. O que realmente interessa é a eficiência e sustentabilidade dos sistemas sejam uma agregação ou dos municípios isoladamente.
[CP]: E como estamos de projectos de investimentos no concelho de Penacova?
[AC]: Temos vários investimentos em curso, ou em vias de, principalmente através do PRR, apesar dos conhecidos atrasos na sua execução. Exemplo do que acabei de dizer, é o concurso para a reabilitação do Centro de Saúde que esperou um ano pela aprovação da candidatura e ainda o projecto de reabilitação da Escola Secundária de Penacova que aguarda aprovação da candidatura desde Julho do ano passado. Além desses projectos, estamos a finalizar o processo de candidatura da obra de requalificação do espaço público, mais em concreto do acesso principal a Penacova, com os preparativos para o lançamento do concurso de empreitada de saneamento na freguesia de Figueira de Lorvão e a requalificação de, pelo menos, mais duas estradas.
[CP]: O que espera concretizar ou lançar até final deste 1.º mandato?
[AC]: Além dos que já mencionei, há um pacote de obras relacionadas com a habitação a custos acessíveis, com financiamento PRR, que se traduz na construção de um edifício de apartamentos em Penacova e a conversão de antigas escolas primárias também para habitação. Na área empresarial, o lançamento do centro de negócios na antiga escola primária de Figueira de Lorvão, no turismo, a candidatura já apresentada para a valorização dos penedos da Carvoeira e a reabilitação do parque de campismo de Vila Nova, equipamento concessionado a uma empresa francesa já a funcionar, embora, em fase experimental. No património, a abertura do Centro Interpretativo do Palito, em Lorvão, já este Verão. Espero que algumas delas sejam lançadas ou iniciadas até ao final do mandato.
[CP]: Não há uma sem duas, e duas sem três! Aplica-se a si, perspectivando para já 2025?
[AC]: É claro que em quatro anos é impossível materializar a estratégia de desenvolvimento que preconizámos para Penacova. Os processos são muito morosos, o código de contratação pública tem inúmeras etapas, os projectos e as candidaturas demoram eternidades, mas é uma realidade à qual não podemos fugir. É claro que a vontade é continuar o trabalho iniciado em 2021, mas a minha decisão dependerá do grau de concretização das tarefas a que a minha se propôs e da vontade e do apoio dos penacovenses.
Entrevista: Luís Santos/ Joana Alvim
Publicada na edição do “Campeão” em papel de quinta-feira, dia 23 de Maio de 2024