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Em 54 anos perdemos 69% da população da vida selvagem

5 de Maio 2024 Jornal Campeão: Em 54 anos perdemos 69% da população da vida selvagem

A luta por um planeta em que as pessoas vivam em harmonia com a natureza é o que move a Associação Natureza Portugal (ANP). O projecto, fundado em Novembro de 2017, tem como propósito proteger os recursos naturais e a biodiversidade portuguesa, trabalhando em conjunto com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Oceanos, Florestas, Vida Selvagem, Alimentação, Água e Clima e Energia são as principais áreas de actuação abrangidas por esta parceria.

“Desde 1970 perdemos 69% das populações de vida selvagem e precisamos de agir já. Vivemos uma enorme crise ambiental, o tempo escasseia e é urgente agir agora para travar o aquecimento global para além do aumento de 1,5º, a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas”, alerta a directora-executiva da ANP, Ângela Morgado, em declarações ao Campeão das Províncias. Apesar de o mundo estar já a enfrentar consequências fruto das alterações climáticas, ainda há tempo para tornar o planeta mais sustentável.

“Devemos unir esforços – governos, organizações e indivíduos – para alterar a forma como usamos os recursos naturais e reduzir a nossa pressão sobre estes. Só com uma natureza próspera podemos prosperar como sociedade”, apela a responsável. Nesse sentido, defende que o caminho para alcançar a tão desejada harmonia entre ser humano e meio ambiente passa por uma “acção efectiva pelo restauro da natureza. É dela que extraímos todos os recursos que necessitamos para sobreviver”.

Mais de 30 projectos activos

Tendo na sua génese valores como o respeito, coragem, integridade e colaboração, a ANP actua em várias frentes. A associação conta com mais de 30 projectos de conservação activos, uma equipa multidisciplinar de 30 pessoas e uma base de apoiantes de mais de dois mil cidadãos. Entre as acções em curso estão, por exemplo, o restauro florestal à escala da paisagem em vários pontos do país, devolvendo água à natureza (“Plantar Água”), a educação de jovens através do “Jovens Líderes pelo Planeta”, ou o restauro da biodiversidade dos rios, promoção da alimentação responsável e da dieta sustentável através do “Eat4Change”, entre outros.

Ângela Morgado sublinha a importância deste tipo de iniciativas que têm contribuído para a “nossa colaboração em vários sectores da sociedade como governo, empresas, instituições e academia”, bem como o “aumento da nossa base social de apoio”. Em actividade há, sensivelmente, sete anos, a ANP tem alcançado resultados positivos na defesa do ambiente, em Portugal, tendo também vindo a crescer em termos de impacto na sociedade portuguesa.

“Nos últimos anos, conseguimos a instalação do 1.º Comité de Cogestão de uma pescaria, abrindo assim um precedente para todas as pescarias nacionais serem mais sustentáveis”, conta a directora-executiva. Além disso, “fomos a primeira associação da sociedade civil a remover com sucesso uma barreira fluvial; criámos um movimento para a capacitação de jovens ambientalistas; recuperámos mais de 400 hectares de terra ardida através da replantação de árvores e arbustos autóctones”.

O trabalho da associação não fica, no entanto, por aqui. A ANP também conseguiu criar o primeiro Observatório de Golfinhos do Tejo, que permite estudar os movimentos da espécie no estuário, e tem ainda vindo a desenvolver várias acções de sensibilização ambiental junto de mais de 3500 crianças e jovens. Conta, para isso, com o apoio de parcerias que a ajudam a “atingir uma natureza positiva em Portugal”.

Sociedade mais consciente

A responsável pela ANP não tem dúvidas de que, ao longo dos últimos anos, “têm sido dados passos importantes ao nível político, empresarial e científico”, assim como “ao nível da consciencialização dos cidadãos em geral”. Contudo, estes “não têm sido suficientes”. Deste modo, Ângela Morgado adverte para a necessidade de definir prioridades e encontrar o financiamento indispensável para o efeito, já que “não bastam as palavras, precisamos de agir”.

É, por isso, “essencial que se adoptem as medidas necessárias para que Portugal faça frente aos desafios ambientais globais, sem as quais não será possível o cumprimento dos compromissos internacionais assumidos, nem tampouco garantir um ecossistema e uma sociedade resilientes”, frisa. Ao que tudo indica, o país está a trilhar esse caminho. Na opinião da responsável, há cada vez mais uma consciência colectiva para a urgência de cuidar da natureza e da sua sustentabilidade.

“Vários estudos recentes mostram a crescente consciencialização das pessoas em relação aos efeitos das alterações climáticas e a sua preocupação com o planeta e com os recursos naturais”, explica. Sublinha ainda que “cada vez mais, os cidadãos tomam consciência que as suas opções diárias fazem toda a diferença e podem ajudar, de facto, não só a salvar o planeta, como também a torná-lo num lugar mais agradável para se viver”. Esta ideia estende-se também às empresas e organizações que se esforçam por deixar uma marca “de responsabilidade ambiental”.

A ANP |WWF depende de donativos, de financiamento público e privado a projectos e de acordos de colaboração com empresas.

Cátia Barbosa (Jornalista do “Campeão” no Porto)

Publicado na edição em papel do Campeão das províncias de 1 de Maio de 2024