… porque os outros tiveram medo, mas tu não!
Quando o Movimento das Forças Armadas emitiu o 1.º comunicado, recomendava aos cidadãos que se mantivessem em casa, e aos médicos que se dirigissem aos hospitais, pelo risco de conflito armado e não aceitação da Revolução pelas forças do regime fascista.
Os médicos acederam ao pedido humanitário, mas a população, farta dos 48 anos de ditadura e ansiosa de liberdade, veio para a rua, vitoriando os capitães de Abril, procurando mais informações sobre os acontecimentos, dando azo aos seus sentimentos antifascistas.
A gigantesca mobilização das pessoas na rua, foi a prova que o 25 de Abril era razão para comemorar, envolvia todas as sensibilidades políticas e democráticas e todos aqueles que aderiram espontaneamente ao fim da opressão.
As manifestações, os comícios, as reuniões políticas, que até então eram clandestinas e sujeitas a prisão, sucediam-se vertiginosamente, mobilizando-se o povo e, por isso, institucionalizou-se o Dia 25 de Abril como Dia da Liberdade, causa maior que restituiu os direitos fundamentais e terminou com a guerra colonial.
Seguiu-se um período de convulsão política, entre intentonas e inventonas, com reajustamento das forças militares na construção da democracia, com golpes palacianos e divisões dos protagonistas em forças de esquerda moderada ou revolucionária, direita moderada ou radical.
A 28 Setembro 74 houve o golpe da chamada maioria silenciosa de direita, sob liderança do general Spínola, que tinha assumido o cargo de presidente da Junta de Salvação Nacional (cargo esse rejeitado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho, comandante operacional do 25 de Abril), e que depois criou o MDLP, responsável por atentados bombistas e assaltos a sedes de partidos da esquerda.
A 11 Março 75, ocorreu uma rebelião de uma facção militar que atacou o RALIS e resposta, entre acusações direita/esquerda, tendo por consequência o reforço da esquerda no poder e várias nacionalizações.
O “Verão Quente”
Seguiu-se o “Verão Quente”, período de fervor revolucionário que colocou em causa o direito de propriedade por razões de injustiça social, e motivou acção legislativa da esquerda e reacção extremada da direita com ataques a pessoas e bens identificados com a Revolução.
A 25 Novembro 75, novo golpe militar, em que o general Eanes (que agora definiu o 25 de Abril como “único”) foi o triunfador, em conjunto com a esquerda moderada pró-socialista do chamado “Documento dos Nove” (triunfo do qual a direita se apoderou), e com a derrota da esquerda radical.
A Revolução, que restaurou a democracia e a liberdade, acabou com o colonialismo, permitiu o desenvolvimento económico e dos direitos humanos, e teve o povo na rua a saudá-la, foi a 25 de Abril, e como tal foi comemorada.
Saúdo, ainda assim, por sentido democrático, a adesão da direita democrática à Revolução de Abril, que finalmente reconheceu, ao fim de 50 anos.
O 25 de Novembro foi uma acção militar de luta pelo poder, não teve intervenção popular e não tem a dignidade do 25 de Abril (que teve a força do povo).
… e em Coimbra
Infelizmente, a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril em Coimbra, para o executivo autárquico, foi centrada na pré-inauguração de um largo, com um autocarro desalinhado e abertura parcial de trânsito que nada resolve. Salvou-se a Assembleia Municipal Jovem, proposta pelos Cidadãos por Coimbra.
Na antevéspera do 25 de Abril, o executivo de Coimbra utilizou a figura de arrependido, quanto ao Rally de Portugal e a ter prescindido da classificativa superespecial que tinha desvalorizado (não foi uma questão financeira, assegura o chefe operacional do ACP). Para 2025, já não vai a tempo de retirar à Figueira da Foz a prova da qual prescindiu (o que o ACP já comprovou), e por isso, não pode integrá-la no seu calendário eleitoral autárquico.
Mas poderá sempre fazer inaugurações de múltiplos segmentos do MetroBus, quase dia a dia ou semana a semana, dada a sua extensão e as obras parcelares, tal como fez agora na Solum…
(*) Médico e vereador do PS na CM de Coimbra