A vida humana tem igual valor, seja branco ou negro, católico ou islâmico, direita ou esquerda, assalariado ou patronal, braçal ou literato, estudante ou rural, analfabeto ou doutor, europeu ou africano, asiático ou americano, campeão ou último lugar, protagonista ou secundário, esbelto ou desengonçado, bonito ou horripilante, virtuoso ou libertino.
As qualidades medem-se pela sensibilidade individual para o bem, pela agregação familiar pela união e estabilidade, pela função social em generosidade e préstimo, pela contribuição para a sociedade e sua evolução, mas nada proíbe a raiz do pensamento, nem permite diferenciar o valor da vida, pelas características de cada um.
Na sequência da guerra israelo-palestiniana, a 7 de Outubro de 2023, uma das facções políticas de palestinianos, representada pelo movimento Hamas, chacinou 1.700 israelitas e tomou centenas de reféns, a que se seguiu (e segue) o massacre de 35.000 palestinianos pelas forças israelitas (incluindo milhares de crianças e morticínio em crescendo), em retaliação, sem regras, sem pudor, sem atribuição de valor à vida (dos outros).
Israel, que conseguiu a terra prometida, após ser sujeita à matança pelos nazis alemães, desalojou os palestinianos e não permite a criação de um Estado da Palestina, já aprovado nas Nações Unidas.
Marginalizou um povo que ficou sem terra, não tem Estado, e está sujeito a deambular de norte para sul e de sul para norte na faixa de Gaza, fugindo da destruição maciça das suas casas e bens pelos israelitas, ocupando ainda a Cisjordânia, criando colonatos, aprisionando famílias, matando seres humanos, por um regime israelita de extrema-direita.
Na geopolítica da guerra, as forças ocidentais e os EUA permitem um verdadeiro genocídio perpetrado pelos israelitas, de forma sanguinária, sem respeito pelas leis internacionais que protegem (ou deviam proteger) da luta armada, os civis, as mulheres e as crianças.
Juventude despertou
Ver crianças vítimas de mal-nutrição e morrendo de fome, em pleno século XXI, é a negação da Humanidade, a vitória do apocalipse, a barbárie instalada, provocada pelos israelitas, com a complacência do Ocidente, o que gera aversão a quem permite a destruição de casas, hospitais e culturas, e gera ódio de quem sofre a morte da sua família, como qualquer família.
A juventude ocidental despertou para as atrocidades praticadas no Médio Oriente, com manifestações e irritação crescente, perante a bestialidade da morte de 12.300 crianças sem culpa formada, de mulheres que apenas querem pão para os seus filhos, de civis estropiados e exauridos, de trabalhadores humanitários mortos sem dó nem piedade (92 em Outubro/Novembro), de 97 jornalistas que só queriam exercer a sua profissão.
Nas universidades dos Estados Unidos e na Europa Ocidental sucedem-se as manifestações pró-palestinianas, demonstrando que a juventude, tal como aconteceu no Maio 68 em França e na crise académica de Coimbra em 69, não ignoram o valor da vida humana e as perversões da Humanidade, demonstrando a sua revolta, capacidade de luta e sentimentos solidários por quem sofre.
Como é possível aos senhores do mundo, em pleno século XXI, assistir à morte em directo na faixa de Gaza e permanecer impassível, dividindo humanos e sub-humanos, numa área que mais parece um território de hecatombe, pejado de mortos e mortos-vivos?
O povo, seja israelita seja palestiniano, vai-se destruindo, acicatado pelo ódio dos dirigentes que apenas zelam pela sua sobrevivência e pelo bem-estar manchado de sangue dos adversários e dos correligionários, enquanto o mundo dito civilizado assiste ou contribui com armas para a carnificina, considerando que a vida humana não tem igual valor, conforme seja israelita ou palestiniano.
(*) Médico