A recolha e a valorização das cápsulas de café

Assisti (online), no passado dia 3 de Maio, à inauguração de uma empresa localizada na Zona Industrial de Cantanhede, que se designa por BIO4PLAS e se apresenta como produtora de biopolímeros, biocompósitos e produtos inovadores no princípio da economia circular.

O que realmente foi inaugurado respeitou à linha de reciclagem de cápsulas de café, tendo sido apresentados vários produtos resultantes da valorização dos componentes das mesmas, designadamente o plástico, o alumínio e as borras. A cerimónia foi presidida pelo secretário de Estado do Ambiente, Emídio de Sousa, e teve a presença e intervenção da presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, Helena Teodósio,  que evidenciam a importância do momento.

Não posso, portanto, deixar passar esta oportunidade para, em primeiro lugar, parabenizar os empresários, em especial o meu conterrâneo e amigo José Manuel, pelo esforço e dedicação em prol do desenvolvimento empresarial, iniciado com a VENTIPLAST, e, consequentemente, em prol do desenvolvimento do tecido empresarial do concelho de Cantanhede e do progresso e elevação da qualidade de vida das pessoas que no mesmo habitam.

Em segundo lugar, apraz-me registar a referência que foi feita à INOVA-EM, que neste processo se envolveu de forma simples mas eficaz, ao iniciar a recolha separativa de cápsulas de café, no renovado Ecocentro, inaugurado em Fevereiro.2022, e no inovador Ecocentro Móvel, comprometendo-se a realizar o armazenamento pois a BIOPLAS não estava licenciada para o efeito, e assinando um protocolo de colaboração, em 2023, com a Associação Comercial e Industrial do Café, envolvendo 12 marcas de café, mas com o impulso da BIO4PLAS.

Ora, falar em economia circular é relativamente fácil, mas concretizar é isto: “pôr as mãos na massa”. Tornar realidade. E o processo é exigente, começando logo pela mudança de mentalidades. Porque é fácil colocar a cápsula de café no lixo. Logo, tem que se perceber quais são os ganhos ambientais, de sustentabilidade e circularidade, se colocarmos a cápsula de café separadamente permitindo a sua reciclagem. É que assim fazemos parte da cadeia de valor que tudo isto implica.

Nem sempre os impactos desejados, nos timings pretendidos, são os atingidos. Mas ainda assim, o Município de Cantanhede tem dado cartas nesta matéria do desenvolvimento, com resultados excelentes em matérias de proteção ambiental, com distinções nacionais que são a prova evidente dos mesmos.

Num município com 34.210 habitantes, assiste-se à produção anual aproximada de 15.500 toneladas de resíduos, ou seja, uma média anual aproximada de 450 kg de resíduos urbanos (lixo) por habitante, dos quais cerca de 25% são recolhidos para valorização e reciclagem. Em 2023 a INOVA recolheu 15.542 toneladas de resíduos. Estes valores têm vindo a aumentar, o que quer dizer que temos todos que fazer alguma coisa para atingirmos as metas que estão estabelecidas e que ainda estão muito longe.

O aparecimento de empresas criativas e ambiciosas como a BIO4PLAS, são incentivos enormes, que ajudam à necessária habilidade para a consciencialização das pessoas para o problema que temos que enfrentar, para a absoluta necessidade da separação dos resíduos e para os benefícios da mesma, mas mostrando-lhe resultados concretos.

Actualmente, a separação dos resíduos depende da consciência de cada um e das condições que são proporcionadas para o efeito. É preciso clarificar que não é indiferente separar ou não separar os resíduos urbanos. As pessoas têm que canalizar algum esforço para proteger, já, o ambiente e a natureza, e não para a futura recuperação, sabe-se lá a que custo.

(*) Ex-presidente da INOVA-EM de Cantanhede